BORGES, Jorge Luis. Obras completas vol. 2. São Paulo: Globo, 1999. 565 p.; 21,5 cm.
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Citações...
p. 14
"o espaço absoluto que inspirou os hexâmetros de Lucrécio,
o espaço absoluto que para Bruno fora uma libertação, foi
um labirinto e um abismo para Pascal. Este abominava o universo e desejaria
adorar a Deus, mas Deus, para ele, era menos real que o abominado universo.
Deplorou que o firmamento não falasse, comparou nossa vida à de
náufragos em uma ilha deserta. Sentiu o peso incessante do mundo físico,
sentiu vertigem, medo e solidão"."
p. 17
"o triste e labiríntico Henry James".
p. 24
"[Labyrintho, de Juan de Mena] Neste poema do século XV há
uma visão de "três mui grandes rodas": a primeira, imóvel,
é o passado; a segunda, giratória, o presente; a terceira, imóvel,
o futuro."
p. 25
"esse mau hábito intelectual denunciado por Bergson: conceber o
tempo como uma quarta dimensão do espaço."
p. 27
"oitenta anos de esquecimento talvez equivalham à novidade."
p. 29
"o planeta foi criado há poucos minutos, provido de uma humanidade
que "recorda" um passado ilusório".
p. 34
"Nesse livro, a forma não contradiz o conteúdo."
p. 38
"O mundo, para o europeu, é um cosmos em que cada um corresponde
intimamente à função que exerce; para o argentino, é
um caos."
p. 40
"Franz Kafka, seus crescentes e sórdidos labirintos."
p. 43
"a metáfora é o contato momentâneo de duas imagens,
não a metódica assimilação de duas coisas."
p. 48
"É verossímil que estas observações tenham
sido enunciadas alguma vez, e quem sabe muitas vezes; a discussão de
sua novidade interessa-me menos que a de sua possível verdade."
p. 51
"talvez seja um erro supor que as metáforas possam ser inventadas.
As verdadeiras, as que formulam íntimas conexões entre duas imagens,
sempre existiram; as que ainda podemos inventar são as falsas, as que
não vale a pena inventar."
p. 52 a 53
"Vivi recluído, sem o menor propósito de fazê-lo, sem
a menor suspeita de que isso me ocorreria. Converti-me em prisioneiro, tranquei-me
em um calabouço, e agora já não encontro a chave, e, mesmo
que a porta estivesse aberta, quase teria medo de sair." [Nathaniel Hawthorne]
p. 59
"Na memória, os vinte anos de solidão parecem-lhe um interlúdio,
um mero parêntese."
p. 60
"Na desordem aparente de nosso misterioso mundo, cada homem vive ajustado
a um sistema com tão refinado rigor - e os sistemas entre si, e todos
a tudo - que o indivíduo que se desvia, por um momento que seja, corre
o terrível risco de perder seu lugar para sempre." [Nathaniel Hawthorne]
p. 63
"o propósito de abolir o passado já ocorreu no passado e
- paradoxalmente - é uma das provas de que o passado não pode
ser abolido. O passado é indestrutível; cedo ou tarde, todas as
coisas voltam, e uma das coisas que voltam é o projeto de abolir o passado."
p. 66
"É um símbolo múltiplo, um símbolo capaz de
muitos valores, talvez incompatíveis. Para a razão, para o entendimento
lógico, tal variedade de valores pode constituir um escândalo,
mas não para os sonhos, que têm sua álgebra singular e secreta,
e em cujo ambíguo território uma coisa pode ser muitas."
p. 69
"Valéry personifica ilustremente os labirintos do espírito."
p. 76
"a música nos revela um passado desconhecido e talvez real".
/
"se arrepender de um ato é alterar o passado".
