Leituras sobre anarquismo organizadas por temas ao mesmo tempo recorrentes nos textos e interessantes para o Projeto Labirinto.

Por Andréa Havt Bindá

 

TEMAS:

I – Definições Gerais

II – Ordem e Caos

III – Homem e Sociedade

IV – Homem Como Ser Integrado

V – Negação de Teorias e Dogmas

VI – Não à Obrigatoriedade (do Ensino)

VII – Negação da Autoridade

VIII – Experiência

IX – Objetivos da Educação

X – Exemplos

XI – Realidade Envolvente

XII – História do Anarquismo

As indicações abaixo foram organizadas por livros ou páginas na internet. Exemplo: 1, 1a, 1b... correspondem ao mesmo livro. A indicação da referência está no final de cada citação.

1. Woodcock, George (org.). Os Grandes Escritos Anarquistas. São Paulo: L&PM Editores, 1998. Tradução: Júlia Tettamanzi e Betina Becker.

1a. Faure, Sébastien. "Anarquia – Anarquista". Em Woodcock... p. 58

1b. Malatesta, Errico. "Definição de anarquia". Em Woodcock... pp. 58-60

1c. Proudhon, Pierre-Joseph. "O nascimento da anarquia: a morte da propriedade". Em Woodcock... pp. 60-66

1d. Wilde, Oscar. "Desobediência: a virtude original do homem". Em Woodcock... pp. 66-68

1e. Read, Herbert. "O anarquismo e o impulso religioso" & "Uma abordagem estética da educação". Em Woodcock... pp. 68-73 & 264-271

1f. Bakunin, Michael. "A Igreja e o Estado". Em Woodcock... pp. 75-81

1g. Stirner, Max. "O Estado e o Sagrado". Em Woodcock... pp. 81-85

1h. Godwin, William. "Os males de um ensino nacional’ & "Educação pela vontade". Em Woodcock... pp. 252-256 & 256-259

1i. Goodman, Paul. "A política normal e a psicologia do poder" & "Alternativas para a deseducação". Em Woodcock... pp. 85-90 & 259-264

2. Moriyón, F. G. (org.). Educação Libertária. Porto Alegre: Artes Médicas, 1989. Tradução: José Claudio de Almeida Abreu.

2a. Mella, Ricardo. "O problema do ensino". Em Moriyón...

3. Elias, Marisa del Cioppo. Célestin Freinet: uma pedagogia de atividade e cooperação. Petrópolis, RJ: Vozes, 1997.

4. Malatesta , Errico. "Amor y Anarquia". Retirado do livro Socialismo y Anarquia. http://csl.tao.ca/anarquia/amorya.html

5. Ateneo Libertario. "Todo lo que siempre quiso saber sobre Anarquismo y nunca se atrevió a preguntar". Traduzido do inglês por Mayte (Ateneo Libertario de Zaragoza). http://csl.tao.ca/anarquia/todo.html

Observação: Outros textos podem ser encontrados no "Internet Libre"endereço: http://csl.tao.ca/anarquia/index.html

6a. Prescivalle, Thales & Barata, Pedro Paulo. "Idéias e Movimentos Anarquistas: Principais Idéias Anarquistas". http://www.geocities.com/CapitolHill/Lobby/3526/

6b. "Movimentos Anarquistas". Em Prescivalle...

6c. "Anarquismo no Brasil". Em Prescivalle...

7. Libertarian site. http://www.geocities.com/Athens/Acropolis/3471/anar1.htm

8. Stirner, Max. "O Egoísmo". Em Excertos, texto extraído de «O Único e a sua Propriedade», 1843. Tradução: J. Carrapato. Digitalização: Ricardo Lobo e Cristina Claro. Página: Anarquismo Hoje. http://www.terravista.pt/Enseada/1112/body_stirner.html

Observação: endereço da página Anarquismo Hoje, onde é possível ler mais sobre o tema: http://www.terravista.pt/Enseada/1112/base.html

9. LIPIANSKY, Edmond-Marc - A Pedagogia Libertária. São Paulo: Editora Imaginário, Soma e Nu-Sol, 1999. Tradução: Plínio Augusto Coelho.

Tesão - A Casa da Soma: http://move.to/soma & http://move.to/tesao

Nu-Sol (Núcleo de Sociabilidade Libertária do Programa de Estudos Pós-Graduados em Ciências Sociais da PUC-SP): http://www.geocities.com/~nu-sol_pucsp

Observação: algumas referências que pareceram interessantes neste livro, além dos exemplos de escolas:

Guérin, Daniel (Org.) - Ni Dieu, ni maître. Paris: Éditions de Delphes, 1966.

Illich, Ivan - Une société sans école. Paris, Éditions du Seuil, 1971.

Schmid, J. R. - Le maître camarade et la pédagogie libertaire. Paris: Maspéro, 1972.

10a. Direcção Central de Combate às Tradições Académicas. Contra o Sistema. Coimbra: 1996. http://www.geocities.com/CollegePark/3174/entrada.htm

10b. Pimenta, Alberto. "A escola não é, como se supõe, o lugar onde se aprende a fazer, mas o lugar onde se aprende a não fazer". Retirado de Discurso Sobre o Filho-de-Deus, Edições Mortas, Porto 1995. Em Direcção Central...

Observação: Outros manifestos, textos, imagens e críticas podem ser encontrados neste site "Direcção Central...

11. FREIRE, Roberto. Pedagogia Libertária (I): Síntese do curso realizado no Tesão ¾ Casa da Soma. Coleção Paidéia, vol. I. São Paulo: Sol e Chuva, 1996.

Observações:

1. Alguns textos selecionados foram encontrados a partir do site http://www.informarte.net/curso/index.htm. Seguindo a seta que está no final do texto de abertura, aparece um quadro que tem, dentre outras coisas, uma idéia de internet como labirinto. Os textos que coloquei estão em "links", que pode ser acessado pelo mesmo quadro ou diretamente no endereço: http://www.informarte.net/curso/18_links.htm

2. Páginas com poemas:

Callahan, Alfred. Fragments - everyday life nightmares. Quatro poemas. Tradução de Joaquim Martins. http://www.terravista.pt/Enseada/1112/tam1c.html.

Sem Bandeiras. Publicado em 1981. http://www.geocities.com/Athens/Acropolis/3471/anar1.htm

3. E-books

Lima, Antônio. Anarquia é Bom!? Santos: Edições Profanas, 29/01/2000.

Lima, Antônio (produtor). Tudo que você queria saber sobre Anarquia. Grupo Autonomia. Edições Profanas, 30/01/2000.

O Anarquismo Hoje – Uma Reflexão sobre o Movimento Libertário. Fonte digital: Arquivo de História Social Edgar Rodrigues. http://www.ceca.org.br/edgar/anarkp.html. Versão para Rocket Edition, eBooksBrasil.com, 2000.

Pensadores Anarquistas e Militantes Libertários. Idem anterior.

Princípios Éticos Anarquistas. Anônimo.

Endereços que não selecionei textos:

Revista Ágora - Coletivo Anarquista: http://www.angelfire.com/ab/agora/Textosdiversos.html

Vínculos: http://www.gold.com.br/~furtadom/linkse.html

Hipernet: http://forte.hipernet.ufsc.br/hiperPastas/forunsHistoricos//autonomia/pedago

I ¾ DEFINIÇÕES GERAIS

... doutrinas e atitudes cuja característica comum é a crença de que o Estado é nocivo e desnecessário. A origem da palavra anarquismo envolve uma dupla raiz grega: archon, que significa governante, e o prefixo na, que indica sem. Portanto, anarquia significa estar ou viver sem governo. Por conseqüência, anarquismo é a doutrina que prega que o Estado é a fonte da maior parte de nossos problemas sociais, e que existem formas alternativas viáveis de organização voluntária. E, por definição, o anarquista é o indivíduo que se propõe a criar uma sociedade sem Estado. 1/11

... movimento ativista, buscando mudar a sociedade por métodos coletivos. 1/12

... teoria cheia de variações, que se move à margem dos conceitos comuns. Portanto mesmo havendo diferentes opiniões anarquistas, existe uma filosofia definida, assim como uma tendência anarquista reconhecida. Essa filosofia envolve três elementos: uma crítica à sociedade como ela é, uma visão de uma sociedade alternativa e um planejamento para pôr em prática esta transformação. 1/16

[Godwin] ... argumento anarquista clássico: a autoridade é contra a natureza e os problemas sociais existem porque o homem não tem liberdade para agir de acordo com a razão. Como alternativa, esboçou uma sociedade libertária descentralizada, na qual pequenas comunidades autônomas seriam as unidades básicas, onde as práticas políticas seriam reduzidas ao mínimo, porque o governo da maioria é uma forma de tirania e a eleição de representantes é na verdade uma forma de abdicação das responsabilidades individuais. 1/33

Todos os anarquistas se consideravam propagandistas da liberdade. 1/40

[Errico Malatesta]

[Anarquia] ordem natural, harmonia de necessidades e interesses de todos, liberdade total com solidariedade total. 1b/60

[Pierre-Joseph Proudhon]

Assim como o homem busca justiça na igualdade, a sociedade busca ordem na anarquia. # A propriedade, nascida da soberania da razão, do senso de mérito pessoal, quer, acima de tudo, independência e proporcionalidade. Mas o comunismo, confundindo uniformidade com lei e nivelamento com igualdade, se torna tirânico e injusto. # 4 princípios: igualdade [de condições], lei [da necessidade: estabelece direitos e deveres, possessão em lugar de propriedade], independência [autonomia da razão individual: aptidões e capacidades] e proporcionalidade [da inteligência e dos sentimentos, não material]. 1c/62

Anarquismo: corrente socialista, inspiração iluminista. 2 s/p

Anarquistas de um modo geral buscavam uma mudança total da sociedade e das pessoas. 2/23

Muy poca gente parece entender el anarquismo pese a que es una idea muy sencilla y clara. Básicamente quiere decir "dirigir nuestras vidas en lugar de que nos manipulen". 5

Dentro del anarquismo hay muchas ideas diferentes pero todas ellas están relacionadas. Hay sistemas completos de teoría política anarquista denominados federalismo, mutualismo, individualismo, sindicalismo, comunismo libertario, feminismo anarquista, situacionismo, etc. 5

Apesar de o anarquismo ser diferente na Europa e Brasil, ele tinha uma mensagem comum nos dois: a liberdade e a igualdade só serão conquistadas com o fim do capitalismo e do Estado que o defende. O anarquismo considerava, assim como o socialismo, que a propriedade privada era o principal problema da sociedade, argumentando que os "recursos naturais da terra" pertencem à todos, ou seja, sua apropriação para uso pessoal é roubo. O sistema capitalista causou o empobrecimento e exploração de muitos para a riqueza e avareza de poucos. Os fortes obrigaram os fracos à servir em uma luta incessante pela riqueza as diversas nações entraram em guerra. Assim, claramente, podemos perceber que o capitalismo foi criado para atender à necessidade de uma classe dominadora e exploradora e não ao resto da sociedade.

A socialização da propriedade, unicamente, não pode mudar nada, pois acabar com a propriedade privada sem acabar com o governo burocrático só faria com que se criasse uma classe privilegiada em sua própria preservação. Todas as formas de governo acabam usando de determinada doutrina para "roubar" a liberdade do homem e satisfazer a "casta governante". Todas, usam da repressão policial ou militar para impor a sua vontade diante do povo, e, as leis, de um modo geral, são decretadas pelos poderosos para legitimar sua tirania. Na sociedade capitalista quando os pobres protestam contra os ricos, a polícia e o exército entram em ação; mais tarde estes pobres reprimidos têm de pagar as despesas destes dois órgãos e ainda do judiciário, que servem para dominar os trabalhadores. 6a

Anarquia não é confusão. Anarquista não é bagunceiro. Anarquia, do grego: an (=sem) e arché (=poder). Anarquismo: movimento que luta por uma sociedade em que ninguém tenha poder sobre ninguém. Também podem ser chamados de ácratas, defensores da Acracia, do grego: an (=sem) e kratos (=governo). Os ácratas, ou anarquistas, querem uma sociedade em que ninguém governe ninguém. Pela ênfase que dão à liberdade e à negação de qualquer autoridade, são também conhecidos como libertários. 7

... herdeiros do "século das Luzes". [...] fé profunda na bondade da natureza e uma concepção otimista do homem. 9/54

A pedagogia libertária se baseia no gosto espontâneo das crianças pelo conhecimento e em sua capacidade natural de criticar o que lhes ensinam. A pedagogia autoritária visa fundamentalmente destruir esse potencial crítico. [...] A necessidade de conhecimento é compulsiva, como a de liberdade e a de oxigênio. 11/10

II ¾ ORDEM E CAOS

Duas formas de equilíbrio têm muita importância na filosofia dos anarquistas. Uma delas é o equilíbrio entre destruição e construção, que domina suas táticas. A outra é o equilíbrio entre liberdade e ordem, que faz parte de sua visão de sociedade ideal. Para o anarquista a ordem não é algo imposto de cima para baixo. É uma ordem natural que se expressa pela autodisciplina e pela cooperação voluntária. 1/12

As objeções que os anarquistas levantavam contra as formas fixas e autoritárias de organização não significam que neguem a organização como tal. O anarquista não é um individualista no sentido estrito da palavra. Ele acredita apaixonadamente na liberdade, mas reconhece que ela só pode ser mantida pela disposição em cooperar e pela aceitação da realidade da comunidade. (...) organização não-coercitiva (...) se o anarquista se recusa a deixar-se guiar pela mão inerte do passado, também aceita as conseqüências dessa recusa. Não espera que o futuro seja determinado pelo presente e, por essa razão, é um erro identificar o anarquista com o utópico. (...) Os anarquistas sustentam que não podemos utilizar a experiência do presente para planejar o futuro, pois as condições poderão ser bem diferentes. Se exigirmos liberdade de escolha, devemos esperar a mesma exigência de nossos sucessores. Podemos apenas tentar eliminar as injustiças que conhecemos. 1/15

[Oscar Wilde]

O progresso é uma conseqüência da desobediência e da rebelião. 1d/67

Os agitadores são um bando de pessoas intrometidas que se infiltram num determinado segmento da comunidade totalmente satisfeito com a situação em que vive e semeiam o descontentamento nele. É por isso que os agitadores são necessários. 1d/67

[Michael Bakunin]

... a harmonia das forças naturais parece ser o único resultado do conflito, que é a condição da vida e do movimento. Na natureza e na sociedade, a ordem sem conflito é mortal. 1f/78

Se a ordem é natural e possível no universo, é porque o universo não é governado por nenhum sistema criado anteriormente e imposto por um poder supremo. (...) Mas a própria natureza não tem leis. Ela age inconscientemente, representando em si própria a infinita variedade dos fenômenos, que surgem e se repetem de acordo com a necessidade. Graças a esta inevitabilidade de ação que a ordem universal pode existir e de fato existe. 1f/78

No hay nada especialmente complicado en el anarquismo, excepto las terribles discusiones que conlleva, como por ejemplo, "imagínate el caos que habría si todo el mundo hiciera lo que quisiera". 5

Anarquismo é geralmente identificado como caos ou "bagunça", por ser uma doutrina política que defende a abolição de qualquer tipo de governo formal; mas, na verdade não é bem isso. Etimologicamente esta palavra é formada pelo sufixo de archon, que em grego significa governante, e an, que significa sem. Ou seja, anarquismo significa ao pé da letra "semgovernante". A principal idéia que rege o anarquismo é de que o governo é totalmente desnecessário, violento e nocivo, tendo em vista que se toda a população pode, voluntariamente, se organizar e sobreviver em paz e harmonia. 6a

Com isso, podemos perceber que uma sociedade anarquista não é algo totalmente descontrolado como todos pensam, muito pelo contrário, esta é uma sociedade bem estruturada e organizada, só que esta organização está baseada neste instinto natural do homem. Ou seja, ela depende da autodisciplina e cooperação voluntária, e não uma decisão hierárquica. 6a

[As comunidades escolares de Hamburgo (1919/30) (citações: Schmid, J. R. - Lê maître camarade et la pédagogie libertaire. Paris: Maspéro, 1971)]. No início [...] o caos é indescritível. Mas pouco a pouco as comunidades encontram suas próprias maneiras de regulação e as crianças assumem livremente as disciplinas necessárias pela cooperação e pela discussão. Desse modo, nada é imposto de cima, nem mesmo uma forma de autogestão; é a vida em comunidade que secreta a cada dia suas regras de funcionamento e assinala limites à liberdade individual; "o verdadeiro educador não é mais o mestre, mas a comunidade". 9/45-6

[Crítica dos sistemas de educação estabelecidos]. Os anarquistas não são reformistas, eles não querem democratizar o ensino, mas transformá-lo radicalmente e lançar as bases de uma educação popular. 9/54

III ¾ O HOMEM E A SOCIEDADE

... sociedade como uma entidade viva... rede de relações voluntárias... cresce de acordo com leis naturais. 1/12

... organização social e econômica baseada no livre acordo entre os indivíduos... 1/14

