BORGES, Jorge Luis. Obras completas vol. 1. São Paulo: Globo, 1998. 707 p.; 21,5 cm.
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Citações...
p. 112
"entre os labirintos e as inconstâncias do vento".
p. 152
"tudo está dito: falta aposta".
p. 154
"labirintos de papelão pintado do truco".
p. 255
"um labirinto inestimável de projetos pretéritos".
p. 277
"William James nega que possam transcorrer catorze minutos, porque antes
é forçoso que tenham se passado sete, e antes de sete, três
minutos e meio, e antes de três e meio, um minuto e três quartos,
e assim até o fim, até o invisível fim, por tênues
labirintos de tempo."
p. 320
"Tanto lixo venerável e antigo construiu um delta, onde os gigantescos
ciprestes dos pântanos crescem sobre os despojos de um continente em perpétua
dissolução, e onde labirintos de barro, de peixes mortos, de juncos,
dilatam as fronteiras e a paz de seu fétido império."
p. 338
"perambulavam entre labirintos de cloacas".
p. 429
"Jesus é o caminho reto que nos permite fugir do labirinto circular
de tais enganos."
p. 507
"todo homem livre automaticamente participava dos sorteios sagrados, que
se efetuavam nos labirintos do deus a cada sessenta noites e que determinavam
seu destino até o próximo exercício."
p. 518
"é um simples labirinto de letras, mas a página penúltima
diz Oh, tempo tuas pirâmides."
p. 529
"- Aqui está o Labirinto - disse indicando-me uma alta escrivaninha
laqueada.
- Um labirinto de marfim! - exclamei. - Um labirinto mínimo...
- Um labirinto de símbolos - corrigiu. Um invisível labirinto
de tempo." [a citação completa tem duas páginas]
p. 533
"Desses labirintos circulares, salva-o uma curiosa comprovação
que depois o abisma em outros labirintos mais inextricáveis e heterogêneos".
p. 564
"eu sentia que o mundo é um labirinto, do qual era impossível
fugir, pois todos os caminhos, ainda que fingissem ir ao norte ou ao sul, iam
realmente a Roma".
/
"jurei pelo deus que vê com duas caras e por todos os deuses da febre
e dos espelhos tecer um labirinto em torno do homem".
p. 566
"- Em seu labirinto sobram três linhas a mais - disse por fim. -
Eu sei de um labirinto grego que é uma linha única, reta. Nessa
linha perderam-se tantos filósofos que bem pode perder-se um mero detetive.
[...]
- Para a outra vez que o matar - replicou Scharlach - prometo-lhe esse labirinto,
que se compõe de uma única linha reta, e que é invisível,
incessante."
p. 571
"havia previsto um labirinto de galerias, escadas e pavilhões. A
realidade foi menos rica."
p. 572
"Não trabalhou para a posteridade, nem ainda para Deus, de cujas
preferências literárias pouco sabia. Minucioso, imóvel,
secreto, urdiu no tempo seu alto labirinto invisível."
p. 578
"um rasqueado de guitarra, uma espécie de paupérrimo labirinto
que se enredava e desatava infinitamente..."
p. 595
"Insuportavelmente, sonhei com um exíguo e nítido labirinto:
no centro havia um cântaro; minhas mãos quase o tocavam, meus olhos
o viam, mas tão intrincadas e confusas eram as curvas que eu sabia que
ia morrer antes de alcançá-lo."
p. 597
"Havia nove portas naquele porão; oito davam para um labirinto que
falazmente desembocava na mesma câmara; a nona (através de outro
labirinto) dava para uma segunda câmara circular, igual à primeira.
Ignoro o número total de câmaras; minha desventura e minha ansiedade
as multiplicaram."
/
"Habituei-me com horror a esse duvidoso mundo; considerei inacreditável
que pudesse existir outra coisa além de porões providos de nove
portas e além de longos porões que se bifurcavam."
/
"Foi-me assim concedido ascender da cega região de negros labirintos
entretecidos à resplandecente Cidade."
p. 598
"Cautelosamente a princípio, com indiferença depois, com
desespero por fim, errei por escadas e pavimentos do inextricável palácio."
/
"À impressão de enorme antiguidade juntaram-se outras: a
do interminável, a do atroz, a do complexamente insensato. Eu havia cruzado
um labirinto."
/
"Um labirinto é uma casa edificada para confundir os homens; sua
arquitetura, pródiga em simetrias, está subordinada a esse fim.
