Este
é o labirinto de Creta. Este é o labirinto de Creta cujo centro foi o
Minotauro. Este é o labirinto de Creta cujo centro foi o Minotauro que Dante
imaginou como um touro com cabeça de homem e em cuja rede de pedra perderam-se
tantas gerações. Este é o labirinto de Creta cujo centro foi o Minotauro que
Dante imaginou como um touro com cabeça de homem e em cuja rede de pedra
perderam-se tantas gerações, como María Kodama e eu nos perdemos. Este é o
labirinto de Creta cujo centro foi o Minotauro que Dante imaginou como um touro
com cabeça de homem e em cuja rede de pedra perderam-se tantas gerações, como
María Kodama e eu nos perdemos naquela manhã e continuamos perdidos no tempo,
esse outro labirinto.
J.L. Borges – O Labirinto (Atlas, 1984)
De pedra que me cercam. Olvidado
Dos homens que antes fui; sigo pelo odiado
caminho de monótonas paredes
que é meu destino. Retas galerias
que se curvam em círculos secretos
depois de anos. Parapeitos
que gretou a usura dos dias.
No pálido pó tenho decifrado
rastros que temo. Chega-me pelo ar trazido
nas côncavas tardes um bramido
ou o eco de um bramido desolado.
Sei que na sombra há Outro, cuja sorte
É fatigar as longas soledades
e ansiar meu sangue e
devorar minha morte.
Buscamo-nos os dois. Quem dera
fosse este o último dia da espera.
J.L. Borges – O Labirinto
(Elogio da Sombra, 1969)
Ele é a fera. Touro que é um homem e
cuja estranha / Forma plural dá horror à maranha / De interminável pedra
entretecida. Ele – de estranha forma plural. De estranha morada plural.
Qual a imagem do Minotauro, senão a imagem
do Outro? O Minotauro é o Outro. Mas o que significa a “imagem do outro” ou sua
fabricação? Jorge Larrosa escreve: “Poderíamos dizer, para começar, que se
trata da imagem dos loucos feitas pelas pessoas com uso da razão que, afinal,
são as que definem o sentido da razão e da sem-razão; as imagens das crianças
feitas pelas pessoas adultas que são as que determinam o que é a maturidade e a
imaturidade; a imagem dos selvagens feita pelas pessoas civilizadas que são as
que definem o que é a civilização e a barbárie; a imagem dos estrangeiros feita
pelas pessoas nativas que são as que definem o que é ser ou não ser membro de
uma comunidade; a imagem dos delinqüentes feita pelas pessoas de bem que são as
que determinam o que é ser ou não ser uma pessoa dentro da lei; a imagem dos
marginalizados feita pelas pessoas integradas que são as que definem o que é ser
ou não ser uma pessoa corretamente socializada; a imagem dos deficientes feita
pelas pessoas normais que são as que definem o que é a normalidade e a
anormalidade.” (Larrosa, 1998: 7-8)
Mas, se o Minotauro é o Outro, pelos olhos de
quem o enxergamos? Passeando pela literatura, podemos encontrá-lo nas páginas e
encruzilhadas do tempo.
André Peyronie faz esse passeio:
“Literalmente, o Minotauro conhece, por conseguinte, duas grandes fases: uma da
encarnação do horror e outra da monstruosidade problemática. Na Antigüidade
greco-romana o homem-touro não constitui um tema literário autônomo:
inicialmente, ele é o monstro que foi morto por Teseu ou que foi concebido por
Pasífae. Sua monstruosidade é tão pouco questionável que, na Idade Média, tanto
pode expressar a figura do diabo, como a de um monstro entre outros muitos,
independentemente de seus antecedentes legendários. Na Renascença e na época
clássica, ele será reinscrito no mito grego, mas num papel que visa apenas a
destacar o de Teseu. Será a partir do século XIX que a besta infame, mas do que
só imaginar, fará sistematicamente pensar”. (Peyronie, 1998: 649-50) Isso é
visível em Nietzsche, que vê no Minotauro a imagem de um outro saber. “O
labirinto é o avesso do mundo, que a linguagem, ao simulá-lo, dissimula,
fechando o caminho que conduz à verdade original. Fundamentalmente, o movimento
do saber se dirige ao Minotauro e não à salvação pelo fio, que conduz para
fora. Nietzsche afirma ter uma ´particular curiosidade´ pelo labirinto, uma
vontade de ´travar conhecimento com o sr. Minotauro´; àqueles que esperam
salvar-se com a ajuda do fio, ele aconselha que se enforquem com ele”.