Basicamente, os anarquistas acreditam que, se o homem obedecer às leis naturais da própria espécie, será capaz de viver em paz com seus semelhantes. Em outra palavras, o homem pode não ser naturalmente bom mas, segundo os anarquistas, é um ser naturalmente social. São as instituições autoritárias que deformam e atrofiam suas tendências cooperativas. 1/18

[Kropotkin] Concluiu então que um dos fatores determinantes da evolução das espécies bem sucedidas não era o seu poder de competição, mas a tendência a cooperação. (...) mesmo a faculdade intelectual é eminentemente social, já que é estimulada pela comunicação, principalmente sob a forma de linguagem, pela imitação e pelas experiências acumuladas da raça. (...) longe de desenvolver-se através da competição, a seleção natural procurava meios para evitá-la e a esses meios dava o nome de ajuda mútua (...) um dos conceitos mais importantes do anarquismo. 1/18

(O homem é) um ser social e sua forma natural de organizar-se socialmente baseava-se na cooperação voluntária. (...) a ordem na anarquia é uma ordem natural. 1/19

... a liberdade é uma virtude social. 1/19

Os anarquistas desejam não apenas criar um tipo de relacionamento vivo e individual entre os homens, mas eliminar a distância que a autoridade coloca entre eles e dar início a uma série de atividades sociais necessárias. Essa questão envolve dois conceitos básicos do anarquismo: a organização social, que é o princípio da descentralização, e a ação social, que pode ser resumida pela expressão "capacidade individual". 1/20

... longe de pregar ao mesmo tempo a destruição da sociedade e da autoridade, os anarquistas esperam, na verdade, que seja possível reforçar os vínculos sociais fortalecendo as relações comunitárias nos seus aspectos mais primários. (...) inverter a pirâmide de poder que o Estado representa (...) a responsabilidade deve começar entre os indivíduos e os pequenos grupos que ganharão maior dignidade ao exercê-la. 1/21

[Godwin] reciprocidade é a verdadeira essência da justiça. (Contra desigualdade na satisfação de necessidades). 1/23

O anarquista pretende um tipo diferente de sociedade federal, onde a responsabilidade comece a partir dos núcleos vitais da vida social, o local de trabalho e os bairros onde as pessoas vivem. 1/24

...o homem primitivo parecia buscar naturalmente padrões de cooperação. 1/27

... associação entre liberdade e igualdade. (surgiu com a Reforma, há 4séculos, junto ao Estado-Nação) 1/27

(Renascença) liberdade sem igualdade, uma liberalidade sem participação. 1/31

Os anarquistas defendiam a organização espontânea dos trabalhadores de acordo com suas ocupações. Autoritários contra libertários, ação política contra ação industrial, ditadura do proletariado transitória contra abolição imediata de todos os poderes do Estado: o debate continuou e os dois pontos de vista eram irreconciliáveis. [conflito marxistas/anarquistas que destruiu a Internacional, 1868/72]. [flexibilidade experimental x dogmatismo rígido do comunismo autoritário]. 1/39

[Anarquismo como religião: como inspiração à criação de um novo tipo de sociedade humana]. 1e/71

... toda riqueza do progresso intelectual humano, moral e material, assim como a aparente independência do homem, é produto da vida em sociedade. Fora da sociedade, o homem não seria livre, e nem mesmo se tornaria um homem verdadeiro, isto é, um ser autoconsciente que sente, pensa e fala. 1f/78

En primer lugar creemos que la sociedad necesita ser dividida en núcleos menores siempre que sea posible, para que puedan ser dirigidos por grupos pequeños de gente corriente. Es un rasgo notable en cuanto a teoría de la organización, así como un principio básico del anarquismo, que los grupos pequeños trabajan juntos de forma eficaz y son capaces de coordinarse con otros grupos parecidos, mientras que los grupos informes y a gran escala son fácilmente manipulables. 5

Muchos anarquistas consideran que vivir en una comuna es una forma de cambiar la sociedad, pero vivir en la misma casa que otros nueve individuos no es la clave del futuro ideal. Lo importante es cambiar nuestras actitudes: abrirse más, ser más generosos y menos competitivos y temerosos de los demás. 5

A proposta dos anarquistas é contraditória ao sistema capitalista mas, não deve ser confundida com o individualismo pois, como já foi dito, está fundamentada na cooperação e aceitação da realidade por parte da comunidade. De acordo com os principais pensadores anarquistas, o homem é um ser que por natureza é capaz de viver em paz com seus semelhantes mas órgãos governamentais acabam inibindo esta tendência humana de cooperar com o resto da sociedade. 6a

A sociedade cria uma construção artificial, na qual a ordem é imposta de cima para baixo, como em uma pirâmide. Já no anarquismo a sociedade não seria uma estrutura e sim um organismo vivo que cresce em função da natureza. 6a

Então, somente eliminando o Estado e a propriedade privada é que o homem será totalmente livre, de suas carências, dominação, para desenvolver seu potencial ao máximo. Em uma sociedade anarquista as leis e a violência serão desnecessárias pois os homens livres serão capazes de cooperar para o bem da humanidade. Nessa sociedade, a produção seria feita de acordo com as necessidades da população e não para o enriquecimento de alguns poucos; com o fim das propriedades privadas não haveriam mais assaltos, ninguém iria cobiçar o que é dos outros (pois nada seria dos outros); acabaria a exploração das mulheres, cada um poderia amar à quem quisesse, independentemente de sua classe social e grau de riqueza, sem ser necessário o casamento; não existiria mais a violência e nem as guerras, ninguém mais lutaria por riquezas e não existiria mais o nacionalismo, racismo, carência e competição. 6a

Se há anarquistas que praticam atentados políticos, não é em função desta sua posição, mas sim uma resposta aos abusos, perseguições e à opressão sofrida por eles. Não são, portanto, atos anarquistas e sim de revolta inevitável por parte dos explorados contra a violência dos altos escalões. 6a

Para o anarquismo, a solidariedade entre os indivíduos eliminará o poder. 7

Sou o proprietário da minha potência e sou-o quando me sei Único. No Único, o possuidor regressa ao Nada criador de que saiu. Todo o Ser superior a Mim, quer seja Deus quer seja o Homem, enfraquece diante do sentimento da minha unicidade e empalidece ao sol desta consciência. 8

Que causa não tenho eu para defender? Antes de tudo, a minha causa é a boa causa, é a causa de Deus, da Verdade, da Liberdade, da Humanidade, da Justiça: depois, é a do meu Príncipe, do meu Povo, da minha Pátria: a seguir, será a do Espirito, e mil outras ainda. Mas que a causa que defendo, seja a minha causa, a minha causa muito minha, isso nunca! «Olha o egoísta que só pensa nele!». 8

Eu também amo os homens, não apenas alguns, mas cada um deles. Porém, amo-os com a consciência do meu egoísmo: amo-os porque o amor me torna feliz, amo porque é-me natural e agradável amar. Não conheço a obrigação de amar, Sinto simpatia por todo o ser que sente, o que o aflige - aflige-me, e o que o alivia - alivia-me. Poderia matá-lo, mas não seria capaz de martirizá-lo. Ao invés, o nobre e virtuoso filisteu que o príncipe Rudolfo dos «Mistérios de Paris» é, esforça-se por martirizar os maus, porque o exasperam. A minha simpatia prova simplesmente que o sentimento daqueles que sentem também é meu, é minha propriedade: enquanto o procedimento impiedoso do «homem de bem» (a maneira como trata o notário Ferrand) lembra a insensibilidade daquele salteador que, segundo a medida da sua cama, cortava ou esticava as pernas dos seus prisioneiros, A cama de Rudolfo, à medida da qual ele talha os homens, é a noção do «Bem». O sentimento do direito, da virtude, etc. torna-o duro e intolerante, Rudolfo não sente como o notário; sente, pelo contrário, que o «criminoso tem o que merecia». Isto não é simpatia. 8

O vosso amor pelo Homem é uma razão para vocês torturarem o indivíduo, o egoísta: o vosso amor pelo Homem faz de vocês os carrascos dos homens. 8

A associação não é mantida por um laço natural nem por um vínculo espiritual não é uma sociedade natural nem uma sociedade moral. Não é a unidade de sangue nem a unidade de crença (ou seja, de espirito que a faz nascer. Numa sociedade natural - como uma família, uma tribo, uma nação ou mesmo a humanidade -, os indivíduos só têm valor como exemplares dum mesmo género ou duma mesma espécie; numa sociedade moral -- como uma comunidade religiosa ou uma igreja --, o indivíduo não passa dum membro animado do espirito comum: tanto num caso como no outro, o que tu és como Único deve passar para um plano secundário e desaparecer. Só na associação a vossa unidade pode afirmar-se, porque a associação não vos possui, porque são vocês que a possuem e que se servem dela. 8

Levas para a associação toda a tua força, toda a tua riqueza, mas nela fazes-te valer. Na sociedade, tu e a tua actividade são utilizados. Na primeira, vives como egoísta: na segunda, vives como Homem, isto é, religiosamente (trabalhas na vinha do Senhor). Deves à sociedade tudo o que tens, és seu devedor e estás obcecado por «deveres sociais»: à associação, não deves nada: ela serve-te e tu abandona-la, sem escrúpulos, a partir do momento em que deixas de tirar dela qualquer proveito. (...) a associação e teu instrumento, tua arma, estimula e multiplica a tua força natural. A associação só existe para ti e por ti; a sociedade, pelo contrário, reclama-te como pertença sua e pode existir sem ti. Em suma, a sociedade é sagrada e a associação é tua propriedade: a sociedade serve-se de ti e tu serves-te da associação. 8

Se baseio a minha causa em Mim, o Único, ela repousa sobre o seu criador efémero e mortal, que se devora a si mesmo, e posso dizer: Não baseei a minha causa sobre Nada. 8

[Pierre-Joseph Proudhon e a Educação Politécnica]. Entregues a si mesmas, as paixões tendem cada uma de seu lado a invadir o homem por inteiro (...). No entanto, a justiça é-nos dada precisamente para restabelecer o equilíbrio, chamar as paixões à ordem e refrear sua exorbitância". 9/19-20

[Liberdade, igualdade, fraternidade]. Censuraram os anarquistas por seu individualismo quando na verdade são partidários convictos do trabalho em grupo, grupo em que a camaradagem fraternal, a cooperação, "o treinamento progressivo do fraco ao forte" representa muito mais que a competição e a concorrência. 9/62

... de um lado temos a individualidade, a liberdade, a espontaneidade e a criatividade dos indivíduos e, do outro, a instrumentação da racionalidade do mercado, do Estado, do poder e da autoridade a agir e intervir sobre o comportamento do indivíduo de forma tutelar e hierarquizada. 11/12-3

Elas [idéias anarquistas] integram uma utopia que corresponde à natureza gregária da espécie humana, na qual o respeito à individualidade seria o principal pressuposto para se exercer a sociabilidade. Além de uma ideologia, o anarquismo é, sobretudo, uma ética, tanto filosófica quanto biológica. 11/18

Para um homem sentir-se um anarquista ele precisa, em primeiro lugar, ser aquilo para que nasceu, precisa atingir sua originalidade única, genética e cultural, sem fazer concessões, sem submissões e sem qualquer sacrifício. Seu meio social deve apoiá- lo nisso, caso contrário ele deve se rebelar contra o meio. O anarquista é naturalmente autônomo e livre. 11/25-6

De nada vale a liberdade individual para um homem, se não puder dividi-la com outras pessoas. O anarquista só sobrevive em meio e em troca com outros anarquistas. Ser anarquista não é apenas uma condição de ser, mas urna condição de troca dinâmica. Os princípios da solidariedade, da cumplicidade, da sinceridade e da autogestão levam seu amor a procurar companheiros, para se exercer de forma completa. 11/26

Assim a sociedade anarquista se formará, em regime socialista, sem classes, sem poder autoritário, sem hierarquias, com o amor livre e autônomo, a produção será autogestiva e se viverá um cotidiano lúdico, criativo e solidário. Anarquia, vivida assim, será o pleno tesão social que cada um poderá viver por todos. 11/27

"Transformamos nosso cotidiano medíocre num processo revolucionário na medida em que assumimos nosso jeito de pensar, propor, produzir, criar e sentir." [Ivone Menegotti]. 11/28

A expressão embaço é uma gíria recente entre os jovens e exprime suas dificuldades no exercício de práticas comuns de vida por eles desejadas. # O embaço é uma espécie de bloqueio psicológico profundo à convivência das pessoas com a própria originalidade única, com suas pulsões naturais e genéticas, com seus desejos biológicos e humanos, bem como com suas opções culturais. # ... só tem duas alternativas: enfrentar a heterorregulação e desfazer o falso desejo, procurando o que ele esconde, certamente o seu desejo verdadeiro, ou, ainda por mecanismos neuróticos, aceitar o embaço e vivê-lo como parte de sua natureza... # Os mecanismos neuróticos a que me referi são produzidos pelo medo de desagradar ou ter de enfrentar as pessoas e as instituições que representam e que se constituem nos mandantes da heterorregulação. # A antipsiquiatria já demonstrou serem os duplos vínculos que os pais aplicam em seus filhos desde o nascimento até a idade adulta, que acabam por embaçar suas vidas... [nota:] Duplo vínculo é um mecanismo de comunicação no qual os pais dizem sim e não ao mesmo tempo aos filhos, acabando por criar neles confusão e dependência afetiva. # As teses anarquistas são claras... O embaço fundamental é a pessoa não enxergar a necessidade de viver e lutar para ser uma pessoas libertária, viver o amor libertário, produzir em autogestão libertária, estudar em pedagogia libertária, combatendo todas as formas de autoritarismo. 11/51-3

IV ¾ HOMEM COMO SER INTEGRADO

[Herbert Read]

[Necessidade da religião para determinar e aplicar os princípios da sociedade, apesar de não acreditar em nenhuma religião. Religião como árbitro]

O que nego é que se possa construir uma sociedade duradoura sem um caráter místico. 1e/68

A religião nos seus últimos estágios, pode se tornar o ópio do povo, mas enquanto for vital é a única força capaz de unir as pessoas dando-lhes a autoridade natural para que lutem quando seus interesses entram em conflito. # Creio que a religião é uma autoridade natural, mas ela é geralmente vista como uma autoridade sobrenatural. Talvez seja natural em relação à morfologia da sociedade e sobrenatural em relação à morfologia do universo físico, mas em ambos os aspectos se opõe à autoridade artificial do Estado. 1e/70

Religião e arte são, se não formas alternativas de expressão, formas intimamente relacionadas. Além da natureza essencialmente estética do ritual religioso e da dependência da religião à arte para visualização de seus conceitos subjetivos, há uma identificação das mais altas formas de poesia e da expressão mística. A poesia, em seus momentos mais intensos e criativos, penetra no mesmo nível do inconsciente que o misticismo. ... Por esta razão, pode ocorrer que as origens de uma nova religião sejam encontradas, se não no misticismo, na arte, em vez de qualquer forma de pregação moralista. 1e/71

[Michael Bakunin]

Mas nós, que não acreditamos em Deus, na imortalidade da alma, nem no livre-arbítrio individual, afirmamos que a liberdade deve ser entendida no seu senso mais amplo e profundo como o destino do progresso histórico do homem. (...) Nós, que somos teoricamente materialistas, tendemos na prática a criar e fazer durar um idealismo nobre e racional. 1f/77

[Herbert Read]

percebemos que as crianças são, de qualquer modo, artistas. Tão inevitável como o fato de que caminham, cantam, falam e jogam, elas são também artistas. A arte é apenas um dos métodos que os homens utilizam para expressar-se ¾ o método que lança mão do traço expressivo, da cor expressiva ou da forma plástica. Assim como há uma arte selvagem e uma arte adulta, há também uma arte infantil. Nosso erro é presumir que essa atividade infantil, cuja existência seria impossível negar, é apenas uma tentativa ingênua e desajeitada de imitar a atividade adulta. Em toda a atividade infantil há sempre um elemento de imitação, mas o que a criança deseja não é imitar por imitar, e sim comunicar alguma coisa utilizando uma linguagem comum. O impulso sempre presente em todos os trabalhos infantis é uma necessidade subjetiva interna, não um reflexo semelhante ao do macaco, um "macaquear", como dizemos, do comportamento adulto. # dessa admissão dependerá a escolha entre ensinar as crianças a imitar os padrões adultos ou reconhecer que elas têm padrões próprios, compatíveis com seu nível etário e com suas necessidades de expressão, que gradualmente evoluem, para formar círculos cada vez maiores de experiências vividas. Essa é a distinção básica que deve ser feita em todas as formas de ensino... 1e/265

Ensinamos as crianças a falar, mas não esperamos que todas se transformem em oradores; ensinamo-las a ler, mas não pretendemos que sejam todas poetas. Da mesma forma, ensinamo-las a desenhar, pintar e modelar sem qualquer expectativa de que a arte se tornará, necessariamente, a única vocação de suas vidas. # O que ensinamos às crianças é uma determinada maneira de expressão. Sons, palavras, linhas, cores ¾ tudo é matéria-prima com a qual a criança deve aprender a se comunicar com o mundo exterior. 1e/267

(...) deveríamos atribuir ao alfabeto pictográfico a mesma importância que é dada ao alfabeto fonético. Mas nossa meta secundária é encorajar a criança a revelar a sua personalidade, as suas características inatas. Tanto para os pais quanto para os mestres, o desenho de uma criança pode transformar-se numa janela que se abre para a mente da criança. # Entretanto, há mais coisas a descobrir (...) aprendemos sobre a infância em geral, sobre suas características comuns e o seu desenvolvimento mental. ... aprendemos muito sobre a natureza estética, sobre o lugar que a arte ocupa na vida e na evolução da humanidade. (...) Aprendemos, em resumo, que os elementos básicos da arte ¾ aqueles fatores que a tornam emocionalmente eficaz ¾ lhe são concedidos pela própria natureza e pelas necessidades do homem, e não são uma criação de sua consciência ou do seu intelecto... 1e/268

Valorização da razão como capacidade humana permitindo pensar a igualdade (liberdade e fraternidade). 2/s.p.