No palácio que imperfeitamente explorei, a arquitetura carecia de fim.
Abundavam o corredor sem saída, a alta janela inalcançável,
a aparatosa porta que dava para uma cela ou para um poço, as inacreditáveis
escadas inversas, com os degraus e a balaustrada para baixo."
p. 599
"Não recordo as etapas de meu regresso, entre os poeirentos e úmidos
hipogeus. Sei apenas que não me abandonava o temor de que, ao sair do
último labirinto, me rodeasse outra vez a nefanda Cidade dos Imortais.
Nada mais posso lembrar. Esse esquecimento, agora insuperável, foi talvez
voluntário; talvez as circunstâncias de minha evasão tenham
sido tão ingratas que, em algum dia não menos esquecido também,
jurei esquecê-las."
p. 601
"a desatinada cidade que eu percorri: espécie de paródia
ou reverso e também templo dos deuses irracionais que manejam o mundo
e dos quais nada sabemos, salvo que não se parecem com o homem. Aquela
fundação foi o último símbolo a que condescenderam
os Imortais; marca uma etapa em que, julgando vã qualquer obra, determinaram
viver no pensamento, na pura especulação. Erigiram a obra, esqueceram-na
e foram morar nas covas. Absortos, quase não percebiam o mundo físico."
/
"Foi como um deus que criara o cosmos e em seguida o caos."
p. 613
"Agostinho tinha escrito que Jesus é a via reta que nos salva do
labirinto circular em que andam os ímpios".
/
"laboriosamente trivial, comparou-os a Ixion, ao fígado de Prometeu,
a Sísifo, àquele rei de Tebas que viu dois sóis, à
gaguice, a louros, a espelhos, a ecos, a mulas de carga e a silogismos bicornutos."
p. 614
""Isto ocorreu e voltará a ocorrer", disse Euforbo. "Não
acendeis uma pira, acendeis um labirinto de fogo. Se aqui se unissem todas as
fogueiras que eu tenho sido, não caberiam na terra e os anjos ficariam
cegos. Isto eu falei muitas vezes." Depois gritou, porque as chamas o atingiram."
p. 621
"um conjunto que é múltiplo sem desordem".
/
"Nenhuma dessas obras (eu sei) o impressiona por ser bela; tocam-no como
agora nos tocaria uma maquinaria complexa, cujo fim ignorássemos mas
em cujo desenho fosse adivinhada uma inteligência imortal."
p. 626
"armou a cavalo um extenso labirinto de idas e vindas".
p. 632
"É verdade que não saio de minha casa, mas também
é verdade que suas portas (cujo número é infinito) estão
abertas dia e noite aos homens e também aos animais. Que entre quem quiser.
Não encontrará pompas mulheris aqui nem o bizarro aparato dos
palácios, mas sim a quietude e a solidão. Por isso mesmo, encontrará
uma casa como não há outra na face da terra. (Mentem os que declaram
existir uma parecida no Egito.) Até meus detratores admitem que não
há um só móvel na casa. Outra afirmação ridícula
é que eu, Astérion, sou um prisioneiro. Repetirei que não
há uma porta fechada, acrescentarei que não existe uma fechadura?"
p. 633
"Todas as partes da casa existem muitas vezes, qualquer lugar é
outro lugar. Não há uma cisterna, um pátio, um bebedouro,
um pesebre; são catorze [são infinitos] os pesebres, bebedouros,
pátios, cisternas. A casa é do tamanho do mundo; ou melhor, é
o mundo."
p. 636
"Falou de munições que não chegaram e de cavalhadas
rendidas, de homens sonolentos e terrosos tecendo labirintos de marchas".
p. 646
"somos comparáveis ao feiticeiro que tece um labirinto e que se
vê forçado a errar nele até o fim de seus dias".
p. 650
"O medo do grosseiramente infinito, do mero espaço, da mera matéria,
tocou Averróis por um instante. Olhou o simétrico jardim; sentiu-se
envelhecido, inútil, irreal."
p. 664
"Imaginei a primeira manhã do tempo, imaginei meu Deus confiando
a mensagem à pele viva dos jaguares, que se amariam e se gerariam eternamente,
em cavernas, em canaviais, em ilhas, para que os últimos homens a recebessem.