(Peyronie, 1998: 648)
A partir do século XX parece que muda a
perspectiva da imagem do Minotauro. Em Potomac de J. Cocteau – ele é
descoberto como belo; no texto Le point de vue du Minotaure (O ponto de
vista do Minotauro) de A. Fraigneau – além de sua beleza, a revelação de que o
Minotauro não passa de um reflexo de Teseu: “o Minotauro nada mais é do que uma
forma tomada por Teseu desde que entrara no labirinto”; em Qui n´a pas son
Minotaure? (Quem não tem seu Minotauro?) de M. Yourcenar – o Minotauro
torna-se a imagem de si mesmo que Teseu descobre ao descer no labirinto: “Teseu
não percebe que está no interior de si próprio e que as vozes familiares que
escuta são a expressão de muitas fraquezas e múltiplos egoísmos. Não sabe reconhecer em si mesmo o Minotauro. Depois
de vencida a prova, ele declara que a besta era invisível e que não há como
provar o combate.”; no Teseu de Kazantzakis – “quando as portas do
labirinto se abrem quem surge primeiro é Kouros, o Minotauro transformado num
homem maior, mais belo, mais impassível do que Teseu”; em Jorge Luis Borges o
Minotauro é quem tem a fala – no conto A casa de Astérion, o Minotauro descreve sua morada – o labirinto – enquanto
espera pelo dia de sua redenção: o
encontro com Teseu (Peyronie, 1998: 648-50); em Monteiro Lobato – O
Minotauro – se lambuza com os bolinhos de Tia Nastácia até dormir, tamanha
sua gulodice e obesidade.
Será que o Minotauro deixou de ser monstro
depois que comeu os bolinhos de Tia Nastácia? Será que ele não passa do reflexo
de Teseu – uma forma tomada pelo herói para explorar o labirinto? Ou seria o
Minotauro o próprio labirinto?
Por que seria o Minotauro um Outro? Por
sua condição de monstro ou por sua
estranha morada? O fato é que não haveria um labirinto sem a figura do
monstro. “A idéia de uma casa feita para que as pessoas se percam talvez seja
mais extravagante que a de um homem com cabeça de touro, mas as duas se ajudam
e a imagem do labirinto convém à imagem do minotauro. Fica bem que no centro de
uma casa monstruosa haja um habitante monstruoso.” (Borges/ O Caixote, 2001)
O monstro é o labirinto. O
labirinto é o monstro que pode devorar ou levar à redenção. Para tanto, é
preciso explorar um percurso cheio de dificuldades, passar por ritos
iniciáticos, por provas e vencer o
Minotauro para alcançar a glória. Mas nunca foi fácil vencer um monstro – guardião
de portais e de tesouros. Principalmente, quando esse tesouro pode ser o
próprio rito de passagem (a viagem) ou a experiência formativa. Quem entra num
labirinto, jamais sairá o mesmo. Se sair.
“O monstro – como revela
Chevalier – surge também da simbologia dos ritos de passagem: ele devora
o homem velho para que nasça o homem novo. O mundo que ele guarda e ao qual
introduz não é o mundo exterior dos tesouros fabulosos, mas o mundo interior do
espírito, ao qual não se tem acesso a não ser por meio de uma transformação
interior”. (Chevalier, 1992: 615) Noutras palavras, entrar no labirinto é uma
experiência de trans-formação; uma viagem cheia de peripécias e aventuras, tal
qual uma odisséia – repleta de complicações variadas e inesperadas. Uma viagem
entre bifurcações, simetrias e
encruzilhadas, onde o viajante nem sonha com o que vai encontrar pela
frente. Seu trajeto é tortuoso e incerto.
Jorge Larrosa desenvolve a
idéia da formação como uma viagem aberta: “Porque leva cada um até si mesmo, na
formação não se define antecipadamente o resultado. A idéia de formação não se
entende teleologicamente, em função de seu fim, em termos do estado final que
seria sua culminação. O processo da formação está pensado, melhor dizendo, como
uma aventura. E uma aventura é, justamente, uma viagem aberta em que pode
acontecer qualquer coisa, e na qual não se sabe se vai chegar, nem mesmo se vai
se chegar a algum lugar. De fato, a idéia de experiência, essa idéia que
implica um se voltar para si mesmo, uma relação interior com a matéria de
estudo, contém em alemão, a idéia de viagem. Experiência (Erfahrung) é,
justamente, o que se passa numa viagem (Fahren), o que acontece numa
viagem. E a experiência formativa seria, então, o que acontece numa viagem e
que tem a suficiente força como para que alguém se volte para si mesmo, para
que a viagem seja uma viagem interior”. (Larrosa, 1999: 52)
Uma viagem interior! Na
geografia e no tempo. Sendo assim, o monstro pode ser a imagem de um certo eu.
O Minotauro pode ser o Teseu. Teseu já era o Minotauro. No entanto, isso pode
não passar de uma divagação perigosa; procurando por respostas.
Entrar no labirinto não é,
definitivamente, entrar numa escola – onde o caminho da formação já está
traçado a priori, de maneira linear e cumulativa; em função de um fim
predeterminado. Entrar no labirinto é aventurar-se, perder-se num espaço de
educação plural que pode levar a pessoa a uma experiência de si mesmo
como Outro.