Razão para transformar (através da educação) a sociedade ¾ saber é poder. 2/s.p.

Educação integral: 1) Desenvolver todas as possibilidades da criança, tirar tudo que ela traz dentro de si, sem abandonar nenhum aspecto: mental ou físico, intelectual ou afetivo. Desenvolvimento harmônico das faculdades. 2) Romper diferença "trabalho intelectual x braçal", socializando o primeiro. 3) Envolvimento de toda a comunidade num plano de educação permanente. 2/21-2

Só escolarização não resolve, é preciso que a educação integral se dê para todos. 2/22

Especialização prematura ou não justificada. ... Especialização deve vir depois da educação geral. 2/23

Educação formal, não formal e informal. 2/25

Ligação comunidade/escola: equilíbrio pessoal e harmonia social, não acumulação de conhecimentos ¾ escola do trabalho. 3/23

Cooperativa de ensino leigo: intercâmbio de impressos. 3/27

Es una locura pensar que la educación actual sólo consiste en pasar 1 años o más de nuestras vidas en colegios que nada tienen que ver con el mundo exterior. Sería mucho más saludable para nuestra educación que ésta integrara aspectos del trabajo cotidiano y la vida social. Así, las habilidades de cada uno podrían ser reconocidas por la sociedad y utilizadas para la educación de otros. Necesitamos destruir las líneas divisorias entre trabajo, juego y educación. La educación debería estar disponible en cualquier momento de nuestras vidas, en lugar de estar confinada arbitrariamente a esa parte de la vida que pasamos en la escuela. Todos somos alumnos y profesores potenciales, todos tenemos habilidades que desarrollar y que enseñar durante toda nuestra vida. 5

La lección a extraer para aquellos que vuelvan a intentarlo en el futuro es que es esencial romper el aislamiento al que se somete alas escuelas respecto a la comunidad, para que los padres entiendan y apoyen activamente la implantación de la pedagogía libertaria en los colegios. 5

Os anarquistas insistem que os meios de propaganda e educação recebem o apoio e o controle do Estado, para perpetuar os objetivos deste. A religião, é uma importantíssima ferramenta para os burgueses pois pacífica o trabalhador, levando-o a aceitar a miséria sem protestos, induzindo-o a desistir de sua liberdade e aceitar a dominação dos que "roubam" o fruto de seu trabalho. As escolas são usadas para ensinar aos homens a obediência às instituições já formadas; homens são treinados para adorar o seu país, dispondo-se sempre a dar sua vida pelos interesses de seus exploradores. 6a

[Pierre-Joseph Proudhon e a Educação Politécnica] As divisões do sistema de educação ¾ de um lado o ensino, do outro o aprendizado ¾ servem apenas para "reproduzir sob uma outra forma a separação dos poderes e a distinção das classes, os dois instrumentos mais enérgicos da tirania governamental e da subalternização dos trabalhadores". 9/17

[Pierre-Joseph Proudhon e a Educação Politécnica] "O ensino deve ser dado por completo" [...] "de modo que a escolha da profissão e da especialidade chegue para o operário, assim como para o politécnico, após o encerramento do curso completo de estudo". 9/20

[Pierre-Joseph Proudhon e a Educação Politécnica] ... "oficina-escola" [...] desescolarização da educação [...] Fazer da empresa simultaneamente um centro de produção e ensino é o único meio para evitar a cisão entre o aprendizado e a instrução... 9/21-2

[Pierre-Joseph Proudhon e a Educação Politécnica] ... cada trabalhador deve poder transpor todos os níveis da formação, tanto profissional quanto intelectual [...] da mesma forma que ela não poderia ser encerrada num local fechado ¾ a escola ¾ a educação não pode ser delimitada a um dado período da existência: ela é necessariamente permanente. 9/21-2

[O Orfanato de Cempuis (Paul Robin)] "Não temos a menor pretensão de fazer de nossos alunos doutos universais... Por esse termo de educação integral entendemos aquela que tende ao desenvolvimento progressivo e bem equilibrado do ser por inteiro"; ela "contém e reúne os três fatores habituais, a saber: a educação física, intelectual e moral". [...] "Não se deve esquecer que a educação física e intelectual deve compreender a ciência e a arte, o ‘saber’ e o ‘fazer’. Um verdadeiro integral é ao mesmo tempo teórico e prático". 9/36

[A Escola Moderna (Francisco Ferrer),(citações de Dommanget, Maurice -Les Grands Socialistes et l’Education. Paris: A. Colin, 1970)] A escola moderna é mista e aberta a todos os meios (conquanto paga, o preço da pensão varia em função da renda dos pais); ela é laica e bane todo ensino religioso. Enfim, é também racional e científica. 9/39-40

[A Escola Moderna (Francisco Ferrer),(citações de Dommanget, Maurice -Les Grands Socialistes et l’Education. Paris: A. Colin, 1970)] Para ele, o ensino deve ser uma força a serviço da mudança: "Queremos homens capazes de evoluir incessantemente, capazes de destruir, renovar constantemente os meios e renovar-se a si mesmos". 9/40

[A Escola Moderna (Francisco Ferrer),(citações de Dommanget, Maurice -Les Grands Socialistes et l’Education. Paris: A. Colin, 1970)] ... o princípio fundamental da Escola moderna é a liberdade da criança; ela esforça-se para respeitar seu movimento natural, sua espontaneidade, as características de sua personalidade; quer desenvolver sua independência, seu juízo, seu espírito crítico... 9/40

[A Escola Moderna (Francisco Ferrer),(citações de Dommanget, Maurice -Les Grands Socialistes et l’Education. Paris: A. Colin, 1970)] Inspirando-se na educação integral de Robin, dá um amplo espaço às atividades físicas e manuais. Sua pedagogia não apela nem para a coação, nem para a competição: "na escola moderna não há recompensa nem castigo (...) também não há exames para inflar algumas crianças com o título lisonjeiro de ‘excelentes’, distribuir a outros o título vulgar de ‘bons’ e rejeitar o resto na consciência desafortunada da incapacidade e do fracasso". 9/40-1

V ¾ NEGAÇÃO DE TEORIAS E DOGMAS (VERDADES)

(Proudhon) (...) recusava-se a estabelecer uma doutrina dogmática (...) Ele desconfiava das estruturas teóricas do mesmo modo como desconfiava das estruturas estatais. Para ele, nenhuma doutrina era completa: sua forma e seu significado mudavam de acordo com a situação. 1/13

Duas tendências ancestrais do anarquismo moderno: a dissidência religiosa e o radicalismo renascentista. 1/33

... o anarquismo existia como um movimento identificável, não tinha uma liderança organizadora, apenas líderes intelectuais. Possuía, internamente, uma variedade de opiniões sobre táticas e sobre a natureza da sociedade ideal que coexistiam com um razoável grau de tolerância, como as seitas religiosas da Índia. Em última instância, sempre a idéia expressa diretamente em ação que era dinâmica e não o movimento. 1/42-3

... o poder do pensamento espontâneo seguiu sendo a força mais importante. Porque o anarquismo é antidogmático em sua essência... 1/43

O anarquismo tem estado mais próximo das crenças místicas do esplendor pessoal e, por isto, nunca necessitou de um movimento para mantê-lo vivo. 1/43

[Proudhon] ... alertou seus seguidores contra a rigidez do pensamento ou da ação. 1/43

... sua intenção é despertar o pensamento, e não dirigi-lo... # ... elemento imparcial do pensamento anarquista que o torna elástico e durável... 1/43

Toda a posição ideológica do anarquismo é completamente diferente de qualquer outro movimento socialista autoritário. Ela tolera variações e rejeita a idéia de gurus políticos ou religiosos. Não existe um profeta fundador a quem todos devam seguir. Os anarquistas respeitam seus mestres mas não os reverenciam, ... liberdade doutrinária com que os autores desenvolveram idéias próprias de forma original e desinibida. ... a firmeza e a flexibilidade que essa atitude não-doutrinária insere na explanação das várias facetas do homem como ser social. Pois o anarquismo apresenta apenas um aspecto da liberdade: a liberdade do homem entre os homens. Sua grande preocupação é a conquista da liberdade. O que essa liberdade poderá criar está dentro de cada um de nós... 1/54

... natureza aberta e não doutrinária da visão anarquista. 1/57

[Carlo Pisacane] A propaganda do pensamento é uma quimera. As idéias são uma conseqüência da ação e não o contrário, e o povo não será livre quando for educado, mas educado quando for livre. 1/40

[Errico Malatesta]

Da mesma forma, um homem cujos membros foram atados desde o nascimento, mas que mesmo assim aprendeu a mancar, atribui a estas ataduras sua habilidade para se mover. Na verdade, elas diminuem e paralisam a energia muscular de seus membros.

Se acrescentarmos ao efeito natural do hábito a educação dada pelo seu patrão, pelo padre, pelo professor, que ensinam que o patrão e o governo são necessários; se acrescentarmos o juiz e o policial para pressionar aqueles que pensam de outra forma, e tentam difundir suas opiniões, entenderemos como o preconceito da utilidade e da necessidade do patrão e do governo são estabelecidos. Suponho que um médico apresente uma teoria completa, com mil ilustrações inventadas, para persuadir o homem com membros atados que se libertar suas pernas não poderá caminhar, ou mesmo viver. O homem defenderia suas ataduras furiosamente e consideraria todos que tentassem tirá-las, inimigos. 1b/59

[William Godwin]

[Sistema nacional de ensino] Talvez pretendam guardar e difundir todas as formas de conhecimento que possam trazer algum benefício à sociedade, mas esquecem que há muita coisa ainda por conhecer. # ... procuram impedir ativamente os vôos da imaginação e fixar na mente do homem crenças que já deveriam ter sido abandonadas. Observa-se que os conhecimentos ministrados nas universidades e em outros estabelecimentos dedicados ao ensino costumam estar com pelo menos um século de atraso em relação aos conhecimentos que existem entre os membros descompromissados que integram a mesma comunidade política. No momento em que qualquer forma de conduta ganha um caráter oficial, ela adquire uma característica que lhe é peculiar, a aversão a qualquer tipo de mudança. Um golpe mais violento poderá obrigar seus condutores a abandonar um velho sistema filosófico, trocando-o por outro menos obsoleto, mas logo se agarrarão a esta segunda doutrina com a mesma obstinação com que se agarravam à primeira. O verdadeiro crescimento intelectual exige que a mente atinja, tão rapidamente quanto for possível, o mesmo nível de conhecimento já existente entre os membros mais esclarecidos da comunidade e, a partir daí, parta em busca de novos conhecimentos. Mas o ensino público sempre gastou todas as suas energias nas defesa dos preconceitos; ele ensina aos seus alunos não a coragem de examinar cada proposição com o objetivo de testar sua validade, mas a arte de justificar qualquer doutrina que venha a ser criada. 1h/252-3

Uma das características inerentes à mente humana é a sua capacidade para crescer. E, no momento em que o indivíduo resolve manter-se fiel a determinados princípios, levado por razões que agora escapam mas que foram importantes no passado, ele está renunciando a uma das mais belas qualidades do homem. Pois o instante em que desiste de indagar é o instante em que morre intelectualmente. 1h/253

... nenhum erro pode ser mais terrível do que aquele que nos ensina a considerar qualquer juízo como final... 1h/253-4

É preferível fazer os homens ler, conversar e meditar do que ensinar-lhes qualquer tipo de credo ou catecismo, seja ele moral ou político. 1h/254

É razoável supor que existam erros mesmo nos países onde a liberdade triunfou e que o sistema nacional de ensino seria a melhor forma de perpetuar estes erros e fazer com que todas as mentes sejam moldadas segundo um único modelo. 1h/255

Não é verdade que a nossa juventude deva ser educada para venerar a Constituição, por melhor que ela seja; a juventude deve ser ensinada a respeitar a verdade acima de tudo, e a Constituição apenas enquanto ela corresponder àquilo que, na sua opinião, livre de qualquer influência, julgar ser a verdade. 1h/255

A liberdade é a mais desejável de todas as vantagens sublunares. Seria, portanto, de bom grado que eu transmitiria conhecimentos sem infringir, ou tentando violentar o menos possível, a vontade e o julgamento da pessoa a ser instruída. 1h/256

Será necessário que uma criança aprenda determinados fatos antes que possa ter idéia do seu valor? É provável que não exista nada suficientemente importante que mereça ser apreendido por uma criança. 1h/257

Há três grandes vantagens neste tipo de educação. A primeira delas é a liberdade. Três quartos da escravidão das limitações hoje impostas à juventude desapareceriam de um só golpe. # A segunda a capacidade de julgar, seria fortalecida pelo seu exercício constante. Os meninos já não mais aprenderiam as lições como papagaios. Ninguém aprenderia sem uma razão capaz de justificar, a seus próprios olhos, os motivos que os levavam a aprender. # Em terceiro lugar, estudar sozinho é o método mais certo para adquirir o hábito do estudo. ... o menino que tem suas dificuldades resolvidas antecipadamente e que é levado pela mão não são ativos. 1h/258

[Herbert Read]

Finalmente, o ensino moderno deve voltar-se, inevitavelmente, para a ciência. (...) fazer com que um grande número de cidadãos comuns pudesse se sentir à vontade num ambiente altamente tecnológico e não alienado das máquinas que utiliza, ignorantes como consumidores mas capazes de julgar, de alguma forma, a política científica do governo e de desfrutar a beleza humanística da ciência e, acima de tudo, de entender a moral de um sistema de vida voltado para a ciência. 1i/264

A expressão natural tem sua própria forma instintiva e isso pareceria supor que a meta da educação deveria ser apossar-se desse senso inato de disciplina para desenvolvê-lo e amadurecê-lo, e não impor à criança um sistema de disciplina que poderá ser estranho à sua natureza e nocivo ao seu desenvolvimento. 1e/270

Ricardo Mella: nega o caráter libertário a um ensino excessivamente dogmático que não respeita devidamente a liberdade da criança e a liberdade de pensamento e de ação... 2/33

[Ricardo Mella] O grande perigo de algumas alternativas pedagógicas fundamenta-se no fato de haverem substituído o dogmatismo religioso por um novo dogmatismo, seja este o da ciência ou o da revolução, tentando uma vez mais impor à criança idéias pré-estabelecidas, indoutrinando-a em vez de buscar o pleno desenvolvimento de todas as suas faculdades e possibilidades... # Traz uma concepção equivocada da ciência que não se define por verdades absolutas, mas como algo aberto, baseado na experiência e na razão, chegando a hipóteses abertas à revisão ou hipóteses diferentes. # Educação que se converte em simples proselitismo e propaganda, mas que não fomenta nem a liberdade de pensamento, nem a liberdade do indivíduo e nem sequer uma atitude científica. 2/s.p.

[Ricardo Mella]

Supõe um neutralismo, neutralidade do preceptor. 2a/69

A escola que queremos, sem denominação, é aquela que melhor suscite nos jovens o desejo de saber por si mesmos, de formar suas próprias idéias... Todo o resto, em maior ou menor grau, é repassar os caminhos trilhados, entrar na linha voluntariamente, mudar os caminhantes, mas não projetá-los. 2a/69-70

Nega imposição até mesmo quando se apóia na ciência. 2a/70

Ciência não é racionalismo ¾ considera várias idéias de racionalismo. 2a/71

Dispor princípios bem provados para todo o mundo. Outras coisas são opiniões que devem ser buscadas. Idéia empirista de ciência ¾ cada ser fazendo sua ciência pela experiência. 2a/71

Racionalismo mais para ir contra a autoridade do dogma do que para afirmar uma razão. 2a/73

A verdadeira ciência, que não ostenta soberanias, tomou resolutamente o caminho da experiência, fundamentando suas construções em fatos e leis comprovados e não em frágeis criações do pensamento tão dado ao extraordinário e ao maravilhoso. Naturalmente a razão é o instrumento necessário para traduzir, ordenar e metodizar os dados da experiência, e nada mais, e quando pretende ser algo mais, para cada acerto há cem erros. 2a/73

Ciência é uma só e envolve o que está comprovado e verificado. A verdade está nas coisas do universo, nas leis, nos fatos experimentais. 2/s.p.

