LYOTARD, Jean-François. A condição pós-moderna. 5. Ed. Rio de Janeiro: José Olympio, 1998. 132p.; 21 cm.
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Citações...
p. ix
"a ciência - assim como qualquer modalidade de conhecimento - nada
mais é do que um certo modo de organizar, estocar e distribuir certas
informações."
p. xi
"impossível submeter todos os discursos (ou jogos de linguagem)
à autoridade de um metadiscurso que se pretende a síntese do significante,
do significado e da própria significação, isto é,
universal e consistente."
p. 17
"o filme contínuo de suas aptidões, variáveis, que
nomeia seu brasão certamente não se assemelha a nenhum outro,
já que segue e descreve um perfil evolutivo de sua identidade singular
ou individual, somente do ponto de vista pedagógico e sem pretender esgotá-lo,
mas, sobretudo, distingue-o fortemente dos coletivos correspondentes a cada
nível de perícia, contribuindo, então, para apagar o poder."
/
"Felizmente, você jamais saberá verdadeiramente, apesar de
tudo, sua efetiva identidade, por demais múltipla, confusa e flutuante.
Você jamais a viu. Visível, no entanto, sua carteira de identidade
não informa muita coisa."
p. 18
"Ao ignorar, no limite, nossa verdadeira identidade, eis-nos recobertos,
sem recursos, pela sombra de nossas pertinências."
p. 19
"Mas quem nunca experimentou, pelo menos uma centena de vezes, que onze
leões podem resultar em uma soma tão fraca quanto uma cabra, ou
que quinze cabritinhos balindo acordassem juntos, uma manhã, vulcanicamente?
Eis uma estranheza da pertinência. Não, não sabemos como
se integravam juntas as inteligências ou as qualificações."
p. 21
"Como conectar, na verdade, o que você sabe ou pode fazer e o que
nós podemos ou sabemos fazer juntos? Em outras palavras, como fecundar
o coletivo perito pelas perícias individuais, ou identidade pela pertinência,
como em uma corrente positiva? Desde que o mundo tem uma história, o
conjunto das respostas a esta dupla questão se nomeia por cultivo e educação,
instrução e pedagogia, formação e aprendizado."
/
"Nunca vimos a evolução, em tempo real, do que sabe, do que
pode, que faz uma coletividade; nunca pudemos regrar o que você deseja
para si mesmo, em função destas tendências - ou contra elas,
lógico, ou também sem nenhum olhar em direção a
elas. Coisa ainda não feita, mas possível, à sua livre
e espontânea vontade."
[fim do prefácio de Michel Serres]
p. 25
"O dispositivo das árvores de conhecimento é tão novo
que muitos de nossos leitores não teriam podido associar-lhe imagens
nem situações concretas se nos contentássemos com uma exposição
puramente conceitual. É por isso que escolhemos começar este livro
por algumas fábulas, historietas ou esquetes que devem permitir compreender
a utilidade e o uso possível das árvores de conhecimentos em situações
extremamente diversas. Seria necessário que pudéssemos entrar
em nosso sistema pelo coração, imaginação, até
mesmo humor, já que é também por aí que foi concebido."
p. 32
[logo no início, referência a "patentes fundamentais".
Pode vir a ser objeto de crítica do Labirinto.]
/
"Um pequeno computador gera o sistema, um programa desenha a árvore
automaticamente a partir da ordem em que os alunos tiram suas patentes."
p. 34
"Eles distribuem a seus empregados uma carteirinha pessoal em que cada
um pode registrar os sinais de suas competências, saberes e habilidades.
Por um tratamento informático apropriado, as representações
que obtêm a partir desses registros são chamadas brasões.