A partir disso, pode-se pensar: em que fase
encontra-se, hoje, o Minotauro? Na encarnação do horror ou na monstruosidade
problemática? Será que ele não passa de um monstro nas cartas de RPG? Ou ainda
serve como metáfora do conhecimento e imagem de um outro saber, como pensou
Nietzsche?
Imagens de um Outro saber. Mas que outro
saber é esse? Teria, o Minotauro, conhecimentos matemáticos, lingüísticos,
científicos? Que conhecimentos poderiam ser travados com o Sr. Minotauro? O que
ele aprendeu dentro de sua morada de interminável pedra entretecida, que
poderia ser útil na vida dos homens? O que poderia nos ensinar um prisioneiro
solitário – abandonado por sua mãe logo após seu nascimento? Nada! Mil vezes
nada – gritariam os educadores de plantão. O Minotauro é um ser sem educação,
sem civilização. O Minotauro é o Outro. E o outro nada tem a ensinar. Ao outro,
resta aprender: tornar-se educado e civilizado dentro dos padrões e esquemas
codificados de ler, perceber, viver no mundo. A supremacia da cultura sobre a
natureza, do homem sobre o animal, da razão sobre o sentimento, da linearidade
sobre a não-linearidade. Nessa perspectiva, o touro tem que se transformar em
homem, assim como a criança deve se transformar em um adulto maduro.
Imagens de um outro saber.
Sendo o Minotauro um Outro, o que seria o labirinto? O labirinto seria também
um Outro; espaço que deve ser evitado – por suas dificuldades, (lugar propício
ao erro, à confusão, ao perder-se) – em nome de uma suposta linearidade e de um
saber reto e seguro.
Imagens de um outro saber. O que teria um
homem meio touro – dentro de um labirinto – a nos ensinar? Nada! Mas, talvez,
tivesse a nos aprender. Além da cultura, a natureza; além do homem, o animal;
além do pensamento, o sentimento, a sensação; além da linearidade, a
não-linearidade. (O que interessa aqui, não é mais como se ensina as coisas,
mas como se aprende: maneiras de aprender e estar no mundo).
Não esqueça, o labirinto é sua casa. O
Minotauro não é professor; sua imagem é de um aprendiz. O Minotauro não é
arquiteto; sua imagem é de um viajante errante. Rosenstiehl, traça uma
diferença entre essa duas figuras: “Se o viajante errante experimenta uma
sensação de infinito no labirinto, o arquiteto conhece-o como finito. A sua
engenhosidade doseou o efeito de engano e o efeito de sedução nos amaranhados,
ramificações, desvios e regressos. O viajante é absorvido pela procura; e a
vertigem que lhe invadiu o espírito irá dissipar-se graças a uma exploração
mais profunda. O labirinto é humano.”( Rosenstiehl, 1988: 251)
O labirinto é lugar de educação para o
Minotauro – seu lugar de estudo. Jorge Larrosa descreve bem essa imagem: “O
labirinto é a figura que serve como o lugar do estudo. Mas não se trata, aqui,
do labor intus, circular e unívoco, aquele que não tem bifurcação - bivia
- e que tem apenas um caminho que leva inevitavelmente ao centro, do centro ao
último círculo, daí novamente ao centro e, assim, indefinidamente. O labirinto
que acolhe o estudante não tem um ponto central que seja o lugar do sentido, da
ordem, da claridade, da unidade, da apropriação e da reapropriação constante. O
dédalo que o estudante percorre, multívoco, prolífico e indefinido, é um espaço
de pluralização, uma máquina de desestabilização e dispersão, um aparelho que
desencadeia um movimento infinito de sem-sentido, de desordem, de obscuridade,
de expropriação. O estudante dispersa-se nos meandros de um labirinto e sem
periferia, sem marcas, indefinido, potencialmente infinito.” (Larrosa, 1999:
201)
O labirinto como lugar de estudo. Eis uma
metáfora instigante para pensar a figura do Minotauro como a imagem de um outro
saber. Um outro saber que vai além do lógico-matemático-lingüístico; que vai
além de uma interdisciplinaridade. Onde não há um ponto mais central e
fundamental do que qualquer outro. Um outro saber, cuja imagem poética,
encontra-se nos versos de Fernando Pessoa – “Mas isso (triste de nós que
trazemos a alma vestida), / isso exige um estudo profundo, / uma aprendizagem
do desaprender” – e no criançamento das palavras de Manoel de Barros – “Nos
fundos do quintal era muito riquíssimo o nosso dessaber”.