Como se deve ensinar: apresentação das teorias, dizendo o que se admite mais geralmente hoje. Não dizendo que esta é verdadeira. O que se deve ensinar: privilégio para as verdades conquistadas indiscutíveis; mas se deve explicar, por no círculo das exposições necessárias, tudo o que é opinável. Ater-se à substância das coisas, não às palavras que pretendem representá-la. O ensino não é propaganda. Explicar deixando o aluno meditar e decidir ¾ falar de coisas verdadeiras e falsas. 2/s.p.

Metodologia da cooperação e atividade ¾ recusa aos manuais escolares: símbolo da pedagogia opressiva do sistema capitalista. 3/15

Escolha ideológica: a necessidade de uma revolução para destituir a educação de todo e qualquer doutrinamento. 3/35

Educar é construir junto. 3/40

Necessidade do docente conhecer bem o aluno para não atropelar seus interesses e ritmos. 3/41

Liberar da dependência do adulto. 3/41

Professor: membro, parceiro e orientador. Possui conhecimentos mas sabe que são relativos. 3/41

Queremos la libertad; queremos que los hombres y las mujeres puedan amarse y unirse libremente sin otro motivo que el amor, sin ninguna violencia legal, economica o fisica. 4

Pero la libertad, aun siendo la unica solucion que podemos y debemos ofrecer, no resuelve radicalmente el problema, dado que el amor, para ser satisfecho, tiene necesidad de dos libertades que concuerden y que a menudo no concuerdan de modo alguno; y dado tambien que la libertad de hacer lo que se quiere es una frase desprovista de sentido cuando no se sabe querer alguna cosa. 4

Piensa de forma independiente. Es la única manera. 5

Los anarquistas nos oponemos al adoctrinamiento religioso en los colegios. El miedo y la superstición no tienen lugar en una educación ética. La educación religiosa debería abolirse y sustitiurse por una clase enfocada a discutir cuestiones morales y filosóficas basadas en la preocupación y el respeto a los demás. 5

Si has leído este panfleto hasta aquí te habrás hecho ya una idea razonable de lo que es una sociedad anarquista. El problema es cómo llegar a ella. 5

Como hemos dicho anteriormente, el anarquismo conlleva una preocupación por los derechos de individuo. No tiene sentido estar teorizando ni programando actividades si finalmente no va a servir para mejorar la vida de individuos como tú y yo. 5

Antes de la revolución es responsabilidad de cada cual creer, como si fuéramos seres humanos razonables, en un mundo razonable. Es difícil, pero no imposible, con la ayuda de tus amigos, evolucionar a un estado más avanzado que el simple estado de dependencia en que esta sociedad intenta mantenernos. Apoya el amor libre. Si no es libre, no es amor. 5

No hay santos anarquistas. 5

Por isso, os anarquistas abominam a formação de qualquer partido político pois estes acabam com a espontaneidade de ação, burocratizando-se e exercendo alguma forma de poder sobre o resto da população. Eles também temem as estruturas teóricas na medida em que estas podem se tornar autoritárias ou "sentenciosas". 6a

 

Oposto a toda autoridade, o anarquismo também o é a toda forma de dogmatismo; em conseqüência, ele nunca se constituiu como escola ou partido, com seus eleitos e excluídos. [...] Aqui o espírito conta mais do que a denominação... 9/7-8

[A Educação "harmoniosa" (Fourier e discípulos)]. É preciso rejeitar toda opressão e antes de tudo aquela imposta pela razão, operar uma nova revolução copernicana fundada sobre a atração universal das paixões; é preciso aceitar as "ciências ditadas pela loucura"; só elas podem permitir tirar a máscara, estilhaçar a ilusão do progresso e da civilização, desmontar conforme escreveu René Schérer "as engrenagens do mecanismo que apenas a ignorância e o hábito fazem com que se tome por racionalidade de uma ordem". A educação detém nesse projeto um lugar central; é somente por ela que a sociedade pode ser radicalmente transformada; o adulto já está pervertido pela civilização, "é preciso, portanto, como centro de interesse, especular inicialmente sobre as crianças". 9/11-12

[Iasnaia-Poliana (escola de Tolstoi)]. ... antidogmatismo; ele rejeita em matéria de ensino as teorias prontas, conquanto se apresentem como inovadoras: "A base de nossa atividade pedagógica é a convicção de que não apenas não sabemos, mas inclusive não podemos saber em que deve consistir a instrução do povo; a definição da pedagogia e de seu objetivo é impossível, inútil e nociva". 9/29

[Iasnaia-Poliana (escola de Tolstoi)]. A pedagogia deve ser um perpétuo questionamento do saber, tanto o que é transmitido quanto aquele sobre o qual se funda a própria pedagogia. 9/30

[A educação integral e racional]. ... ligação entre reflexão intelectual e trabalho manual [...] orientado para uma atividade produtiva, e como prévia e ponto de partida de todo estudo teórico. [...] não se pode compreender o mundo sem agir sobre ele e transformá-lo. # Denunciando o caráter ideológico [...] querem substituí-lo por um ensino fundado sobre a verdade científica. [...] apego a um ensino racional, senão racionalista... [...] "Só disseminamos soluções que foram demonstradas por fatos, teorias ratificadas pela razão e pelas verdades confirmadas por provas autênticas" (Ferrer).[...]... fé um pouco ingênua nas virtudes da ciência... [..] Todavia, alguns pensadores libertários ultrapassam o otimismo filosófico [...] questiona(m) com vigor a ideologia da ciência e a referência do mestre a um saber inconteste. # ... ataque contra a ciência burguesa... Ela é um instrumento de poder nas mãos da classe dominante. [...] ensino liberto de toda empresa ideológica conduz [...] (excetuando Tolstoi) a uma atitude atéia e a proscrever da educação toda instrução religiosa. 9/57-8-9

VI ¾ NÃO À OBRIGATORIEDADE (DO ENSINO)

[Paul Goodman]

O sistema de educação obrigatória tornou-se uma armadilha universal que não traz nenhum benefício. Muitos jovens, tanto da classe pobre quanto da média, viveriam muito melhor se ele simplesmente deixasse de existir, mesmo que então deixassem de receber qualquer espécie de ensino. 1i/259

... alternativas possíveis... ao sistema de ensino como armadilha compulsória...

1. Eliminar totalmente a escola para algumas classes. Estas crianças deveriam ser escolhidas em lares que vivem sob condições toleráveis, embora não devam ter, necessariamente, um bom nível cultural. Deverão ser vizinhos e suficientemente numerosos para que possam fazer companhia uns aos outros, de modo que não se sintam apenas "diferentes" do grupo. Será que mesmo assim conseguirão aprender os rudimentos do ensino? Esta experiência não chegará a lhes causar qualquer dano do ponto de vista acadêmico, pois há provas concretas de que qualquer criança normal consegue recuperar num período que vai de 4 a 7 meses ¾ desde que tenha bons professores ¾ o trabalho que realizaria nos sete primeiros anos letivos normais. 1i/260

4. Faça com que o comparecimento às aulas não seja obrigatório como em Summerhill, de A. S. Neill. Se os professores forem bons, logo as ausências tenderão a diminuir; se forem ruins, devem descobrir isso. A lei da presença obrigatória à escola serve para manter os filhos longe dos pais, mas não deve ser utilizada como uma armadilha para aprisionar essas crianças. Uma ótima variação desta idéia é o regulamento criado por Frank Brown, da Flórida: ele permite que as crianças se ausentem da escola por uma semana ou um mês para que possam dedicar-se a um projeto realmente estimulante ou a uma viagem a terras que não conhecem. 1i/261

De uma maneira geral, a educação deve ser voluntária e não obrigatória, pois não se conseguirá obter mais liberdade, a menos que haja uma motivação intrínseca. Sendo assim, as oportunidades educacionais devem ser variadas e diversificadas. É necessário diminuir e não expandir o atual sistema educacional monolítico. Eu sugeriria que (...) façamos uma experiência, entregando o dinheiro para custear a educação diretamente aos adolescentes, para que eles o empregassem em qualquer projeto educacional plausível, desde viagens de estudo até iniciativas individuais. Isto provocaria também, naturalmente, uma proliferação de escolas experimentais. 1i/263

Diferente do atual regime inflexível, nossa política educacional deveria permitir que os alunos abandonassem os cursos e facilitar seu retomo aos bancos escolares para que os jovens tivessem oportunidade e tempo de descobrir a si próprios, estudando apenas quando se sentissem prontos para isto. Esta é uma valiosa idéia de Erie Erickson sobre a necessidade de uma moratória também na vida, apoiada pela concepção antropológica de Stanley Diamond e outros de que a nossa sociedade negligencia as crises de crescimento de seus integrantes. 1i/263-4

Los anarquistas nos oponemos al castigo corporal y a todas las formas de obligación en la educación. La asistencia a clase debería ser voluntaria. La obligatoriedad destruye el entusiasmo natural por saber y comprender. La verdadera educación es lo contrario a la escuela obligatoria, donde se aprende principalmente a temer y respetar la autoridad. Necesitamos, en cambio, que nuestros hijos desarrollen una capacidad crítica para entender el mundo, para ver los cambios que es necesario hacer para crear un lugar mejor para todos, y ser capaces de llevar a cabo estos cambios. 5

[A Educação "harmoniosa" (Fourier e discípulos)] ... censura o ensino público por submeter os jovens a uma regra que é a mesma para todos, que não faz nenhuma distinção das naturezas, das forças, dos caracteres. [...] "Entravais a natureza, colocais diques no riacho e vos surpreendeis com que a natureza rompa obstáculos, que o riacho arraste os diques! (...) Abri-lhe um bom e livre curso, utilizai sua força e sua velocidade, usai suas águas, e ele se tornará fonte de riqueza em vez de ser instrumento de danos." [Victor Considerant]. 9/13-4

[A Primeira Internacional] "A instrução pelo Estado é logicamente, necessariamente um programa uniforme, tendo por objetivo modelar todas as inteligências segundo um tipo único, tipo que será forçosamente, pela própria natureza do espírito humano, a negação da vida social, a qual se compõe de lutas, contradições, afirmações contrárias; será o imobilismo, a atonia, a atrofia geral em detrimento de todos". 9/25-6

VII ¾ NEGAÇÃO DA AUTORIDADE

... o homem pode viver melhor sem ser governado. 1/12

[Joseph Proudhon] Ser governado é ser cuidado, inspecionado, espionado, dirigido, legislado, regulamentado, identificado, doutrinado, aconselhado, controlado, avaliado, pesado, censurado, e mandado por homens que não têm nem o direito, nem os conhecimentos, nem valor para fazê-lo. 1/13

A liberdade não é algo que possa ser decretado e protegido por leis ou pelo estado. Cada indivíduo deve forjar sua própria liberdade e reparti-la com seus companheiros. (...) A autoridade impede os impulsos naturais dos homens e faz com que se tornem estranhos uns aos outros. 1/14

(consideram várias formas de poder, não só econômica). 1/22

... o trabalho administrativo, ao contrário de outras formas de trabalho, pode converter-se em poder, e hoje, entre anarquistas e outros, há uma vigorosa vigilância quando a administração tende a se converter em burocracia. A administração é como um remédio, excelente em doses homeopáticas, mas fatal à liberdade em grandes doses. 1/24

... dadas as condições que permitissem o livre desenvolvimento, todo homem é capaz de decidir diretamente sobre questões políticas e sociais. (sem intermediários ou representações). 1/25

Gerrard Winstanley ¾ A Nova Lei da Integridade, 1649: "Todos aqueles que adquirem autoridade tiranizam os outros". (já próximo aos anarquistas do século XIX). 1/30

[Proudhon e Bakunin] ... uma revolução que não eliminasse a autoridade acabaria por criar um poder mais abrangente e duradouro do que aquele que pretendia substituir. Eles defendiam a idéia de uma revolução sem autoridade, que destruísse as instituições do poder, substituindo-as por outras baseadas na cooperação voluntária. 1/36

Em nenhum lugar uma rebelião espontânea que tenha ocorrido recentemente conseguiu provocar verdadeiras mudanças na estrutura do poder. Os governos podem ter mudado, mas o padrão de autoridade não sofreu alterações básicas. # O reconhecimento deste fato tem levado alguns anarquistas contemporâneos a abandonar o ataque direto à cidadela do poder, na suposição de que poderão levá-los ao colapso pelo enfraquecimento interno de sua estrutura, o que será possível se conseguirem provocar mudanças básicas na atitude do povo. Dois exemplos interessantes desse tipo de abordagem ¾ especialmente pelos contrastes que apresentam entre si ¾ nos vêm da Holanda e da Índia [Provo e Kabouter / Gandhi]. 1/50

Até agora tem havido pouco progresso na aplicação prática dos conceitos anarquistas. E é justamente quando falam nas dificuldades de manipular a indústria de massa e a própria massa utilizando os métodos anarquistas que os críticos sentem estar pisando em terra firme. Entretanto, não é impossível que a tecnologia possa nos oferecer alguns dos meios para atingir esse objetivo. A tecnologia em si é neutra, como Lewis Mumford demonstrou muito tempo atrás em Técnica e civilização: não há nada que sugira que uma sociedade tecnologicamente desenvolvida deva ser, ao mesmo tempo, centralizada, autoritária ou ecologicamente destruidora. E é possível, para dar um exemplo, que chegue uma época em que o povo, no controle de sua tecnologia, possa usar as comunicações eletrônicas para informar-se de todos os aspectos de uma questão pública e usar os mesmos meios para tomar conhecidos e eficazes os seus desejos, sem intermediários. ... A democracia deve então ser direta e ativa... E se uma democracia eficaz, participatória e direta não pode ser a sociedade naturalmente ordenada da anarquia, ela poderia ainda representar um passo histórico nesta direção. 1/52

... liberdade, considerada como sendo o destino social do homem... autoridade, expressa claramente na instituição da propriedade, como uma barreira a qualquer tipo de progresso naquela direção(liberdade). 1/57

[Sébastien Faure]

Não há, nem pode haver, um credo ou catequismo literário.

O que existe e que constitui o que se pode chamar de doutrina anarquista é um grupo de princípios gerais, conceitos fundamentais e aplicações práticas, segundo os quais foi estabelecido um consenso entre indivíduos cujo pensamento é contrário à Autoridade, e que lutam, coletiva e isoladamente, contra toda disciplina e repressão, sejam elas políticas, econômicas, intelectuais ou morais.

Ao mesmo tempo, pode haver, e realmente há, muitos tipos de anarquistas, mas todos têm uma característica comum que os distingue do resto da humanidade. O ponto de união é a negação do princípio da Autoridade nas organizações sociais e o ódio a tudo que origina instituições baseadas neste princípio.

Portanto, quem nega a Autoridade e luta contra ela é um anarquista. 1a/58

[Pierre-Joseph Proudhon]

Deixemos a velha geração perecer, deixemos os velhos evasivos morrerem no deserto!... Jovem... tenha a coragem de juntar-se à causa da liberdade! Abandone seu velho egoísmo e mergulhe na crescente onda da igualdade popular. # E vocês, pobres vítimas de uma lei odiosa! Vocês, a quem este mundo zombeteiro rouba e ultraja!... Suas lágrimas estão contadas! Os pais semearam na aflição, as crianças colherão na alegria. 1c/66

[Herbert Read]

... todas as instituições orientadas pelo poder são artificiais assim como restritivas, e no reconhecimento que a autoridade tem formas claras ou obscuras, difunde-se em nossas vidas em todos os níveis e estágios, da escola ao asilo de velhos. 1e/73

... a preocupação de obter e manter o poder é, na verdade, hostil à "política normal" de comunidades localizadas. [Paul Goodman]. 1/73

[Questiona que a Constituição fixa seja garantia de liberdade. É uma forma de tirania e imposição (Lysander Spooner). E expõe a ilusão de que um governo representativo realmente dá poder ao povo, que não tem controle sobre eleitos] 1/74

As leis são formas de sancionar a coerção aplicada pelos governos autoritários. 1/74

A autoridade, que transforma o trabalho agradável em um trabalho pesado, penetra nas mais íntimas regiões de nossa vida. Mesmo o ritmo de nossas vidas é condicionado por padrões (orientados pelo relógio) de sistemas autoritários (...) Em todos os lugares, o anarquista vê a mão do poder estrangulando as potencialidades da vida e é impelido a rejeitá-la. 1/74-5

[Max Stirner]

[Sobre a sacralização do poder através das leis, que justifica as punições]. O castigo é uma conseqüência do crime. Se não existe o crime, não deve existir o castigo. Se já não existe mais nada que seja sagrado, não poderá mais haver o crime contra ele. (...) Não é o sagrado que se deve defender contra os ataques do homem, mas o próprio homem. 1g/84

[Paul Goodman]

Por toda parte vemos invasão, conquista e dominação que obrigavam os vitoriosos a manter e exercitar o poder e os outros a lutar para obtê-los como única forma de fugir do sofrimento e da exploração que lhes eram impostos. 1i/87

Educação antiautoritária, romper com a submissão na família e na escola formando seres humanos não submissos ao Estado que queriam suprimir. (...) Contra a escola pública para formar "bons cidadãos". 2/s.p.

Antiautoritarismo ¾ processo que atravessa todo o período educativo. 2/s.p.