Desta forma cada pessoa tem seu brasão."
p. 57
"O sistema pode ser aplicado a tudo justamente porque não comporta
nenhum a priori quanto à classificação dos saberes, seu
conteúdo, seu valor e seu modo de transmissão. Trata-se somente
de um instrumento que permite a livre expressão dos saberes a qualquer
comunidade humana. Seria perigoso somente se ele impusesse qualquer coisa; ora,
ele nada impõe, nem mesmo sua própria presença. Ninguém
é forçado a adotá-lo."
p. 65
"Há engenheiros cheios de diplomas que querem nos ensinar a fazer
vidro e outros que esperam nos substituir por máquinas, mas o vidro nunca
é exatamente a mesma coisa, a cada vez é diferente. No final,
você sente essas coisas. Não se pode explicar." (um contramestre
a Emmanuel Plinpoule)
p. 72
"o valor da patente diminui com a densidade. A boa estratégia consiste,
então, quase sempre em depositar patentes nos novos territórios
do saber, nas fronteiras."
p. 73
"Em vez de utilizar os computadores para ensinar, como se tentava fazer
há vinte anos, eles nos servem para a validação dos conhecimentos.
O trabalho nobre é deixado para os homens."
p. 74
"A criação de novos conhecimentos se desenvolve em um outro
terreno, que talvez nunca consigamos cartografar. O jogo de que falamos esta
noite consiste somente em tornar visível os efeitos da criação.
Graças a este jogo, a coletividade pode contemplar sua alma mutante sobre
o espelho das árvores."
p. 79
"precisamos é repensar totalmente o sistema de educação,
inventar outra coisa em vez de reproduzir as instituições do Norte.
Abandonemos a aproximação puramente quantitativa e o comportamento
mimético! Ajamos com fineza, ao nível dos sistemas de regulação
e de reconhecimento dos saberes. Devemos utilizar todas as nossas energias,
todas as nossas qualidade, sem nenhum complexo."
p. 80
"é a própria sociedade que se encarregará da questão
da educação e não mais uma instituição separada!
A escola existirá sempre, mas como um componente entre outros da educação,
do aprendizado e do ensino."
p. 93
"Nesse tempo, seu ídolo havia inflado desmesuradamente. Tornou-se
terrivelmente pesado, imenso e labiríntico. Ninguém havia contemplado
todas as suas faces e ninguém podia reconstruí-lo de memória.
Ora, os escribas, com grandes esforços de comissões e conselhos,
esgotavam-se redesenhando-a sempre mais rapidamente, maior e se despedaçaram
em infinitas batalhas de classificações."
p. 99
"Talvez alguma informação, algum hábito esquecido,
algum saber metido nas dobras do tempo poderia, na situação crítica
em que me encontro, salvar-me."
p. 100
"Ninguém possui a mesma história, ninguém sabe as
mesmas coisas. Haveria uma singularidade, uma identidade específica dos
indivíduos que se definiria pelo que eles sabem, como uma impressão
digital, um rosto trabalhado pela experiência, o timbre de uma voz, um
nome, uma assinatura."
p. 101
"De todos os saberes, somente uma ínfima parcela é acompanhada
por um reconhecimento oficial de títulos ou diplomas. Mas uma infinidade
de conhecimentos, que todos podem possuir em um momento ou em outro, aqui e
ali, sua pertinência econômica, lúdica, social, científica
etc. circulam clandestinamente, crescem em silêncio, invisíveis,
atuantes, prontas para servir."
/
"O que nos ensina o filme acelerado da existência no momento do mais
extremo perigo é que não importa que parcela de vida, com a experiência
que a acompanha, pode encobrir um saber útil, salvador, e que é
a priori impossível saber-se qual."
p. 102
"Pois o que ignoro é antes de tudo o que o outro sabe. Mais você
me é dessemelhante, mais sua vida é diferente da minha, mais você
possui conhecimentos que eu não tenho, mais poderá me ensinar."
p. 103 a 104
"Quando as técnicas e as habilidades se mantinham quase as mesmas
durante a vida de um homem, o papel do saber permanecia despercebido, a capacidade
de aprendizagem permanente dos indivíduos e dos grupos não aparecia
como uma qualidade determinante. Contudo, hoje, os conhecimentos não
apenas evoluem muito rapidamente, mas, sobretudo, comandam a transformação
das outras esferas da vida coletiva; como conseqüência, o que ficava
"invisível", porque era imóvel, passa bruscamente para
o primeiro plano."