Dessaber! Desaprender! Quem
sabe, é chegado a hora de viajar com a vista desarmada, a alma nua e o corpo
errante. Adentrar-se no labirinto provido, não de espada ou de fio, mas de
vazios. O vazio como um silêncio – num sentido de escuta e atenção. O vazio
como um silêncio – num sentido de delicadeza para com a palavra. O vazio como
um silêncio – num sentido de escuta e de abertura para com o encontro e o
diálogo. O vazio como um despojamento, como escreve Larrosa: “O vazio é o
despojamento dos hábitos e dos rituais da existência, o desnudado dos modos
habituais de significação e de experiência. O que não está povoado, em suma,
pelos hábitos da história pessoal e coletiva”. (Larrosa, 2000: 58).
êéçèëìíîóôóíîìëèçéê
O labirinto como espaço
próprio para a exploração e para o caminhar. Território que desdobra-se numa
forma de olhar – com olhos e espírito de criança – o mundo. Por vezes, é
preciso um olhar distraído para enxergar as coisas ao redor. Um olhar de quem
vagabundeia. Um olhar de quem deriva. Um olhar de quem brinca. Um olhar de
criança que “cultiva as formas aparentemente irrelevantes”. Willi Bolle comenta
sobre esse cultivar na obra Contramão de Walter Benjamin: “As
formas ´aparentemente irrelevantes´ não merecem maior atenção do adulto,
envolvido pelas exigências da vida profissional; elas ficam abaixo do limiar de
sua percepção. Mas são uma parte essencial da cultura da criança.
Significativamente, um grupo de textos de Contramão que fala desse
universo é intitulado ´Ampliações´ - como se através desse prisma o adulto
fosse capaz de reencontrar-se com o pequeno mundo que há muito tempo deixou. Os
rituais das crianças prefiguram os dos adultos, como se pode ilustrar com
vários fragmentos do livro, focalizando, por exemplo, o ritual da viagem”.
(Bolle, 1994: 298)
Nesse ritual de viagem, a
criança tem acesso à linguagem primordial, não somente dos homens, mas também
dos pássaros e das árvores. Linguagem essa, que é abandonada pelos adultos
depois que crescem. Crescer, tornou-se assim, uma maneira codificada e fechada
de ver o mundo. E a viagem, que antes cultivava as formas aparentemente
irrelevantes, passa a ser uma viagem pedagogicamente tutelada, perdendo
a possibilidade de torná-la numa aventura de formação. E, para ser uma
aventura, a idéia de formação – como acontece hoje – precisa ser pensada em
outros movimentos, além desses que
conhecemos na escola ou seio da família; onde as crianças precisam ser
ensinadas dentro de esquemas pedagógicos para, só assim, se tornarem gente de
“verdade”. E por quê não pensar o avesso? Dar bunda-canastras no pensamento e
despertar com crianças, não só aprendendo, mas ensinando coisas para os
adultos, para seus professores, para seus pais, para elas mesmas. Seja em casa,
na escola, nos centros de culturas ou em qualquer outro lugar. E por quê não
pensar o encontro? Oficinas para adultos ministradas por crianças. Aulas de
“qualquer coisa” dadas por alunos para
seus professores. (Não é apresentação de trabalho nem atividade para nota).
Que essas possibilidades
possam ser vivenciadas, experimentadas em espaços múltiplos de educação e não
apenas palavras para compor um discurso pedagógico moderninho. Ou será que as
crianças têm que ver – para sempre – o mundo com os olhos dos adultos? Olhar
para aonde os dedos dos adultos indicam e apontam a direção? E os olhares da
infância, o que poderiam nos ensinar? O que poderiam nos aprender? Fernando
Pessoa escreveu essa sensação com a alma do poeta Alberto Caeiro (Pessoa, 1992:
210-12)
“A mim a criança ensinou-me
tudo.
Ensinou-me a olhar para as
coisas.
Aponta-me para todas as coisas
que há nas flores.
Mostra-me como as pedras são
engraçadas
Quando a gente as tem na mão
E olha devagar para elas.
(...)
E a criança tão humana que é
divina
É esta minha quotidiana vida
de poeta,
E é porque ele anda sempre
comigo que eu sou poeta sempre,
E que o meu mínimo olhar
Me enche de sensação,
E o mais pequeno som, seja o
que for,
Parece falar comigo.
A Criança Nova que habita onde
vivo
Dá-me uma mão a mim
E a outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo
caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo
comum
Que é o de saber por toda a
parte
Que não há mistérios no mundo
E que tudo vale a pena.
A Criança Eterna acompanha-me
sempre.
A direção do meu olhar é o seu
dedo apontando.
O meu ouvido atento
alegremente a todos os sons
São as cócegas que ele me faz,
brincando, nas orelhas.
Damo-nos tão bem um com o outro
Na companhia de tudo
Que nunca pensamos um no
outro,
Mas vivemos juntos e dois
Com um acordo íntimo
Como a mão direita e a
esquerda.
Ao anoitecer brincamos as
cinco pedrinhas
No degrau da porta de casa.
Graves como convém a um deus e
a um poeta,
E como se cada pedra
Fosse todo um universo
E fosse por isso um grande
perigo para ela
Deixá-la cair no chão.