Daí o anarquismo ser conhecido como algo vivo, e não uma simples doutrina, a ausência de poder e controle na mão de alguns torna o movimento anarquista algo frágil e flexível. A crítica ao poder do Estado leva à tentativa de inverter a pirâmide hierárquica de poder, o que formaria uma sociedade descentralizada que procura estabelecer um relação de forma mais direta possível. A responsabilidade começa nos núcleos vitais de civilização, onde também são tomadas as decisões, local de trabalho, bairros, etc... Quando estas decisões não são possíveis de ser tomadas, formam-se federações. O importante, porém, é manter a participação e aprovação de todas as pessoas envolvidas. 6a

Os anarquistas criticam a forma de governar do parlamentarismo pois a representação corre o risco de entregar o poder à um homem inescrupuloso e hábil, que use as paixões do povo, para sua auto promoção. Quando as decisões abrangem áreas mais amplas são convocadas assembléias, com intuito de nomear delegados que estão sujeitos à revogação de seus cargos. 6a

[Pierre-Joseph Proudhon e a Educação Politécnica] Quanto aos professores, eles devem ser escolhidos em função de suas competências técnicas e científicas [...] submetidos à "eleição dos cidadãos" [...] Ela (comuna) o escolhe segundo sua vontade, jovem ou velho, solteiro ou casado, aluno da Escola Normal ou dele mesmo, com ou sem diploma. 9/23-4

[Bakunin contra a ciência burguesa] ... condenação geral a toda forma de autoridade, "a autoridade paterna tanto quanto a do mestre escola" [...] "desmoralizantes e funestas". 9/33

[Crítica dos sistemas de educação estabelecidos]À autoridade do mestre corresponde a autoridade da coisa ensinada e dos modos de inculcação... 9/52

[A infância reencontrada] "As crianças não são propriedade de ninguém: elas não são nem a propriedade de seus pais, nem a propriedade da sociedade. Pertencem exclusivamente à sua futura liberdade". (Bakunin). 9/56

[Liberdade, igualdade, fraternidade] A relação pedagógica é, portanto, livre porque tende à igualdade entre os parceiros em relação. Poder-se-á objetar que essa relação não pode ser simétrica: de um lado, há o mestre armado da ciência e da força do adulto, e do outro, a criança inculta e dependente. # Todavia, o pensamento libertário justamente questiona o saber do mestre e a definição da criança como falta, visto que ele atribui à infância uma plenitude de existência. [...] "o que ainda lhe falta não pode privá-la, pois ninguém a faz pensar nisso" (Schérer); a criança só é fraca e ignorante em relação ao adulto que impõe seu saber e seu poder. 9/60

[Liberdade, igualdade, fraternidade] ... professor [...] oscila entre o pólo paternal (Proudhon, Robin, Ferrer) e o pólo fraternal (Fourier, Considérant, Tolstoi e os hamburgueses). 9/62

[O poder do mestre?] ... abdicar de toda autoridade e de todo desejo de influenciar os alunos. 9/62

(Crítica) ... educadores pregavam uma pedagogia do exemplo vivido em que o mestre, se ele não tenta agir diretamente sobre os alunos, oferece-se, contudo, como modelo e especula quanto aos recursos de uma dependência afetiva. 9/62

Não podemos interpretar, nesse sentido positivo, o projeto anarquista como a vontade de superar as relações assimétricas de poder ¾ em que se exprime a forma simbólica da relação pai-criança ¾ para instaurar uma ordem de relações fraternais entre iguais, eliminando os fenômenos de dependência e de poder? # Adotando um outro ponto de vista, poder-se-ia sustentar igualmente que a autoridade do "mestre-camarada" é mais velada, mais sutil, contudo simultaneamente mais penetrante do que a do mestre tradicional. Ela não trai uma vontade de poder mascarada pela ilusão da "relação fraternal"? Pode-se responder de início que o que diferencia o pedagogo libertário é que ele admite que sua influência seja recusada. Mas a questão é mais profunda. 9/64-5

[Utopia ou/e realismo] ... "toda ação pedagógica é objetivamente uma violência simbólica enquanto imposição, por um poder arbitrário, de uma arbitrariedade cultural". E eles (Bourdieu e Passeron) denunciam "a utopia autodestrutiva de uma pedagogia sem arbitrariedade" ou "a utopia espontaneísta que concede ao indivíduo o poder de encontrar nele mesmo o princípio de seu próprio ‘desenvolvimento’". 9/66

Apresentamo-nos mais uma vez contra o sistema apenas para lembrar o que é óbvio...

Não nos dirigimos portanto às mais diversas putas que disputam na estrumeira mercantil o seu quinhão de vida falsificada. Estes têm padrinhos mais abonados que nós. Dirigimo-nos aos que descobrem a grande mistificação na normalidade tecida pelos discursos e práticas dominantes. E o melhor instrumento para furar esse véu totalitário é a empatia.

Qual de vós não sente uma invencível repulsa ao topar um desses focinhos obscenos que se nos dirigem sem vida interior e nos estendem o seu discurso bem alinhado (e igualmente morto)? Queremos poesia e não slogans que nos tomam por imbecis.

Queremos viver plenamente e não apenas a garantia de um emprego para nos espartilhar a vida e nos

ocupar no estrangulamento das crianças que teremos que educar ou na condução dos operários que terão de nos chamar senhor doutor engenheiro.

Não queremos viver gordurosamente a lubrificar uma máquina que se alimenta de humano e vomita

miguéis esteves cardosos.

Aos que admiram a eficiência dos sistemas e vêem o caos onde existe subjectividade organizada,

lembramos que a realidade mais rica é aquela que é mantida pela imaginação criadora de cada indivíduo.

Por isto, nos repugna o desfile de zeros a que chamam campanha eleitoral.

Por isto, celebramos o atrito e o descarrilamento e procuramos alargar a brecha no espaço-tempo alienado em que nos forçam a viver.

Somos nós os legítimos depositários do esforço evolutivo que fez emergir as estrelas de um universo

indiferenciado, que animou a matéria que aquelas cozinharam para chegar aos primatas e que fez surgir o primeiro ser que estremeceu maravilhado ao contemplar esse percurso.

Notemos também que ao nosso lado existem os que têm queda para a política e uma sensibilidade

verdadeiramente protozoária.

Companheiros desta aventura cósmica, salvaguardemos a nossa honra de ser humanos, escarrando

vigorosamente na primeira cripto-amiba que nos vier pedir o voto. 10a

Em verdade, tanto a pedagogia doméstica quanto a escolar, quando autoritárias, visam reprimir nas crianças e nos jovens o sentimento e a necessidade da liberdade como condição fundamental da existência. Sem esse sentimento e sem essa necessidade, desaparecem nas pessoas o espírito crítico e o desejo de participação ativa na sociedade. São os dependentes. Desgraçadamente, a maioria.

#

Na vida familiar, três são as armas principais da pedagogia autoritária: primeiro, o pátrio poder (os filhos devem obedecer aos pais, por lei, até a maioridade), o que é um abuso e uma violência tornados legais; segundo, o amor, sentimento natural de beleza e gratidão que os pais transformam em instrumento de dominação e de posse sobre os filhos, fazendo com que se submetam às suas vontades chantagísticas, usadas para não sentirem a dor do remorso e a do abandono; terceiro, pela dependência dos filhos ao dinheiro dos pais e pela ameaça, também chantagística, de afastá-los de casa sem nenhum recurso financeiro. 11/5

Se não for libertária, toda a pedagogia é autoritária. 11/9

Perguntar é o ato mais espontâneo e o único realmente indispensável na formação cultural. Não se é livre para perguntar em ambiente autoritário. 11/9

A autogestão, operada através da dinâmica de grupo libertária que constitui a forma de produção anarquista, tornou-se também na Soma a forma de convivência associativa e afetiva de seus participantes, de modo a romper qualquer poder autoritário e hierarquizado em suas relações.

#

Para nós, a autogestão (produção sem patrão, sem lideranças fixas) funciona através de dinâmicas de grupo e estará sempre guiada pela ideologia e pela prática de vida anarquista, nos planos individual e social. Pode-se, assim, falar em amor autogestivo como uma forma de produção afetiva e criativa, ou seja, algo sem poder centralizado numa pessoa, sem liderança fixa, sem hierarquia, sem competição, baseado apenas na solidariedade e numa óptica libertária e consensual. 11/19

VIII ¾ EXPERIÊNCIA

... queriam manter a liberdade para agir espontaneamente diante de situações concretas... 1/14

... discípulo natural do filósofo grego Heráclito, que postulava que a unidade da existência consiste na constante mudança. 1/15

... organização social (...) sintetizada na expressão "ação direta", que também sintetiza suas idéias sobre a melhor maneira de efetuar transformações sociais. # anarquismo enquanto teoria modificada pela ação. 1/26

[Errico Malatesta] ... genuíno temperamento individualista com o sentido da indivisibilidade da liberdade. 1/32

O misticismo anarquista era baseado na idéia de que o homem pode criar espontaneamente, para si mesmo, as relações sociais e econômicas necessárias à sua vida. Não precisamos criar fórmulas sociais novas e artificiais, mas encontrar maneiras de ativar o povo para que, dos agrupamentos naturais e tradições populares, se desenvolvam instituições apropriadas para uma sociedade livre. 1/36

Ao rejeitar as tentações de utopia, os anarquistas não caíram na negação. 1/55

Desobediência como uma virtude necessária e criativa. (Oscar Wilde) 1/57

[Oscar Wilde]

Para o pensador, o fato mais trágico da Revolução Francesa não foi que Maria Antonieta tenha sido morta por ser rainha, mas que os camponeses famintos da Vendée tivessem concordado em morrer defendendo a causa do feudalismo. [negros escravocratas, mulheres machistas...] 1d/68

[Paul Goodman]

[Contra o poder abstrato] As atividades normais não necessitam de motivações extrínsecas, elas têm sua própria dinâmica e seus próprios objetivos intrínsecos; e as decisões são tomadas continuamente pelas próprias funções em ação, adaptando-se umas às outras e ao meio em que se inserem. 1i/85

[William Godwin]

Tudo que o homem fizer por seu próprio esforço será bem feito; tudo aquilo que seu vizinho ou seu país pretenderem fazer por ele será um erro. Nossa sabedoria está em incitar os homens a agir por si próprios, não em mantê-los num estado de perpétuo aprendizado. Aquele que aprende porque deseja fazê-lo ouvirá as instruções que recebe e aprenderá o seu significado. Aquele que ensina porque deseja fazê-lo cumprirá suas tarefas com entusiasmo e energia. Mas, no momento em que uma instituição política tomar a seu cargo a tarefa de indicar o lugar que cada homem deve ocupar, todos passarão a desempenhar suas funções com indiferença e preguiça. Há muito se observa que as universidades e os estabelecimentos dedicados ao ensino são notáveis por sua apatia. As normas de administração pública me concedem o poder de destinar as minhas propriedades a determinados propósitos teóricos, mas seria ocioso julgar que eu também posso legar minhas opiniões da mesma forma com que lego os meus bens materiais. Removam os obstáculos que impedem o homem de perceber e perseguir os objetivos que são realmente proveitosos para ele, mas não tentem libertá-lo das atividades necessárias à busca destes objetivos. Só é possível dar o verdadeiro valor às coisas que eu mesmo consegui ganhar, àquilo que obtenho apenas porque desejo obter; tudo o que me for concedido sem que eu peça poderá fazer de mim um indolente, jamais um ser respeitável. 1h/254

Tal é a natureza humana: a eficiência ao desempenhar uma determinada tarefa significa que temos a inclinação e a capacidade para desempenhá-la; diligência e o zelo indicam interesse. É por essa razão que encontramos tanta ineficiência e tanta preguiça hoje em dia. Pois, na verdade, quem está no lugar certo? Quem trabalha naquilo que gosta e que realmente o interessa? 1h/255-6

Estudar pela vontade de aprender é uma atividade; sem esta vontade, não passa de uma caricatura de uma atividade real. Que, na nossa pressa e ansiedade para educar, não esqueçamos jamais os verdadeiros objetivos da educação. 1h/257

Rigorosamente falando, deixariam de existir até mesmo os personagens indispensáveis: aluno e mestre. Pois o aluno, tal como o mestre, estuda porque deseja fazê-lo, avançando segundo um plano por ele mesmo criado ou que passa a ser seu no momento em que o adota. Tudo revela a presença da independência e da igualdade. 1h/257

A atividade é uma qualidade mental. Se, portanto, eu desejar criar hábitos de atividade, é melhor que deixe o menino solto pelos campos da ciência, para que ele mesmo encontre o seu caminho. ... e que lhe seja permitido perguntar antes de receber a informação. 1h/258-9

[Paul Goodman]

... alternativas possíveis... ao sistema de ensino como armadilha compulsória...

2. Faça com que algumas classes não tenham aulas no prédio da escola. Forneça os professores e utilize a própria cidade como se fosse uma escola (...), é muito mais coerente ensinar utilizando ¾ sempre que possível ¾ exemplos concretos dos conteúdos dados do que criar uma abstração destes conteúdos e trazê-la para dentro da sala de aula como parte do "currículo".

Tais classes não deveriam ter mais do que 10 crianças para cada professor. A idéia ¾ tirada do modelo de ensino usado entre os atenienses ¾ não é muito diferente do trabalho realizado com gangues de jovens, mas não deve ser aplicada em delinqüentes nem utilizar qualquer aspecto da ideologia destes grupos. 1i/260

... alternativas possíveis... ao sistema de ensino como armadilha compulsória...

3. Em linhas mais ou menos semelhantes, mas utilizando também o prédio da escola, empregar alguns adultos não envolvidos profissionalmente com o ensino ¾ o farmacêutico, o dono da loja, o mecânico ¾ como as pessoas mais capacitadas a introduzir os jovens no mundo dos adultos. Desta forma, poderemos fazer uma tentativa de vencer a barreira que separa os jovens dos mais velhos na moderna sociedade urbana, ao mesmo tempo que estaremos diminuindo a autoridade absoluta dos educadores profissionais. 1i/260

... alternativas possíveis... ao sistema de ensino como armadilha compulsória...

5. Descentralize a escola urbana (ou não construa mais grandes prédios escolares), dividindo-a em pequenas unidades, entre 20 a 50, em lojas ou clubes disponíveis. Essas pequenas escolas, equipadas com toca-discos, máquinas de tipo fliperama, poderiam combinar atividades recreativas e sociais, jogos, discussões e o ensino formal. Em ocasiões especiais, as pequenas unidades poderiam ser reunidas num auditório comum ou num ginásio, para que tivessem idéia da comunidade maior à qual pertencem. Da mesma forma, creio que valeria a pena dar uma nova oportunidade à velha escolinha rural, agora em condições urbanas mais modernas, e ver como funciona: isto é, reunir um grupo de crianças ¾ de 25 a 30 ¾ de várias idades numa mesma sala de aula, em vez de dividi-las por níveis segundo a idade. 1i/261

... alternativas possíveis... ao sistema de ensino como armadilha compulsória...

6. Usar uma parte dos recursos da escola, enviando as crianças para pequenas fazendas economicamente marginais durante alguns meses do ano. O ideal seria enviar talvez 6 crianças de várias classes sociais, para que fossem atendidas por um fazendeiro cuja única obrigação seria alimentá-las e não bater nelas; seria preferível, naturalmente, que pudessem participar dos trabalhos no campo. Isto não só daria dinheiro para o dono da fazenda como seria parte de um programa bastante necessário no sentido de equilibrar o percentual de habitantes da zona rural, fazendo com que atinja de 30% a 70% (atualmente, menos de 8% das famílias vivem no campo). É bem possível que algumas crianças vindas da cidade acabassem preferindo este outro estilo de vida e assim estaríamos criando um novo tipo de cultura rural... 1i/261

[Herbert Read]

É sempre mais fácil descrever os métodos que dão maus resultados do que aqueles que são bem sucedidos, pois esses últimos são infinitamente sutis e incertos. Os maus resultados são sempre uma conseqüência da utilização de métodos demasiado conscientes e deliberados, onde a disciplina é imposta por alguém que age como um sargento instrutor. Os bons resultados, aparentemente, são obtidos pelo uso de qualquer método ou sistema de palpites e sugestões entre mestre e alunos, e a disciplina que sem dúvida existe, e DEVE existir, tem origem na própria atividade e é, na verdade, uma espécie de concentração nos instrumentos e materiais utilizados, uma absorção em atos concretos. O bom professor não é um ditador, mas um aluno que possui uma técnica mais avançada do que a de seus companheiros, tem mais consciência da meta a ser alcançada e dos meios que devem ser empregados para alcançá-la. Deve ser alguém que trabalhe com as crianças, compartilhando seus sentimentos, estimulando-as e dando a elas algo que é uma riqueza que não tem preço ¾ a confiança em si mesmas.

