Dummy
08.fevereiro.2004

Quando assisti a "Pães e Rosas" (Bread and Roses — 2001), não encontrei nele o Adrien Brody do filme "O Pianista" (The Pianist — 2002). Mesmo tratando de um tema tão difícil como a Segunda Guerra Mundial e a invasão da Varsóvia pelos alemães, além da restrição aos judeus poloneses pelos nazistas, "O Pianista" é poesia do começo ao fim, talvez por ter sido baseado nas memórias do pianista polonês Wladyslaw Szpilman, um sobrevivente, e por ter sido magnificamente interpretado por Brody.

"Pães e Rosas" é um filme fantástico sobre pessoas comuns tentando sobreviver, imigrantes que trabalham nos Estados Unidos sem que os seus direitos trabalhistas sejam respeitados. É nesta hora que o sindicato entra em cena, trazendo um Brody que apresenta aos imigrantes a opção de ir à luta, e as conseqüências disso geram os momentos mais tensos do filme, que gira em torno da personagem vivida por Pilar Padilla, quem o faz belamente. 

Tão fascinante quanto nestes dois filmes que tratam de temas tão difíceis, é a atuação de Brody no hilário "Dummy — Um Amor Diferente" (Dummy — 2002), uma mistura de comédia, drama e romance que nos prende do começo ao fim, levando-nos até mesmo a refletir sobre os nossos próprios embaraços.

A idéia de uma pessoa completamente desgostosa com a vida e desacreditada pela família que resolve ser ventríloquo já é interessante. Quando Steven, personagem vivido por Brody, vai a uma agência de empregos e se oferece como ventríloquo, conquistando a atendente que se transforma na paixão da sua vida, o filme se torna engraçado e apaixonante. 

A amizade entre Steven e a tresloucada da Fangora, uma punk líder de banda vivida por Milla Jojovich, nos faz achar que o impossível acontece e, em pouco tempo, o impossível se apresenta provável. Assim como Steven, Fangora não se encaixa no mundo convencional. E Jojovich construiu o personagem belamente. Ela que já foi a Joana D'Arc de Luc Besson, e enfrentou sérios questionamentos sobre o seu talento, prova, mais uma vez, que é ótima em papéis extravagantes, como aqueles que viveu nos filmes "O Quinto Elemento" (The Fifth Element — 1997) e "O Hotel de Um Milhão de Dólares" (The Million Dollar Hotel — 2001). E o que Fangora faz para conseguir tocar no casamento que a irmã de Steven está 'produzindo'... é bárbaro!

A relação entre Steven e o seu boneco é a mesma que muitos de nós temos com a vida. Tudo de sério, belo, honesto e que dá medo de dizer, quem diz é o boneco, como se através dele não fosse tolo dizer certas coisas, revelar certos segredos, como se ele, Steven, estivesse imune às conseqüências do que o boneco revelava. E Steven passa o filme todo brigando com ele mesmo através do seu inseparável amigo e, sem querer, se encontrando. 

Brody está fantástico em Dummy e divertidíssimo. Definitivamente, trata-se de um ator versátil e talentoso, capaz de desempenhar qualquer papel como se estivesse vivendo a sua própria vida.

Carla Dias
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