(...)
Depois ele adormece e eu
deito-o
Levo-o ao colo para dentro de
casa
E deito-o, despindo-o
lentamente
E como seguindo um ritual
muito limpo
E todo materno até ele estar
nu.
Ele dorme dentro da minha alma
E às vezes acorda de noite
E brinca com os meus sonhos.
Vira uns de pernas para o ar,
Põe uns em cima dos outros
E bate as palmas sozinho
Sorrindo para o meu sono.
Quando eu morrer, filhinho,
Seja eu a criança, o mais
pequeno.
Pega-me tu ao colo
E leva-me para dentro da tua
casa.
Despe o meu ser cansado e
humano
E deita-me na tua cama.
E conta-me histórias, caso eu
acorde,
Para eu tornar a adormecer.
E dá-me sonhos teus para eu
brincar.
Até que nasça qualquer dia
Que tu sabes qual é.”
Ensina-me a olhar para as
coisas. A direção de meu olhar é seu dedo apontando. E que o meu mínimo olhar
me encha de sensação, e o mais pequeno som fale comigo. Dê-me uma mão a mim e a
outra a tudo que existe. E assim vamos os três pelo caminho que houver. Pelo
labirinto que houver. Mostra-me como as pedras são engraçadas e ensina-me a
olhar devagar para elas como se cada pedra fosse um universo.
O olhar da criança percebe
cada coisa como um universo. É um olhar distraído, despojado dos esquemas
pré-montados e fechados de ler as coisas ao redor. É um olhar de quem caminha
lendo as coisas enquanto a viagem se desdobra. Um caminhar que vê o mundo como
um livro que se abre em qualquer página. Tal qual o Livro de Areia,
(Borges, 1998: 80-1) que não tem princípio ou fim:
“Pediu-me que procurasse a
primeira folha.
Apoiei a mão esquerda sobre a
portada e abri com o dedo polegar quase pegado ao indicador. Tudo foi inútil:
sempre se interpunham várias folhas entre a portada e a mão. Era como se
brotassem do livro.
— Agora procure o final.
Também fracassei; mal consegui
balbuciar com uma voz que não era a minha:
— Isto não pode ser.
Sempre em voz baixa, o
vendedor de bíblias me disse:
— Não pode ser, mas é.
O número de páginas deste livro é exatamente infinito. Nenhuma é a primeira;
nenhuma, a última. Não sei por que estão numeradas desse modo arbitrário.
Talvez para dar a entender que os termos de uma série infinita admitem qualquer
número.
Depois, como se pensasse em
voz alta:
— Se o espaço é infinito,
estamos em qualquer ponto do espaço. Se o tempo é infinito, estamos em qualquer
ponto do tempo.”
Se pensarmos dessa maneira, o mundo é um
labirinto. No livro: “O número de páginas deste livro é exatamente infinito.
Nenhuma é a primeira; nenhuma, a última.”; No labirinto: Cada bifurcação gera
outra que desdobra-se em outras tantas. Cada corredor desemboca em outros
corredores. Não há um fim; No livro: “Se o espaço é infinito, estamos em
qualquer ponto do espaço. Se o tempo é infinito, estamos em qualquer ponto do
tempo.”; No labirinto: Não existe um ponto (galeria, corredor, encruzilhada,
bifurcação) que seja mais fundamental do que qualquer outro. Tudo está
interligado. Seu espaço-temporal de exploração é infinito.
Esse espaço-temporal infinito
é propício para as crianças. Quem sabe mais – do que qualquer outro ser –
viajar no tempo e no espaço? Na brincadeira, a criança perde a noção da hora e
o espaço deixa de ser aquilo que é. Na brincadeira, a criança perder-se. Sendo
assim, o labirinto é um espaço lúdico; um jogo e uma invenção que se desdobram
nesse perder-se infantil. Gagnebin descreve essa manifestação: “No limiar do
labirinto, a criança não manifesta medo; pelo contrário, o desejo de exploração
predomina como se soubesse, confusamente, que só poderá se reencontrar se ousar
perder-se”. (Gagnebin, 1994: 103)
Ousar perder-se! Qual a escola
que ousaria tanto? É sintomático em nossas escolas – mesmo com o modismo do
construtivismo – o medo de experimentar e a incapacidade de criar, inventar e
aventurar-se em situações educacionais diversas. No percurso educacional
escolar há um ponto central – lugar específico da ordem, do conteúdo, do
sentido – que o aluno deve seguir linearmente para poder torna-se um adulto
maduro e capaz de ter sucesso na vida profissional. Diferente de um espaço
educacional labiríntico, que possibilitaria um aventurar-se em espaços de
pluralização e significados múltiplos de um saber-ensino-aprendizagem
indefinido, que vão além, muito além, do saber e do espaço escolar. Tal qual o Livro
de Areia; tal qual uma brincadeira onde se perde a noção do espaço e do
tempo. Diferente das escolas, onde há
horas, ou melhor, minutos cronometrados para a criança brincar. Onde não se
pode perder tempo nem adentrar-se em qualquer outro labirinto.