Pois na verdade é o medo que impede que a criança seja um artista ¾ o medo de que seu mundo particular de fantasia possa parecer ridículo aos olhos do adulto, o medo de que seus signos e símbolos não sejam adequados. Elimine o medo da criança e terá libertado todo o seu potencial de desenvolvimento emocional e a sua maturidade. # Depois de libertar a criança do medo é preciso ir mais além, é preciso levá-la para o mundo mais positivo da cooperação. # essas mesmas qualidades devem ser usadas para estabelecer laços humanos e sociais até que a criança seja capaz de realizar-se no mundo adulto. Esse é o objetivo amplo da educação, mas não conheço nenhum método tão capaz de permitir que esse objetivo seja atingido quanto aqueles que são, num sentido concreto, criativos. 1e/268-9

Variações entre exercício da liberdade sem qualquer restrição (nada era obrigatório) e fomentar o espírito de rebelião. 2/19

... a liberdade só se consegue com a liberdade e todo problema resolvido à força continua sendo um problema. Não há nenhum caminho que leva à liberdade senão o da própria liberdade, o do exercício cotidiano da liberdade. (atribuído a Bakunin). 2/19

Determina-se o que é preciso em relação à infância, mas com exercício progressivo da liberdade. 2/19

Democracia verdadeira exige pessoas que possam decidir por si mesmas. 2/23

Solidariedade vai além da fraternidade que sucumbiu na própria dinâmica burguesa e pelo modelo capitalista imposto. Não se podia acentuar diferenças, nem de classe, nem de sexo... Eliminar qualquer tipo de competitividade, reforçado por um acentuado sentido da disciplina e da hierarquização que tende a perpetuar relações de dominação e dependência... 2/26

Ninguém tem a missão de "fazer" os outros deste ou daquele modo, mas sim o dever de não impedir que cada um se faça a si mesmo como quiser. 2a/71

Uma criança... que incessantemente imagina, inventa e cria, só pode ser compreendida através de uma pedagogia e psicologia da construção e do movimento. 3/14

Pedagogia do bom senso: prática sempre revista, abrindo possibilidades com as experiências dos outros. Pedagogia experimental: reinvenção e invenção de técnicas. Escola ativa: prática e cooperativa. 3/17

Compartilhar conhecimento e expressão livre. 3/17

Método que parte da experimentação, do erro, aproveitando momentos de interesse. 3/17

Livro de notas: anotava tudo que ouvia dos alunos (termos, observações, gestos) que o ajudasse a conhecer melhor a personalidade de cada criança. 3/23

Introduz a imprensa na escola: rompe o individualismo, movimento pedagógico fortalecido, integrado e espontâneo, todos participavam, produzindo um conhecimento gerado a partir da experiência. 3/27

Critica a escola nova porque a teoria é descolada da prática. 3/31

Só através da cooperação é possível educar, levando novas gerações a se interessarem pelo momento político que vivem... 3/31

Crítica à escola capitalista e seu condicionamento autoritário: "é necessário dar a vida a nossos filhos. Por isso não há senão um meio: fazê-los viver, não a vida artificial e regrada de hoje, mas a vida deles. É necessário fazê-los viver em república desde a escola." 3/34

Conceitos-chave: trabalho e livre expressão. Não há preocupação com a quantidade de conhecimentos, mas com o processo e sua construção. Aprender fazendo. 3/36

A escola põe à disposição os meios e depois organiza, sistematiza, enriquece. Cria situações desafiadoras para pensarem e darem soluções. Método natural porque aproveita o que é do meio: água, plantas... 3/36

Metodologia ¾ responsabilidade do professor ¾ basta saber coordenar os interesses das crianças. Despertar interesse é papel do professor. 3/36

O aluno já traz os germes do próprio desenvolvimento e realização. 3/38-9

Formas de "partir do aluno": boas citações nesta página. 3/39-40

Não busca de resultados imediatos. 3/41

Pedagogia libertadora: problemas avaliados e reorganizados no trabalho cooperativo. 3/41

Escola, continuação da vida no lar e não outro mundo de regras... 3/46

Escola do trabalho: primeiro atividade para adquirir outras aquisições. 3/46

O aluno pesquisa e monta concretamente suas experiências porque quer descobrir; é o criador e elaborador do próprio conhecimento que depois é trocado com seus colegas. 3/47

Trabalho de acordo com seus interesses e necessidades. Professor organiza o trabalho. 3/47-8

Todos somos pesquisadores: processo instintivo através do qual o homem busca o próprio crescimento... 3/48

A diferencia de los marxistas y otros pseudo-socialistas, creemos que al menso debemos intentar poner en práctica nuestros principios en el día a día. Si crees en la igualdad, trata a los demás como iguales siempre que puedas. 5

Todo lo que anime a la gente a adquirir responsabilidades y a examinar sus relaciones con el resto del mundo debe apoyarse. Finalmente, esperamos que las actitudes cambiarán lo suficiente para permitir a la gente que vuelva a tomar las riendas de su propia vida. 5

Las escuelas se ocupan principalmente de seleccionar y dividir a los niños en niveles para su futuro papel en una sociedad jerarquizada, y asegurarse de que internalizan la competitividad, la jerarquía y el respeto a la autoridad. Este sistema exige que la mayoría de los niños, y de los adultos, se sientan inferiores. Los anarquistas pensamos que las pruebas académicas son uma medida insignificante respecto al potencial de una persona para jugar un papel importante en la sociedad. El culto al experto profesional está diseñado para destruir nuestra auto-estima en nuestras posibilidades y en nuestra capacidad de juicio. 5

Los anarquistas estamos generalmente de acuerdo en que la completa liberación de la educación depende de la creación de una sociedad anarquista. Sin embargo, esto no ha sido impedimento para intentar crear entornos más libres donde los niños puedan crecer y aprender, aquí y ahora. Algunos anarquistas han educado a sus hijos en casa. Otros los han educado conjuntamente con otros padres e hijos. Han trabajado juntos en lugar de permanecer en núcleos familiares aislados. En las últimas 3 décadas varias escuelas libres se han establecido basándose en principios libertarios, y han desempeñado un servicio muy valioso demostrando de forma práctica que hay alternativas posibles. Sin embargo, han tenido que enfrentarse a constantes problemas económicos y a todos los otros problemas que supone vivir en una sociedad como la nuestra intentando crear una sociedad libre. 5

Algunos anarquistas y otros que comparten sus puntos de vista sobre la educación han llegado a la conclusión de que en un futuro predecible, la mayoría de los niños asistirán a escuelas estatales y, por tanto, han intentado cambiar estas escuelas desde dentro, así como a los padres y profesores. 5

[A Educação "harmoniosa" (Fourier e discípulos)] ... é o conjunto da sociedade que é educativo e a criança é amplamente subtraída à ação direta dos adultos. Ele não procura "educar" a criança, não faz com que ela tenha um aprendizado progressivo da liberdade, não quer tirá-la de si mesma; ele quer, ao contrário, devolve-la a ela mesma e a seus pendores, deixa-la ir até o limite de suas infantilidades; longe de visar à "calma das paixões", ele busca dar-lhes livre curso. 9/12

[A Educação "harmoniosa" (Fourier e discípulos)] ... todo ensino de massa parece-lhe impossível nessa sociedade mercantil: "Querer instruir o povo antes de ter realizado para ele as condições de bem-estar, antes de lhe ter assegurado os direitos a um trabalho lucrativo, honroso, atraente, é um pensamento que não poderia ser executado senão de modo muito incompleto." [Victor Considerant] 9/13

[Pierre-Joseph Proudhon e a Educação Politécnica] A educação deve ser uma educação ao trabalho, pelo trabalho. À "atração passional" de Fourier, ele opõe a "volúpia íntima (...) que resulta para o homem" de "trabalhos do pleno exercício de suas faculdades". Todavia, ele retém de Fourier a idéia "de educação integral" [...] "contudo, penso que, sendo a vida um combate, o homem um ser livre, é para o combate que importa armá-lo, o que se fará muito menos pelo espírito que pelo caráter". 9/18-9

[Pierre-Joseph Proudhon e a Educação Politécnica] ... como cobrir os custos da educação? Pelo trabalho produtivo efetuado quando do ensino [...] "num sistema de associação industrial, de federação política e de garantia mutualista...". 9/23

[Iasnaia-Poliana (escola de Tolstoi)] ... "vários dentre eles reúnam-se, leiam, conversem e, enfim, decidam de que maneira devem reunir-se e conversar entre si: eis a verdadeira universidade". 9/31

[As comunidades escolares de Hamburgo (1919/30) (citações: Schmid, J. R. - Lê maître camarade et la pédagogie libertaire. Paris: Maspéro, 1971)] Para os professores dessas escolas, não se trata e aplicar um novo método, mas de aproveitar plenamente a liberdade de experimentação que lhes é dada (República de Weimar). # São abolidas todas as características que definem a escola tradicional: programas, horários, divisão por matérias, repartição em classes; tendo abandonado todas as regras, pode-se deixar as comunidades desenvolverem suas próprias virtualidades. 9/43

[As comunidades escolares de Hamburgo (1919/30) (citações: Schmid, J. R. - Lê maître camarade et la pédagogie libertaire. Paris: Maspéro, 1971)] ...o papel dos reformadores não se limita a um "laissez-faire" passivo, seus esforços tendem a desenvolver nas crianças o senso da cooperação e da solidariedade e um sentimento de responsabilidade coletiva. O trabalho em grupo é encorajado; todo elemento de competição individual (notas, exames, sanções...) é suprimido; meninos e meninas estão juntos e têm as mesmas atividades; idade não é mais o primeiro critério de diferenciação. Os educadores são profundamente integrados à comunidade... [...] Ressaltam menos o que dizem ou fazem do que o que são, depositando sua confiança na eficácia pedagógica do exemplo vivido e na relação de aceitação e afeição que os ligam a seus alunos. 9/46

(...) a escola não é, como se supõe, o lugar onde se aprende a fazer, mas o lugar onde se aprende a não fazer; a escola, toda a escola, da mais baixa à mais alta, é o lugar onde se assegura a formação contínua duma continuada conformação, onde se aprende o que se não deve fazer e o que se não deve pensar (...) na escola se começa a deixar de fazer e se continua a deixar de fazer e cada vez mais se deixa de fazer, até ao ponto de acabar por nada mais fazer senão o que serve à escola, que é o que não serve à vida, e não fazer o que serve à vida, que é o que não serve à escola. A escola, toda a escola é um lugar de omissão, de omissão de vida, e assim a escola é um lugar onde o filho-de-deus tem ocasião de agir «como o pai quiser», trocando conhecimentos queridos por conhecimentos adquiridos, e nisso a escola mais não faz que continuar o lar, o lugar excelso do filho-de-deus que não deixa fazer, porque, como o nascimento é o pior que lhe podia acontecer, o filho-de-deus progenitor começa por anular no descendente as consequências de este ter nascido, começa por impedir que ele faça aquilo que ele naturalmente gostaria de fazer em consequência de ter nascido, procura desde o começo prepará-lo para o sacrifício da vida, ensina-o a optimizar os seus recursos, fá-lo estar atento à participação no aumento da produção, incute-lhe ocupações e preocupações, incita-o a ocupar a vida citando-lhe as preocupações de a viver, leva-o a ocupar-se com uma infinidade de preocupações e a preocupar-se com outra infinidade de ocupações, respeitantes a si mesmo e aos outros, diz-lhe «deixa isso, isso não é para nós; tens a religião que é para todos e, se fores um cidadão cumpridor, tens a liberdade de dormir num lugar e de trabalhar noutro». Assim o filho-de-deus ascende por sua vez a pai, uma espécie de seu pai, e assim vai assistindo ao seu próprio trabalho e sentindo orgulho na obra feita e na obra desfeita, sentindo orgulho à medida que o seu filho vai deixando de fazer o que seria natural que fizesse para passar a fazer o que ele, filho-de-deus, faz; vai sentindo orgulho nos seus mecanismos que garantem a durabilidade do seu prestígio à medida que vê o seu filho transformando-se cada vez mais no seu filho-de-deus, noutro filho-de-deus, num filho-de-deus também. 10b

O filho-de-deus nunca está satisfeito: por isso acumula, tenta acumular tudo o que pensa que são garantias, por isso tem inveja, tem sempre inveja, inveja de tudo; por isso dorme mal, por isso tem prisão de ventre, por isso tem dores de cabeça. O filho-de-deus sente que devia estar permanentemente desperto, muito perto, cada vez mais perto dos princípios do pai que levam à formação de meios que conduzem à realização dos seus fins; o filho-de-deus sabe que de si depende o futuro de todos; por isso o filho-de-deus sofre a dor de «desperdiçar» tempo a dormir; lamenta o «defeito» de «desperdiçar» tempo a defecar, e é por isso que o filho-de-deus dorme mal, é por isso que retém as fezes, e é por isso que o lugar das fezes do filho-de-deus é dentro do filho-de-deus e não fora do filho-de-deus. Este reter das fezes, esta concentração do músculo anal, este receio, esta constante angústia em nome do velho pai provem de ele saber que nunca ninguém o obriga a fazer o que ele faz ou a não deixar fazer o que ele não deixa fazer, que na verdade ninguém o obriga, embora ele pretenda o contrário, ele pretenda sempre o contrário, pretenda sempre fazer crer que faz o que faz ou que deixa de fazer o que deixa de fazer, porque a tal é obrigado, e assim é, e assim não pode deixar de ser, e nem adiantaria ele pretender outra coisa. Mas o filho-de-deus sabe que faz o que faz, ou que não deixa fazer o que não deixa fazer, por uma disposição interior, uma disposição congénita, essa fatal disposição congénita que o leva a não viver e a não deixar viver. Ninguém exigiu do filho-de-deus que transformasse e humanizasse e que, para isso, fizesse os muros, as cercas, o arame-farpado, o preço do metro quadrado, as normas, as regras e as excepções, os graus, as habilitações, os certificados, os pareceres, as comissões, os testes, os tratados, as teorias, os códigos, os acordos, as fórmulas, os processos de viabilização, ninguém o incumbiu de se sacrificar pela ordem e pelo progresso, ninguém o quer ver preocupado; é ele mesmo que assim o quer. Ainda quando está liberto de trabalhos, o filho-de-deus preocupa-se com o que os outros estão a poder fazer na sua ausência (...). 10b

... hoje o filho-de-deus conduz subtilmente à greve de fome aqueles que outrora executava publicamente; o filho-de-deus em tempos chamava escravos aos que hoje chama emigrantes. Houve uma época em que o filho-de-deus entendia que a melhor maneira de não deixar os outros fazer o que ele entendia que os outros não deviam fazer era impedi-los de frequentar a escola; hoje entende que a melhor maneira de obter isso mesmo é tornar obrigatória a frequência da escola. A escola mudou; o filho-de-deus é sempre o mesmo. Isto é conhecido na literatura especializada como o problema da "aparente inconsistência temporal" do filho-de-deus, ou como a sua "optimalidade ex-pós", ou vice-versa. Houve tempos em que o filho-de-deus perseguia quem trabalhava em laboratórios, pois pressentia que esse trabalho ia contra os seus objectivos de filhode-deus; hoje em dia colabora com quem labora nos laboratórios, ou elabora ele mesmo esses laboratórios, pois o trabalho dos laboratórios é feito por sua conta e tendo em vista os seus objectivos. O filho-de-deus alargou a sua esfera de ocupações e preocupações à escola e ao laboratório, o filho-de-deus alarga permanentemente a sua esfera de ocupações e preocupações, e por isso não há lugar onde, procurando bem, não se encontre um filho-de-deus. 10b

Não há educação libertária que não seja auto-educação. 11/9

Precisamos aprender com os outros apenas o que não nos foi possível aprender sozinhos. 11/9

A necessidade de aprender é biológica, ela se faz sempre de dentro para fora. 11/9

O impulso pela busca do conhecimento é mais importante que a coisa conhecida. 11/9

Ensinar o que não foi perguntado, além de inútil, é uma espécie de estupro cultural. 11/10

As teorias educativas consistem em tirar alguma coisa antes de dar, censurar antes de oferecer modelos válidos, proibir e impor normas antes de socializar a experiência. 11/10

Somos todos diferentes uns dos outros, inclusive pelo interesse em conhecer. 11/10

A criança aprende tudo sozinha. Basta não impedi-la. Só precisamos ensinar-lhe detalhes tecnológicos. 11/10

A auto-educação pode receber ajuda, sugestão que se torna educativa na medida em que ativa forças latentes ou já em ação no indivíduo. 11/10

As universidades norte-americanas já provaram: os universitários saem com menor Ql do que quando entraram nelas. 11/10

Cada pessoa, após a leitura, estabelece seu próprio conceito de pedagogia libertária. Então, passamos a trabalhar as dificuldades e os caminhos possíveis para a sua realização na prática cotidiana. 11/10-1

... só é possível criar uma comunidade libertária com pessoas que hajam feito terapia corno a Sorna, na qual se descobre em suas vidas a origem do autoritarismo, da competição e dos meios de dominação sofridos através da violência explícita ou das chantagens afetivas na vida familiar e escolar burguesas. Após a terapia, as pessoas dispõem de experiência suficiente para a convivência na sinceridade, na solidariedade e na autogestão.