p. 105
"O objetivo desta obra é expor os conceitos e as técnicas
que tornarão visível o espaço do saber e, ao mesmo tempo,
a identidade de cada um nesse espaço. [parágrafo] As principais
questões dessa visibilização são a dignidade desses
a quem os saberes da vida são negados e a construção de
uma nova civilidade fundada sobre as comunidades de aprendizagem e de conhecimento."
p. 106
"cada um sabe, nunca se sabe, todo o saber está na humanidade."
/
"A escola, como instituição, define a priori (em função
de suas tradições e da percepção da demanda social)
os conhecimentos indispensáveis, corretos, válidos, quer seja
para a cultura geral ou para os saberes especializados. Mas esses conhecimentos
somente representam uma ínfima minoria do que "cada um sabe",
do saber trazido pelo conjunto da humanidade, um saber que, além disso,
se transforma e aumenta hoje em um ritmo tal que a escola tem, a cada dia que
passa, mais dificuldade de acompanhar."
p. 106 a 107
"Temos, definitivamente, como resultado do sistema de reconhecimento de
saber ainda hoje defendido pela escola e pela universidade: que alguns dentre
nós são absolutamente ignorantes (ainda que cada um saiba); que
se possuo um diploma, eu sei (ainda que nunca se saiba); que o saber somente
é válido quando reconhecido pela instituição (ainda
que todo saber esteja na humanidade)."
p. 107
"Não colocamos de forma alguma em questão a indispensável
tarefa de instrução das crianças realizada na escola primária,
nem o ensino dispensado pelos colégios e universidades. Propomos apenas
um método de visibilização dos saberes e de reconhecimento
das competências muito mais amplo e democrático do que o que vigora
hoje."
/
"Não se trata, de forma alguma, aqui, de um panfleto a mais "contra
a escola", mas de um projeto positivo de que os educadores poderiam perfeitamente
se apropriar no próprio exercício de sua profissão."
[Pode vir a ser objeto de crítica do Labirinto.]
p. 109
"Houve a tatuagem no corpo de desejo, o nome no espaço da linguagem,
o endereço no território ou o sinal exterior de riqueza no espaço
econômico. Quanto à identidade cognitiva, que chamamos brasão,
tornar-se-á a segunda "pele" do indivíduo no seio de
espaço do saber."
p. 113 a 133
[para ter uma visão mais explicativa do que são as árvores
de conhecimento e de como se dá sua aplicação]
p. 135
"As árvores de conhecimento são fundadas sobre princípios
de auto-organização, de democracia e de livre troca na relação
com o saber. Ao abandonar uma concepção feudal dos conhecimentos
organizados em disciplinas, dominados pelos grandes conceitos, desenvolvem um
espaço do saber produzido por todos, coextensivo à vida das coletividades
humanas, sem muros nem fossos incontornáveis. A diversidade das competências
e dos recursos cognitivos de qualquer comunidade pode, então, tornar-se
visível. Um espaço de comunicação e de negociação
entre todos ou atores implicados pelas relações com o saber é
instituído. O mesmo instrumento pode ser manejado pelos indivíduos
que oferecem competências, pelos empregadores que os procuram e pelos
formadores que os transformam."
p. 155
"Em um espaço em que todos os saberes podem ser mascarados sem hierarquia
e sem a priori, as diferenças se tornam uma fonte de enriquecimento das
comunidades ao invés de serem um fator de violência."
p. 186
"a diversidade e o afluxo dos saberes hoje é tal que nenhum indivíduo,
e principalmente nenhum grupo fechado, pode mais possuir o conjunto dos conhecimentos
como ainda era possível nas sociedades arcaicas ou tradicionais. A inteligência,
o pensamento, o conhecimento estão condenados à partilha, à
abertura."
Seleção de citações: Eduardo Loureiro Jr., abril de 2000