êéçèëìíîóôóíîìëèçéê
Adentrar-se no labirinto! E o
Minotauro, estará lá? Seja como o outro (o monstro), seja como o eu
(o viajante), seja como a exploração (outro saber) ou seja como o próprio
percurso (o labirinto)?
Não existe uma resposta. Mas
há bifurcações. Quem sabe, com um Minotauro nos esperando. Como susto? Como
espelho? Como um perder-se? Como um encontrar-se? Como um começo? Como um fim?
Como um caminhar? Como uma exploração/investigação do conhecimento? Como uma
experiência de formação? Como um esperar sem fim?
Pensando com Nietzsche, “o
movimento do saber se dirige ao Minotauro e não à salvação pelo fio, que conduz
para fora”. Mas isso, também, não é uma reposta. Talvez, e apenas talvez, não
passe de uma inspiração, um trecho, uma bifurcação, uma variação de percurso.
Não esperes por nada nem pelo
monstro. A experiência com o labirinto é o caminhar. Ou, na prosa de
Guimarães Rosa – O que importa não é o início nem o fim, mas a travessia. O
andar.
A experiência com o labirinto
é a metáfora da viagem. É aventurar-se por entre corredores e encruzilhadas.
Portanto, a dimensão da experiência é a possibilidade do perder-se; é
“conhecer” o labirinto por dentro; é a idéia da formação não em função de seu
fim, mas como um processo ou uma aventura. Nesse percurso, caminhar é a mesma
coisa que se aventurar. Uma viagem movida pela fascinação ao desconhecido.
Ouça! Escutas os passos? Será
o Minotauro ou as batidas do coração do viajante? Não esperes por ele... não
esperes...
(...)
Não esperes que o rigor de teu caminho
Que teimosamente se bifurca em outro,
Que teimosamente se bifurca em outro,
Tenha fim.
J.L. Borges – Labirinto
(Elogio da Sombra, 1969)
O ano me tributa meu pasto
de homens
E na cisterna há água.
Em mim se estreitam os
caminhos de pedra.
De que posso queixar-me?
Nos entardeceres
Pesa-me um pouco a cabeça de
touro.
J.L.
Borges – Astérion (O Ouro dos Tigres, 1972)
Sou o Minotauro. Um touro quase-humano. Ou,
se você preferir; um humano quase-touro. Mas não penso muito sobre isso em
minhas caminhadas. Reflito, às vezes, sobre a condição de monstro a que fui
reduzido pelo mito. Uma aberração fabulosa que, de certa maneira, diverte-me um
pouco. Fabuloso monstro sou eu. Mas se sou monstro porque sou touro é porque
também sou humano. Essas divagações não são a minha distração predileta. O que
me distrai mesmo é a minha casa. Eu moro no labirinto. Esse “edifício
construído para confundir os homens” ao longo de sua existência. Morada
construída em Creta. Mas “nem em Cnossos nem nos livros existe o menor vestígio
de um labirinto concreto”. O que faz de minha morada um lugar múltiplo: o
labirinto tanto pode ser visível como invisível, tanto pode ser real como
imaginário; tanto pode ser universal como pessoal; tanto pode ser físico como
mental.
Vivo entre corredores e encruzilhadas.
Enganam-se aqueles que pensam que vivo sentado em um trono, bem no centro do
labirinto, esperando sete moças e sete rapazes para um banquete. Coitados! Uma
aventura de exploração em minha casa, e logo perceberão que não há um centro no
labirinto. Porque o seu centro é em qualquer lugar e em lugar nenhum. Todas
as partes da casa existem muitas vezes, qualquer lugar é outro lugar.
Muitos pensam que sou o prisioneiro da
arquitetura de Dédalo. Poucos imaginam que, – na verdade ou na fantasia – o
viajante perene do labirinto sou eu. Aquele que nunca o contemplou do alto –
como fez Dédalo com seu filho Ícaro, na ocasião da fuga – nem precisou do fio de Ariadne, como fez
Teseu. A minha experiência com o labirinto é o caminhar. O que importa não é
o início nem o fim, mas a travessia. O andar. Sou tomado por essa idéia
durante noites e dias, na vigília e nos sonhos. No entanto o labirinto nunca
está pronto. Ele se desdobra diante dos passos de quem o percorre.
O labirinto é a minha formação. Eu, que
nunca freqüentei uma escola, gosto de pensá-lo como o lugar próprio para o meu
estudo. Mas, ao contrário dos alunos da escola, não possuo um mapa, um livro
didático. Percorro o labirinto com a vista desarmada. Tal qual uma criança, os
meus olhos estão quase sempre distraídos. Os jogos e as brincadeiras que
invento servem de recreação com o tempo – “esse outro labirinto”. Desenho nas
paredes, dou bunda-canastras nos pensamentos, brinco de esconde-esconde pelos
corredores. Tudo por pura distração, sem nenhuma preocupação pedagógica ou
educativa. Apenas, exercícios de ser criança.