#

... a formação para a pedagogia libertária teria de começar numa forma de terapia (para livrar as pessoas de sua formação e deformação burguesas e capitalistas), depois experiência de vida comunitária em organizações anarquistas. Essas pessoas estariam em condições de corpo e de vida para discutir e praticar com terceiros o que seria a pedagogia libertária. 11/21

Anarquismo significa para nós vida livre e em grego é governo sem poder. Acreditamos ser possível viver em sociedade sem o exercício de poder, tanto do Estado quanto o social, através do trabalho, de afetos, da consangüinidade, do ensino, da publicidade, do financeiro. Assim, pode-se dizer que não existe anarquismo sem a prática de vida dos anarquistas, isto é, sem o jeito de viver da forma anarquista, não se exercitando qualquer forma de poder. Só dessa maneira torna-se possível a formação da teoria e da ideologia anarquistas. Isso porque não é a teoria anarquista que forma o anarquista, mas sim a vida cotidiana dos anarquistas que vai criando a ideologia conhecida por anarquismo. 11/21

... só é possível vencer a neurose quando é o cliente que luta pela sua originalidade única, para realização dos seus desejos. 11/41

Para os anarquistas a ação direta é mais necessária que para as outras organizações políticas, porque eles não dispõem de órgãos próprios de comunicação pública e sofrem intensa repressão em toda a mídia, tanto da direita quanto da esquerda. #... ação direta significa intervenção na vida social. # Os anarquistas são treinados hoje para ações diretas não chantagísticas, mas que levem a opinião pública a ser agitada por elas... # A ação direta libertária deve ter um motivo reconhecido em consenso. # ... o anarquista, vivendo a sua originalidade única, é uma pessoa que está fora do sistema capitalista autoritário e a sua sobrevivência física, sua capacidade criativa, seu amor libertário, sua produção autogestiva e sua pedagogia libertária são ações diretas permanentes, contundentes e contagiantes. 11/54-6

... Era da Utopia [pós anos 60]... homens e mulheres têm os mesmos direitos sociais. Em suas relações, o que predomina não é mais a complementação, mas basicamente a amizade e a solidariedade entre os dois sexos o que gera o amor suplementar, coisa ainda não vivida pela espécie humana, exigindo múltiplas experiências de muitos riscos e de grande beleza. # O amor libertário que se está vivendo hoje não encontra apoio algum no sistema capitalista, na vida burguesa e nem na moral religiosa. A origem de suas teses e de suas práticas encontra-se no anarquismo clássico, ateu e que sempre propôs o respeito pela originalidade única das pessoas, sugerindo não ser possível pessoas iguais, o que foi confirmado neste século pela genética. Se não existem pessoas iguais, não podem existir também amores iguais, relacionamentos iguais, assim como acasalamentos iguais. Tanto na forma quanto no tempo. A igualdade é só de direitos, não de natureza. 11/57-60

IX ¾ OBJETIVOS DA EDUCAÇÃO

... herdaram muitas das características de Rousseau, inclusive a maneira romântica com que defendia a espontaneidade, sua idéia de uma educação que desenvolva o que é latente na criança, de forma a desenvolver os seus instintos naturais e a sua percepção das virtudes primitivas. 1/17

[Paul Goodman]

Basicamente, nenhuma educação é certa: o ideal é crescer num mundo onde valha a pena viver. E, na verdade, nossa atual e excessiva preocupação com os problemas da educação demonstra que os adultos de hoje não vivem neste mundo. 1i/261

Uma educação decente tem como objetivo principal preparar o indivíduo para um futuro melhor, onde um espírito diferente anime a comunidade e onde seja possível criar novas ocupações que não sirvam apenas para obtenção de status e salários. 1i/262

A educação deve estimular a independência de pensamento e expressão, e não o conformismo. (...) mecanismos capazes de garantir a liberdade de milhares de veículos de comunicação independentes... 1i/264

Necessidade de mudar as relações sociais, mas também os homens ¾ formar pessoas capazes de decisão, que não deleguem poderes a ninguém. 2/s.p.

Acesso popular ao conhecimento para romper desigualdades ¾ educação libertadora. 2/s.p.

Fomentar desde pequenos o sentido crítico e a autonomia pessoal, assim como valores de solidariedade e liberdade. Família e escola, não só fábrica e campo, como pilares do capitalismo, transmitindo valores que o favorecem. (Revolução integral). 2/15-6

Criança como centro do processo, tentando desenvolver suas possibilidades e fazer dela uma criança livre. 2/16

Pedocentrismo inspirado em Rousseau ¾ "colocam na criança e nos seus próprios interesses o centro da educação e que entendem esta mais como pleno desenvolvimento de suas possibilidades do que como transmissão de um conjunto de valores socialmente admitidos.". 2/17

O objetivo final será, evidentemente, o de conseguir que as crianças sejam donas de sua própria vida e que não se deixem oprimir e explorar; para tanto, temos que fazê-las ver que não se deve uma obediência cega ao professor, como tampouco se deve esse tipo de obediência às autoridades sociais. Porém isto só se consegue se respeitarmos o próprio processo de desenvolvimento da criança. 2/17

Permitir a passagem da heteronomia para a autonomia (eixo central). Não prolongar a primeira e roubar da criança o protagonismo do seu processo educativo. 2/18

Ser donos de si mesmos e solidários com os demais. 2/19

O objetivo, pelo contrário, devia ser o de formar seres inteligentes, capazes de uma visão o mais completa e aberta possível da realidade natural e humana, pois só assim se poderão conseguir pessoas aptas a participar ativamente da vida comunitária, sem a inclinação a deixar-se governar por pessoas mais "expertas" ou mais "técnicas", que se amparam no saber para impor decisões que favoreçam a perpetuação dos privilégios. 2/22

De "a cada um segundo seu trabalho" para "a cada um segundo suas necessidades, de cada um segundo sua capacidade". 2/26

Levar o educando a construir a própria realidade histórico-social. 3/15

Prática coletiva que tem por objetivo maior o desenvolvimento da compreensão crítica da realidade e a ação participativa na transformação, segundo as necessidades de todos. 3/41

Aunque desconfiamos en principio de la institución escolar, los anarquistas tiene gran fe en el poder de la educación. Una de las mayores fuentes de esperanza para un mundo mejor es que la próxima generación, con la ayuda necesaria, crezca menos neurótica que la anterior. Algunos dicen incluso que educar a los niños para la libertad es la única esperanza real de crear uma sociedad anarquista. 5

"Educação não-repressiva", "pedagogia não-diretiva", aulas em "autogestão"... 9/7

[As comunidades escolares de Hamburgo (1919/30) (citações: Schmid, J. R. - Lê maître camarade et la pédagogie libertaire. Paris: Maspéro, 1971)]. ... princípios sólidos. O primeiro é o valor irredutível da infância; esta não é uma passagem transitória para a idade adulta, ela tem sua autonomia e sua finalidade próprias: "O que nos impede de admitir, hoje, [...] que a infância é o ápice da existência e de considerar a idade madura como uma descida, um decrescendo da vida?". Assim, a educação não deve orientar-se para o futuro, mas centrar-se no presente; ela não deve preparar para a idade adulta, mas permitir à criança viver suas necessidades atuais: "Para nós a tarefa da escola é oferecer à criança um local onde ela poderá ser criança, jovem e alegre". Desse modo, eles rejeitam a idéia de um ensino fundado no trabalho produtivo; a vida das crianças deve ser livre de toda preocupação de ordem econômica. Por sinal, os adultos devem abster-se de impor toda finalidade às crianças [...] "...é preciso recusar impor à educação um objetivo que venha de fora, que decorra do ideal social da época". 9/43-4

[A infância reencontrada]. ... educar não é mais tirar a criança de si mesma como na concepção tradicional, mas, ao contrário, devolvê-la à sua natureza; não é adulterá-la (se é que podemos arriscar esse jogo de palavras), mas engendrá-la para a sua própria verdade. 9/55

O objetivo dessas teorias e experiências [Europa] era a extinção das relações de dominação e de exploração que subsistem entre professores, alunos e funcionários que trabalham e vivem nas instituições escolares, de forma a permitir que a espontaneidade, a liberdade, a criatividade e a responsabilidade natural dos indivíduos pudessem emergir para configurações sociais integradas num modelo autogestionário de características libertárias. 11/14

X ¾ EXEMPLOS

Tolstoi: deixar que a ordem surja espontaneamente dos interesses dos alunos. 2/20

Ferrer: educar no espírito da ciência, liberando de preconceitos e dogmatismos, movimento positivista, final sec. XIX. 2/21

Kropotkin: proposta de autogestão da indústria e centros de produção ¾ trabalho mais criativo e menos pesado. 2/32

Freinet: Procurava seguir o empenho dos alunos e transformá-los pelo trabalho, por uma vivência coletiva, permeada pelo meio ambiente, pela ação. Para ele a liberdade faz parte do aprendizado histórico-social. 3/17

Freinet: síntese. 3/42

Aunque hacia los años 60 la institución escolar había aceptado los métodos libertarios en la escuela británica de A. S. Neill's Summerhill, se trataba de una escuela privada a la que sólo tenían acceso niños de padres ricos, que se horrorizaron al ver que métodos similares se estaban adoptando en escuelas públicas para niños de clase obrera. Los intentos más fructíferos se dieron en la Risinghill School y en William Tyndale School de Londres, pero fueron abortados por la autoridad educativa local y los profesores fueron expulsados. 5

Edgar Rodrigues exalta que no Brasil, as primeiras experiências anarquistas foram antes mesmo da chegada dos imigrantes: nos quilombos. Lá, tudo era de todos, terras, produção agrícola e artesanal: cada um retirava o necessário. 6c

[A Educação "harmoniosa" (Fourier e discípulos)]. ... a educação deve ser "integral" [...]: ela se dirige ao corpo e aos espírito e alia a prática e a teoria, o trabalho manual e a reflexão intelectual. Apóia-se sobre as vocações de instinto, os pendores da criança (sobre o interesse e as motivações, dir-se-ia hoje). Os conhecimentos só vêm para apoiar as ocupações "para aumentar seus meios e suas forças". A "série" ¾ isto é, o grupo de jovens formado espontaneamente segundo as afinidades ou as atividades ¾ é o quadro natural da educação, pois, segundo Fourier, "a série é a bússola de toda sabedoria em harmonia societária". A criança passa de um grupo a outro segundo a diversidade de suas ocupações e o nível que ela alcança em cada uma destas: conforme os casos, ela pedirá ajuda a uma mais avançada ou ajudará outra criança mais fraca. Desde então, os mestres não são mais impostos, mas escolhidos pelas séries; no limite, eles desaparecem; o papel deles é assumido pela criança cuja competência é reconhecida por seus colegas, pelo trabalhador que guia de modo benévolo a criança numa tarefa. Se permanecem professores, sua autoridade não é fundamentada sobre seu estatuto ou seus diplomas, mas sobre o valor de sua experiência; suas relações com os alunos são fundadas sobre a liberdade e o acordo mútuo: "Os grupos formam-se aqui como alhures por concurso de afeições e conveniências mútuas, por afinidades científicas e por simpatias caracteriais". 9/14-5

[Pierre-Joseph Proudhon e a Educação Politécnica]. Motor da emancipação dos trabalhadores, coroamento da revolução socialista, o ensino para todos é uma tarefa coletiva e pública. [...] "... a instrução é inseparável da aprendizagem, a educação científica, da educação profissional". Desse modo, ele vê antes a organização da educação partilhada em sua responsabilidade entre diferentes coletividades: a família, a comuna, a profissão, os sindicatos... 9/22

[Iasnaia-Poliana (escola de Tolstoi)]. "O único critério da pedagogia é a liberdade; o único método, a experiência". [...] Sem punições ou recompensas, sem anotações, sem exames; a ordem deve ser nascer das próprias necessidades da criança e instaurar-se espontaneamente fora de toda coação. Em Iasnaia-Poliana, cada aluno é levado ao estudo pelos interesses que lhe são próprios; ele nunca é obrigado a ir à escola, nem de estudar se lá estiver (mas o professor tem o direito de não aceita-lo)... 9/30-31

[Bakunin contra a ciência burguesa]. "todos devem trabalhar e todos devem instruir-se"; é preciso que não haja mais operários nem doutores, apenas homens. [...] Para fazer "homens completos no sentido pleno dessa palavra, são necessárias três coisas: um nascimento higiênico, uma instrução racional e integral, acompanhada de uma educação fundada sobre o respeito ao trabalho, à razão, à igualdade e à liberdade, e um meio em que cada indivíduo, gozando de sua plena liberdade, seria realmente, de direito e de fato, o igual de todos os outros". 9/33

[O Orfanato de Cempuis (Paul Robin)]. Robin recomenda deixar a criança fazer suas descobertas e contentar-se com responder às suas perguntas. O meio deve levar à curiosidade científica... 9/37

[A Escola Moderna (Francisco Ferrer) (citações de Dommanget, Maurice -Les Grands Socialistes et l’Education. Paris: A. Colin, 1970)]. ... suscita a organização de uma Liga internacional para educação racional da infância cujos objetivos são: dar ao ensino uma base científica e racional, defender a idéia de uma educação completa e harmoniosa, englobando "a formação da inteligência, o desenvolvimento do caráter, a cultura da vontade, a preparação de um ser moral e físico bem equilibrado" e assentar a pedagogia sobre um conhecimento da psicologia da criança. 9/41

[As comunidades escolares de Hamburgo (1919/30) (citações: Schmid, J. R. - Lê maître camarade et la pédagogie libertaire. Paris: Maspéro, 1971)]. "A própria criança com seus pendores e seus dons, suas forças e suas fraquezas, eis o que serve de plano ao nosso trabalho". Nada deve ser empreendido senão o que for provocado por impulsão provinda da criança. Não se trata de "conduzi-la", guiá-la, mas facilitar seu desenvolvimento próprio e espontâneo. A partir disto, o educador não é mais o representante de um mundo objetivo de propósitos e fins; é aquele que acompanha a criança em seu desenvolvimento, renunciando a desenhar o traçado ou a desviar o curso. # Nas comunidade de Hamburgo não há classes, mas "grupos" livremente constituídos em torno do mestre; cada grupo escolhe suas atividades... 9/44-5

[Utopia ou/e realismo]. ... correntes recentes da pedagogia [...] Summerhill, a Escola do Povo de Freinet, as "boutiques de crianças" de Berlim, a autogestão pedagógica, a não-diretividade, a pedagogia institucional ou as teorias de Illich. 9/67

A luta contra a pedagogia autoritária praticada pela família burguesa capitalista é algo que estamos praticando há trinta anos, por meio da Soma, uma prática pedagógico-terapêutica corporal e em grupo, inspirada na obra de Wilhelm Reich e visando tanto a prevenção quanto a recuperação de pessoas submetidas à repressão autoritária. Ela funciona através da dinâmica de grupo autogestiva, utilizando a capoeira Angola, técnicas bioenergéticas e gestálticas, em exercícios lúdicos e de conscientização política que proporcionam a oposição de uma ideologia do prazer (saúde) à ideologia do sacrifício (neurose). 11/6

[Experiências pedagógicas libertárias:

1. Paul Robin, orfanato Cempuis, França, 1880-1894

2. Sebastien Faure, A Colmeia, França, 1904-1917

3. Francisco Ferrer, Escola Moderna, principalmente Espanha, 1904-(1909)

4. Confederação Nacional dos Trabalhadores (CNT) no Congresso de Saragoza, projeto da Escola Nova Unificada, 1936-1939

5. Alexander Neil, Summerhill, Inglaterra, 1921

6. Comunidades Escolares de Hamburgo, Alemanha, 1919

7. Coletivo Paidéia em Mérida, Espanha.]. 11/16

[Filmes:

1. Zero de Conduta, Jean Vigo, 1933

2. If..., Lindsay Anderson, 1969

3. Sociedade dos Poetas Mortos, Peter Weir, 1989

4. Contestação dos Morangos, Stuart Hagman, 1970

5. A Batalha de Argel, Gillo Pontecorvo, 1966.]. 11/36

[creche] Escola Raízes... combate a todo tipo de autoritarismo na administração (...autogestão), no comportamento dos professores e recreadores, bem como no comportamento das crianças (que o trazem de sua formação familiar), a execução de um bom e eficiente projeto pedagógico (... baseado no construtivismo), na existência de um amplo jardim, com árvores, areia e piscina onde as crianças podem brincar livremente, sendo observadas pelos professores e recreadores. # ... visa estimular a solidariedade, a cumplicidade, a criatividade, a liberdade e a responsabilidade... valorizar e aplicar o aprendizado do trabalho e criatividade em grupo, de modo autogestivo. # cuidado com a segurança, a higiene, a alimentação... rodízio nas funções de administração impede que a criança perceba a escola organizada de modo hierárquico e dirigida de modo centralizado. 11/39