Imaginei essa rede de tigres, esse quente labirinto de tigres, causando horror
aos prados e aos rebanhos para conservar um desenho."
p. 666
"Do incansável labirinto de sonhos regressei, como à minha
casa, à dura prisão. Bendisse sua umidade, bendisse seu tigre,
bendisse a fresta de luz, bendisse meu velho corpo dolorido, bendisse a treva
e a pedra."
p. 668
"Com o passar dos anos, as circunstâncias de sua morte continuam
obscuras. Unwin perguntou por quê, docilmente. - Por diversas razões
- foi a resposta. - Em primeiro lugar, esta casa é um labirinto."
p. 669
"Subindo colinas arenosas, haviam chegado ao labirinto. Este, de perto,
pareceu-lhes uma direta e quase interminável parede, de tijolos sem reboco,
pouco mais alta que um homem. Dunraven disse que tinha a forma de um círculo,
mas tão extensa era sua área que não se percebia a curvatura.
Unwin lembrou-se de Nicolau de Cusa, para quem toda linha reta é o arco
de um círculo infinito... Por volta da meia-noite, descobriram uma arruinada
porta, que dava para um cego e perigoso corredor. Dunraven disse que no interior
da casa havia muitas encruzilhadas, mas que, sobrando sempre à esquerda,
chegariam em pouco mais de uma hora ao centro da rede. Unwin assentiu. Os passos
cautelosos ressoaram no solo de pedra; o corredor se bifurcou em outros mais
estreitos. A casa parecia querer asfixiá-los, o teto era muito baixo.
Tiveram de avançar um atrás do outro pela complicada treva. Unwin
ia adiante. Embrutecido de asperezas e de ângulos, fluía sem fim
contra sua mão o invisível muro."
/
"Pareceu intolerável que uma casa constasse de um único aposento
e de léguas e léguas de corredores."
p. 670
"A história de um rei a quem a Divindade castigou por ter erguido
um labirinto".
p. 671
""Dizia: 'Como agora me apagas, eu te apagarei, onde quer que estejas'.
Jurei frustrar essa ameaça; ficarei oculto no centro de um labirinto
para que seu fantasma se perca"."
/
"tratou de pensar que o mouro estava louco e que o absurdo labirinto era
símbolo e claro testemunho de sua loucura. Depois refletiu que essa explicação
condizia com o extravagante edifício e com o extravagante relato".
/
"Aquele, tão logo os pedreiros concluíram a obra, instalou-se
no centro do labirinto."
p. 672
"pensou que teriam de dormir no labirinto, no aposento central do relato,
e que na lembrança essa longa incomodidade seria uma aventura."
p. 672-673
"O tempo, na escuridão, parecia mais longo; os dois temeram haver
perdido o caminho e estavam muito cansados quando uma tênue claridade
superior lhes mostrou os degraus iniciais de uma estreita escada. Subiram e
chegaram a um arruinado quarto redondo. Dois sinais perduravam do medo do malfadado
rei: uma estreita janela que dominava os páramos e o mar e no chão
um alçapão que se abria sobre a curva da escada. O quarto, embora
espaçoso, tinha muito de cela carcerária.
"Menos instados pela chuva que pelo afã de viver para rememorar
e contar, os amigos passaram a noite no labirinto. O matemático dormiu
com tranqüilidade, o que não aconteceu com o poeta, acossado por
versos que sua razão julgava detestáveis".
p. 673
"Não precisa erguer um labirinto, quando o universo já o
é." [a citação completa tem duas páginas]
p. 678
"Anos de solidão haviam lhe ensinado que os dias, na memória,
tendem a ser iguais, mas que não há um dia, nem mesmo de prisão
ou de hospital, que não traga surpresas."
p. 682 a 683
"Os muitos anos haviam-no reduzido e polido como as águas a uma
pedra ou as gerações dos homens a uma sentença."
p. 689
"Em sua redação haviam colaborado a aplicação,
a resignação e o acaso".
p. 692
"estender até o infinito as possibilidades da cacofonia e do caos".
p. 696
"em pequeno, eu costumava maravilhar-me com o fato de que as letras de
um livro fechado não se misturassem e se perdessem no decorrer da noite".
p. 697
"Na rua, nas escadarias de Constituición, no metrô, pareceram-me
familiares todos os rostos. Tive medo de que não restasse uma única
coisa capaz de surpreender-me, tive medo de que não me abandonasse jamais
a impressão de voltar. Felizmente, depois de algumas noites de insônia,
agiu outra vez sobre mim o esquecimento."
p. 698
"o símbolo dos números transfinitos, nos quais o todo não
é maior que qualquer das partes."
/
"Nossa mente é porosa para o esquecimento".