Quase sempre me encontro
perdido dentro de minha própria casa. Para espantar ou enganar a solidão, o meu
espírito é tomado pelo desejo de aventura e de exploração. O labirinto é assim,
como livros ou caminhos que possibilitam a viagem. Não uma viagem linear com um
único caminho que leva inevitavelmente a um centro pré-estabelecido. O
labirinto não é uma escola fundamentada numa obsessão pedagógica, onde primeiro
se estabelece um caminho reto, para depois ensinar/aprender a caminhar,
retamente, nesse caminho – que leva a um conhecimento seguro e moralmente
ideal.
A viagem é a própria
constituição da experiência na exploração – que se dá no percurso infindo – do
labirinto; que é, para mim, que moro nele, uma terra desabitada. Dispensa
qualquer tipo de esquemas de percepção codificados e prontos. Nele, faço
exercícios no vazio. Nele vou me constituindo.
Não haverá nunca uma porta. Estás dentro
E o alcácer abarca o universo
E não tem nem anverso nem reverso
Nem externo muro nem secreto centro.
Não esperes que o rigor de teu caminho
Que teimosamente se bifurca em outro,
Que teimosamente se bifurca em outro,
Tenha fim. É de ferro teu destino
Como teu juiz. Não aguardes a investida
Do touro que é um homem e cuja estranha
Forma plural dá horror à maranha
De interminável pedra entretecida.
Não existe. Nada esperes. Nem sequer
A fera, no negro entardecer.
J.L.
Borges – Labirinto (Elogio da Sombra, 1969)
O
Minotauro respondeu, com uma voz sonolenta:
— Não
há um centro em minha casa.
"
Outro
ano, um homem explorava o labirinto. Já estava ali há meses, mas não sentia
fome. Ele era tomado pelo desejo de exploração. Media todos os seus passos,
fazia cálculos e mais cálculos, marcava com um sinal (em forma de n) cada
encruzilhada que passava, como se estivesse indicado a leitura de um livro com
o marcador de página. Fazia isso metodicamente. Seu único medo era o de se
perder. O que o alimentava era a garantia da evasão, do retorno. Quando estava
ciente que faltava pouco para terminar sua exploração, encontrou o Minotauro
deslizando o dedo na letra n, encontrada numa encruzilhada que ele pensara
nunca ter posto os pés. O Minotauro olhou para o homem e disse num tom de
inocência:
— É infinita a minha morada.
O homem morreu de fome.
!
Uma vez surgiu um homem dizendo que era arquiteto. Mas não era Dédalo.
Dizia-se amigo dele e que roubara o mapa do labirinto enquanto Dédalo
esculpia, – distraidamente – mais uma
estátua em tributo a Hércules. Findou que veio para o palácio-prisão como
castigo. Não trazia o desenho do mapa em suas mãos. Mas dizia ter o mapa por
inteiro em sua cabeça. O labirinto para ele era finito. Sentia-se seguro dentro
dele. Pois sabia, que, mais cedo ou mais tarde, encontraria seu fim com a mesma
facilidade que encontraria seu começo. Num certo entardecer, o arquiteto viu o
Minotauro contemplando, sonhadoramente, o pôr-de-sol. Quando se aproximou, o
homem-touro sussurrou em seu ouvido uma frase mais ou menos assim:
— Quem faz o labirinto é o viajante e não
o arquiteto.
Parecia que não estava contando nenhum
segredo.
"
Certo dia entrou mais uma donzela no
labirinto. Ela tomou um susto logo que entrara. Pois o Minotauro estava na
porta principal. Embora todos saibam que não há uma porta principal no
labirinto. O número de entradas e de saídas é igual ao infinito. Com o susto, a
donzela desmaiou e foi levada para uma das galerias, pelos braços fortes do
Minotauro. Ele observava seu sono com vagar e olhar adolescente. A moça dormia
e sonhava que fora levada pelo Minotauro em seus braços para o centro do
palácio e dançava algo com ele. Quando enfim, ela se acordou, o Minotauro
dormia ao seu lado, sonhando que levava uma moça na garupa de seu cavalo –
viajando pelas veredas do mundo.
Dizem que nesse dia, o Minotauro não queria acordar mais nunca.
!
Um homem cego foi condenado a explorar o
labirinto de Creta. Na entrada, largou a sua bengala e seguiu os passos da
simetria do lugar. Numa das galerias, o Minotauro tomava banho na cisterna. Viu
o cego passar cantarolando algo que ele não entendia. No décimo quarto dia, o
cego saiu do labirinto. Todos ficaram embasbacados com a façanha do cego.