[Christiania: movimento hippie, comunidade libertária, Copenhague, Dinamarca, 1969]. Seus habitantes eram hippies, desempregados sem teto, anarquistas, artistas, comunistas e pessoas sem ideologia definida, mas adeptos da contracultura. Durante horas incontáveis de debates, idéias e ambições se fundiam, sendo esta a filosofia dominante: não às drogas pesadas, não a carros dentro da cidade, não à violência, não ao comércio dentro dos prédios ou áreas residenciais, não a cães que mordem... não a qualquer forma de autoritarismo na convivência social, não à centralização de poder e não à hierarquia. # A administração atual se resume a conselhos rotativos e reuniões, nas quais se eliminou o processo do voto. Um morador explica: "Nós nunca temos uma minoria em Christiania porque não votamos". # Diz-se que a experiência sociopolítica fundamental é que Christiania se organizou por ela mesma: "As pessoas podem cuidar de si mesmas, através e uma democracia popular baseada mais no consenso que em leis". # ... conhecida em todo o mundo como a primeira cidade livre, vivendo à base e princípios anarquistas,embora nem todos os seus habitantes professem essa ideologia. Mas todos que moram lá têm praticado vida autônoma e libertária, administrando e produzindo em autogestão, além de ser contra a sociedade de consumo, contra os hábitos da vida burguesa e, fundamentalmente, contra o capitalismo. Por isso é um povo de aparência pobre, numa cidade não muito limpa, mas é um povo alegre e lutador. # Não se percebe em Christiania diferença de classe social, fruto da exploração e da discriminação. As pessoas que trabalham mais e produzem mais levam vida mais confortável. Nela, o direito de produzir apenas o quanto se deseja é muito respeitado, possibilitando a algumas pessoas que trabalham só o necessário para a sobrevivência, garantir um lazer criativo e livre, talvez tão ou mais importante que o conforto e a posse farta de bens de consumo. 11/44-6 e 49

XI ¾ REALIDADE ENVOLVENTE

[Paul Goodman]

[Condado de Príncipe Eduardo, na Virgínia, crianças negras não freqüentaram a escola.] Mas o que seria dessas crianças? Para muitas delas, tanto as mais pobres quanto as que pertencem à classe média, o ambiente doméstico é pior do que qualquer escola e as ruas ainda piores, de uma forma diferente. 1i/259

Questão: a educação dos professores que não se deu nesse sentido e a vida fora da escola que opera com base na competição e desigualdade. (...) Nem fugir do papel, nem assumir a transformação total. 2/27

Contra o enfado. Escola ativa de Ferrière ¾ realidade rural ¾ dificuldades de conciliar exigências do programa, rigor dos horários, rebeldia das crianças às atividades que envolvem imobilidade física e mental. 3/23

[Bakunin contra a ciência burguesa]. "Na organização atual da sociedade, os progressos da ciência foram a causa da ignorância relativa do proletariado, assim como o progresso da indústria e do comércio foi a causa de sua miséria relativa. [...] destruindo a ordem social que faz delas o patrimônio de uma ou várias classes, devemos reivindicá-las como o bem comum de todos". 9/32

[As comunidades escolares de Hamburgo (1919/30) (citações: Schmid, J. R. - Lê maître camarade et la pédagogie libertaire. Paris: Maspéro, 1971)]. (Dificuldades que levaram ao fracasso: ataques externos, pressão de autoridades para aderirem aos objetivos das escolas públicas, queixa dos pais de que não aprendiam e não estavam preparados para a vida social, diferenças entre reformadores). ... as crianças entregavam-se à preguiça, a um diletantismo estéril ou a atitudes a-sociais... (falas de professores:) "Em toda parte constata-se um laisser-aller que parece dizer: somos nós a coisa principal"; "... as crianças crêem que não devem submeter-se às obrigações necessárias, porque acabam por achar que estava abaixo deles agir de outro modo que não sob a impulsão de inspirações momentâneas e sempre mutáveis". 9/47-8

[Crítica dos sistemas de educação estabelecidos]. A cultura é um privilégio reservado exclusivamente às famílias ricas e abastadas... [...] ... concebida para responder aos interesses das categorias dominantes. Mesmo quando uma educação é dada ao povo, não é para instruí-lo ou para responder às suas necessidades, mas para torna-lo mais eficaz num sistema de rentabilidade e de lucro... 9/53

[O poder do mestre?]. ... sucumbiram (Hamburgo) a uma certa "ilusão pedagógica" [...] rejeitaram a realidade como elemento referencial em sua relação com as crianças [...] e porque cortaram a relação pedagógica de sua função social... 9/65

[Utopia ou/e realismo]. O que essas pedagogias negligenciaram é que "toda educação consiste num esforço contínuo para impor à criança maneiras de ver, sentir e agir, às quais esta não chegaria espontaneamente (...) Essa pressão de todos os instantes que a criança sofre, é a própria pressão do meio social que tende a modelá-la à sua imagem e cujos pais e mestres são apenas os intermediários". E Durkheim conclui: "Não existe educação liberal". 9/65

[Utopia ou/e realismo]. ... não se lhes (anarquistas) pode censurar, no conjunto, por terem colocado a realidade entre parênteses e ignorado a função social do ensino. Eles estavam conscientes de que numa sociedade de classes, e uma sociedade hierárquica e autoritária, o ensino só podia ser um ensino de classe, hierarquizado e repressivo. 9/66

XI Crianças que foram educadas sob uma dessas três formas (ou sob todas) de autoritarismo entram na escola já deformadas e facilmente projetam nos professores o poder dos pais sobre si. Não conseguem criticá-los e, se o fazem, não transformam a crítica em ação, a não ser contra si mesmos, tornando-se indiferentes ao conhecimento e apresentando baixo rendimento escolar.

#

Homens e mulheres criados no ambiente familiar e escolar autoritários são os que garantem a manutenção das ditaduras e do capitalismo, bem como as falsas democracias. Eles "espelham e reproduzem o Estado", são pessoas neuróticas, fracas, despreparadas, incompetentes e impotentes para a vida pessoal plena e social satisfatória. Servem apenas para se submeter, obedecer, entrar em linha de montagem na produção, ser massificadas pela mídia e votar a favor dos poderosos, mostrando-se indiferentes, se conseguem um trabalho que os sustente, à miséria da maioria. Como conseguiu estudar ou trabalhar no sistema, pode suportar, indiferente, a convivência com os setenta milhões de conterrâneos que vivem na mais completa miséria. 11/6

Sentimos a importância de entender as formas de vida anarquista no plano pessoal, na relação do casal, na organização familiar e nas experiências de vida e de produção comunitárias. Mas, neste momento, só nos é possível estudar a possibilidade da criação de coletivos anarquistas. # ... no plano macrossocial está tudo ainda por viver e por criar. Por isso não nos preocupamos, por enquanto, com a noção e com a prática do que seja cidade ou nação, tanto do ponto de vista organizativo quanto do político. 11/25

XII ¾ HISTÓRIA DO ANARQUISMO

Movimento anarquista: pós onda de revoluções, 1860. 1/37

... movimento anarquista sobreviveu como uma ideologia e não como organização, em grupos isolados e indivíduos que se mantinham em contato, fazendo conferências melodramáticas que amedrontavam os doutores e raramente os convenciam. [faz lista das tendências dos principais]. 1/39-40

O anarquismo recuperou-se rapidamente dos danos causados pelos terroristas. No final do século, teve sua fase de grande influência através do desenvolvimento de um movimento de criação de uniões livres de sindicatos. ... anarco-sindicalismo. ... [sindicatos como] agentes de transformação da sociedade. 1/41

Grande força na Espanha, mas não resistiu, atacado por fascistas (Franco) e comunistas. 1/42

[Entre os anos 40 e 60, sem participação significativa]. 1/43

[Franco; II Guerra; Revolução Russa, 1917, bolcheviques consideravam os anarquistas os principais rivais. Rússia, França, Itália e Espanha: regimes totalitários em 1942. Em outros países ressurgia com refugiados e movimento modernista. Anos 40, como semente nas opiniões de intelectuais de língua inglesa.]. 1/44-5

[Pós 60] ressurgimento da corrente e pensamento anarquista acompanhada de movimentos ativistas que surgiram entre os jovens de vários países da Europa e da América. 1/ 47

... neo-anarquismo tinha duas raízes distintas. Surgiu em parte da experiência daqueles que haviam participado do movimento pelos direitos civis nos Estados Unidos desde 1950, e em parte dos grandes protestos de massa contra o desarmamento nuclear que ocorreram na Inglaterra nos primeiros anos da década de 60. 1/47

Por toda a Inglaterra começaram a nascer grupos dedicados à prática da ação direta e à exploração das implicações de uma sociedade sem guerra nem violência e, portanto, sem coerção. 1/47

[Característica marcante do neo-anarquismo: tendência essencialmente jovem e, especialmente, da classe média jovem.]

O novo libertarismo tem sido essencialmente uma revolta, não dos menos privilegiados e certamente não dos trabalhadores habilitados, os quais estão ocupados em defender suas recentes vitórias quanto ao padrão de vida, mas sim dos privilegiados que vêem a futilidade da riqueza como uma meta. 1/48

Neste contexto, uma importante figura moderadora, apesar de anarquistas ortodoxos nunca o terem aceitado, foi Aldous Huxley. O pacifismo de Huxley e sua visão da iminência de uma explosão demográfica, da destruição ecológica e da manipulação psicológica, tudo isso reunido numa visão social que, de várias maneiras, antecipou as preocupações do neo-anarquismo durante as décadas de 50 e 60. 1/48

Mesmo quanto à sua natureza, pela defesa que fazia da espontaneidade, da flexibilidade teórica, da vida simples, do amor e do ódio como elementos que se completavam, necessários tanto à ação social quanto à individual, o anarquismo exerceu uma atração especial sobre toda uma geração que rejeitava a impersonalidade das instituições massificadoras e o calculismo pragmático dos partidos políticos. # Em termos de organização social, a rejeição anarquista do Estado e a insistência na descentralização e na necessidade de assumir as responsabilidades básicas encontraram eco num movimento contemporâneo que exige que a democracia não seja representativa mas participatória e que sua ação seja direta. A repetição do tema do controle da indústria pelos operários também demonstra a influência duradoura das idéias criadas por Proudhon e que ele mesmo transmitiu aos anarco-sindicalistas. 1/49

Pedagogos anarquistas (sec. XIX, XX). Experiências diversas acontecem, embora se estabeleçam modelos que se sucedem. 2/s.p.

 

Movimentos Anarquistas:

Esta doutrina utópica se organizou primeiro na Rússia, durante a segunda metade do século XIX. No final desse século, o anarquismo na França, Itália, Espanha e Estados Unidos, associou-se ao sindicalismo formando o anarco-sindicalismo.

Mas, os movimentos sociais dos democratas e comunistas, partidários das idéias Marxistas, derrotaram a proposta revolucionária anarquista internacional. Somente na Espanha ele continuou com uma grande força mas foi destruído em 1936, na guerra civil.

O mais brilhante dos anarquistas foi indiscutivelmente Bakunin, um filho de ricos aristocratas russos. Tornou-se revolucionário a partir das influências de Proudhon; participou das rebeliões parisienses e praguenses, em 1848 e 1849 respectivamente. Ele foi preso por vários anos e exilado na Sibéria. Quando retornou, em 1870, entrou nas revoltas de Lyon e Bolonha. Fez muitas críticas à Marx, tendo sido expulso da Primeira Internacional em 1872; com vários de seus companheiros ele fundou a Internacional Saint-Imier.

Além de Bakunin, Proudhon (seu mestre) e Kropotrin, o anarquismo conta com artistas, jornalistas e intelectuais em geral: como Oscar Wilde, George Orwell, Picasso, Emma Goldman, Malatesta e George Woodcock.

Em 1879, após a morte de Bakunin, que era chamado de gênio da destruição, a propaganda anarquista feita por Kropotkine, Reclus, Malatesta e outros, atravessou um novo período de efervescência revolucionaria, pelo menos na parte ativa pensante do proletariado francês.

O anarquismo, apesar da lei repressiva de 1872, que fez muitas vítimas, alastrava-se de uma maneira espantosa, através da palavra, imprensa e do fato, adquirindo o partido revolucionário, vastas proporções, como ficou visto no conselho de Marselha, onde os operários franceses, em um número enorme, se declaravam pelo anarquismo. Em Lyon, como em outros grandes centros industriais, as idéias libertárias desenvolveram-se largamente, tendo sido, no pequeno período de três meses, publicados 16 periódicos revolucionários e um grande número de folhas soltas.

Essas propagandas, não poderiam deixar de produzir os seus frutos. Em agosto de 1872 Montecaules- Mines, era um teatro de grandes tumultos revolucionários e a igreja de Bois-du-Verne foi incendiada por meio de dinamites. Em 21 de outubro, uma poderosa bomba explodia no teatro de Bollecour, sendo Civoet, apontado erradamente como autor desse atentado.

O governo assistia amedrontado o processo rápido das idéias libertárias, assim procurando um pretexto para "sufocar" o movimento que estava tendo os seus triunfos. Em 1883, 66 indivíduos, entre os quais se achava Pedro Kropotkine, preso em Thonon, eram levados ao tribunal de Lyon, acusados de pertencerem a uma organização internacional de "malfeitores". O juri era composto por burgueses covardes e infames, sendo dos 66 acusados 47 condenados a vários anos de prisão, outros expulsos, etc. Este processos foi um dos mais importantes episódio da história revolucionária.

Em fins do século XIX o movimento sindical fortaleceu intensamente o anarquismo, resultando no movimento chamado anarco-sindicalismo, que enfatizava que os sindicatos deveriam não só brigar por salários mas também se tornar agentes de mudanças sociais. Foi na Espanha que este movimento se tornou mais expressivo, até quando não pôde mais resistir às investidas do exército do ditador Franco. Na Itália e Alemanha, o anarquismo foi instinto pelos movimentos fascista e nazista.

O anarquismo ressurgiu depois da Segunda Guerra Mundial e se reativou na década de 60 com o ativismo de jovens europeus e americanos, o que resultou no movimento estudantil de 1968, em Paris. 6b

 

Anarquismo no Brasil

O anarquismo no Brasil é algo especial- é favorável em alguns pontos e desfavorável em outros. Ele derivou principalmente da literatura e experiências socialistas européias.

Seu desenvolvimento, contudo, resultou da própria experiência brasileira embora a evolução de sua teoria e prática tenha mudado de maneira semelhante à do movimento anárquico europeu. O lado ruim é a baixa instrução das massas populares, aqueles que sabem ler são a minoria e os que sabem escrever são mais raros ainda.

O lado bom é que não há socialistas no Brasil, o único grupo que nos atiça é o dos carregadores e anexos do Rio, muito bem organizados em torno de bons advogados.

Edgar Rodrigues exalta que no Brasil, as primeiras experiências anarquistas foram antes mesmo da chegada dos imigrantes: nos quilombos. Lá, tudo era de todos, terras, produção agrícola e artesanal: cada um retirava o necessário.

Depois por volta de 1890, o sul do Brasil teve uma fracassada experiência anarquista, financiada pelo imperador.

No fim do século XIX, as aspirações anarquistas no Brasil ganharam vigor. A greve de 1917 foi comandada em sua maioria por anarquistas, a infinidade de jornais libertários da época inclusive atestaram a força e organização dos anarquistas do Brasil na época.

A primeira iniciativa dos anarquistas brasileiros foi tentar expandir o seu trabalho através do voluntarismo. Os primeiros jornais anarquistas e anarco-sindicalistas tentaram se sustentar apenas de contribuições, porém, os militantes eram poucos e não possuíam muitos recursos econômicos. Assim, poucos foram os jornais anarquistas que publicaram mais de cinco números, todos pediam exaustivamente contribuições em seus editoriais. A terra livre, o jornal melhor sucedido antes da primeira guerra mundial, só editou setenta e cinco números em cinco anos. O tempo passava e os anarquistas procuravam um suporte financeiro mais eficaz, passaram a vender assinaturas; usaram de recursos outrora considerados corruptos, como rifas e festas.

Estas últimas eram freqüentes, e seu êxito dependia muito mais das atrações sociais do que de sua dedicação ideológica.

As teorias e táticas do anarco-sindicalismo infiltraram se no Brasil através de livros do teóricos sindicalistas residentes na França. Como em todos países onde penetraram essas teorias difundiram se no Brasil através da imprensa, de panfletos, e das decisões dos congressos operários dominados por anarco-sindicalistas.

"A ação direta era a bandeira do sindicalismo revolucionário" . Cada ação direta, greves, boicotes, sabotagens, etc, era considerada um meio dos trabalhadores aprenderem a agir de uma maneira solidária na sua luta por melhores condições de trabalho, contra o seu inimigo comum, os capitalistas. Cada uma dessas ações diretas é uma batalha na qual o proletário conhece as necessidades da revolução por meio de sua própria experiência. Cada uma delas prepara o trabalhador para a ação final: a greve geral que destruirá o sistema capitalista.

Nestas ações, considerava violência algo aceitável, sendo justamente este o fato que distinguia o anarco-sindicalismo das outras formas de sindicalismo brasileiras. A sabotagem era considerada especialmente eficaz para o proletariado, se não pudessem entrar em greve, estes, poderiam agredir seus exploradores de outra forma, empregando a filosofia de que para um mau pagamento há um mau trabalho. A destruição de equipamentos tocaria no ponto fraco do sistema, pois as máquinas são mais difíceis de se substituir do que os trabalhadores.

Hoje em dia, ainda há no Rio e na Bahia jornais anarquistas, que publica a história do anarquismo e edita anarquistas brasileiros. 6c

 

Março de 2001

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