— Como você, conseguiu? — queriam saber
todos.
— Muito simples — respondeu o cego —
fiquei o tempo todo cantando e brincado de ciranda com o labirinto.
E o labirinto é circular? — perguntou um
dos homens.
— Não sei. Isso eu esqueci de perguntar
para o Minotauro.
"
Outra vez apareceu um mancebo. Dizendo vir de
Atenas para matar o Minotauro. Ele era muito jovem. Ainda tinha cara de menino.
Por trás de sua coragem, escondia-se a lembrança do leito de sua mãe. Quando
viu o homem com cara de touro, tremeu de medo e ficou. Mudo, tentava falar
alguma coisa. Mas antes que abrisse a boca, o Minotauro proferiu:
Eu estou aqui
desde menino.
!
Um dia, uma donzela apareceu ao Minotauro com
um livro na mão, dizendo que sua casa era uma caverna e que ele precisava ser
educado. Sair do labirinto para conhecer a luz da civilização. Ela era
professora em Atenas. O Minotauro a comeu com os olhos, deliciosamente. Com
todas as letras. O livro ficou no chão, demarcando a galeria. Dizem que o nome
do livro era “A Republica” de Platão e todo vento que passava lia “A Caverna”.
"
— Se você tivesse... se você tivesse
cabeça... se você tivesse cabeça de homem... seria mais... seria mais
inteligente. — Disse certa vez um filósofo ateniense para o Minotauro, antes de
cair morto de medo de morrer.
!
O medo daquele
homem não era o medo de enfrentar o Minotauro. O que o atormentava era a
simetria e o caos do labirinto. Que para ele, era o verdadeiro monstro.
"
Havia tempo que ele já estava no labirinto.
Já passara por desvios, subira e descera escadas. Dormira em corredores onde
haviam cisternas. Emaranhava-se nas ramificações e pensava que já tinha passado
por ali, mais de mil vezes. Tentava recordar alguma marca, algum vestígio que
garantisse a sua passagem. Foi quando ouviu uma voz:
— Não adianta! Você não vai recordar. Cada
bifurcação gera outra que desdobra-se em outras tantas. Cada corredor desemboca
em outros corredores.
Disse a voz que parecia com a de um Minotauro.
!
Quando Dédalo foi preso com seu filho Ícaro no labirinto, dizem que
Teseu já tinha matado o Minotauro e libertado Atenas do domínio de Creta. Mas todas as noites Ícaro sonhava com o
fantasma do monstro, sobrevoando a
maranha de pedra. Não contava o sonho para seu pai sob pena de ser
chamado de medroso. Até que um dia contou. Desde então, Dédalo começou a
observar com mais atenção o vôo das gaivotas ao sabor da brisa.
"
Numa tarde de muito sol, cochilava o Minotauro num
pátio com uma cisterna. De repente surgiu duas crianças que brincavam de
esconde-esconde por entre as galerias e corredores do labirinto. O Minotauro
nunca tinha visto aquilo antes. De quando em vez era que apareciam algumas
moças ou rapazes vindos de Atenas como tributo. Ele coçou os olhos para ver se
não estava sonhando. Não! Não estava sonhando. O som das crianças eram do mundo
da vigília. O Minotauro se escondeu, com medo de assustá-las . Até que uma
delas o encontrou e gritou:
—
Agora é a sua vez de nos procurar.
—
Vocês não têm medo de mim? — perguntou o Minotauro.
—
Não! — responderam em uníssono, as crianças.
—Nem medo de se perderem no labirinto?
—
Não, Sr. Minotauro. A gente brinca de se perder todos os dias. Nós somos o
limiar do labirinto.
— E
como vocês conseguem voltar para suas casas?
— Com
olhares distraídos. Ora bolas!
!
Numa noite de
muita chuva, o Minotauro gritou com uma voz de trovão:
— Estou per-di-do!
O som
ecoou tão alto que chegou aos ouvidos de Dédalo. Dizem que foi a partir daí que
ele teve a primeira intuição de um fio. Mas, nesse tempo, Ariadne nem sequer
sabia quem era Teseu. Pasífae, naquela noite, choramingou baixinho com medo de
acordar Minos.
"
“O labirinto é uma
intricada construção de caminhos sinuosos de tal forma emaranhados que, uma vez
em seu interior, ninguém conseguia encontrar a saída.” Dizem que, com essas
palavras extraídas de um sonho de Minos, Dédalo arquitetou todo o labirinto. O
fio de Ariadne e as asas de cera foram imaginações vindouras.
"
A solidão despertou no Minotauro, a habilidade de sonhar. Ele sonha
tanto, que nem sabe mais as horas em que está dormindo ou só fingindo um sono.
Perderia as horas do tempo, se fosse contar todos esses sonhos. Mas tem um que
sempre o habita: o dia em que virá seu redentor.
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