/
"não há homem que não seja, a cada instante, aquilo
que foi e que será".
p. 79
"fala de uma prisão de espelhos; fala de um labirinto sem centro".
p. 86
"Lembra-te do essencial: a porta está aberta." [Epicteto]
p. 89
"não projeta a imagem de uma doutrina ou de um procedimento dialético,
e sim de um poeta perdido no tempo e no espaço. No tempo, porque, se
futuro e passado são infinitos, não haverá realmente um
quando; no espaço, porque, se todo ser eqüidista do infinito e do
infinitesimal, tampouco haverá um onde."
p. 90
"Essa edição propõe-se reproduzir, mediante um complexo
sistema de sinais tipográficos, o aspecto "inacabado, híspido
e confuso" do manuscrito".
p. 91
"não há átomo no espaço que não encerre
universo nem universo que não seja também um átomo".
p. 119
"seu biógrafo destrincha (ou tenta destrinchar) sua vida labiríntica".
p. 121
"as Carceri d'Invenzione, de Piranese; águas-fortes elogiadas por
Beckford, que representam poderosos palácios que são também
labirintos inextricáveis."
p. 125
"com o tempo, as imaginações de um homem tornam-se lembranças
pessoais de muitos outros".
p. 135
"a arte alegórica pareceu em algum momento encantadora (o labiríntico
Roman de la Rose, que perdura em duzentos manuscritos, consta de vinte e quatro
mil versos) e agora é intolerável. Sentimos que, além de
intolerável, é tola e frívola."
p. 143
"viver é penetrar em um estranho aposento do espírito, cujo
chão é o tabuleiro onde jogamos um jogo inevitável e desconhecido
contra um adversário cambiante e por vezes pavoroso."
p. 144
"uma estirpe de homens decrépitos e imortais, entregues a débeis
apetites que não podem satisfazer, incapazes de conversar com seus semelhantes,
porque o decorrer do tempo modificou a linguagem, e de ler, porque sua memória
é insuficiente para passar de uma linha a outra."
p. 154
"Um mundo de impressões evanescentes; um mundo sem matéria
nem espírito, nem objetivo nem subjetivo; um mundo sem a arquitetura
ideal do espaço; um mundo feito de tempo, do absoluto tempo uniforme
dos Principia; um labirinto incansável, um caos, um sonho."
p. 155 a 156
"Nego, em um elevado número de caos, a sucessividade; nego, em um
elevado número de casos, também a simultaneidade. Engana-se o
amante que pensa "enquanto eu estava feliz da vida, pensando na fidelidade
de meu amor, ela me enganava": se cada estado que vivemos é absoluto,
essa felicidade não foi contemporânea dessa traição;
a descoberta da traição é mais um estado, incapaz de modificar
os "anteriores", embora não sua lembrança. A desventura
de hoje não é menos real que a ventura pretérita."
p. 156
"Cada instante é autônomo. Nem a vingança, nem o perdão,
nem as prisões, nem sequer o esquecimento podem modificar o invulnerável
passado. Não menos vãos parecem-me a esperança e o medo,
que sempre se referem a fatos futuros; ou seja, a fatos que não ocorrerão
conosco, que somos o minucioso presente."
/
"nos agrada porque suprime os detalhes ociosos, como a lembrança".
p. 160
"Arrisco esta conclusão".
p. 163
"existiam como termo n de uma infinita série temporal, entre n-I
e n+I."
p. 165
"Tais raciocínios, como se vê, negam as partes para depois
negar o todo; eu rejeito o todo para exaltar cada uma das partes."
p. 171
"o número de fábulas ou metáforas de que é
capaz a imaginação dos homens é limitado, mas essas contadas
invenções podem ser tudo para todos".
p. 175
"Minha vaidade e minha nostalgia armaram uma cena impossível."
/
"amanhã eu também estarei morto e nossos tempos se confundirão
e a cronologia se perderá num orbe de símbolos".
p. 177
"Nunca se havia demorado nos gozos da memória. As imprecisões
deslizavam sobre ele, momentâneas e vívidas".
p. 177 a 178
"Descendeu então a sua memória, que lhe pareceu interminável,
e conseguiu extrair daquela vertigem a lembrança perdida que reluziu
feito a moeda sob a chuva, talvez porque nunca a tivesse olhado, a não
ser, talvez, em um sonho."
p. 178
"ele a procurou por galerias que eram como redes de pedra".
/
"Por que o alcançavam essas lembranças e por que o alcançavam
sem amargura, feito mera prefiguração do presente."
p. 180
"agrada a muitas pessoas, porque lhes mentiram que é antiga".
p. 185
"Talvez a esta lembrança tenham seguido outras, mas o índio
não podia viver entre paredes e um dia foi em busca de seu deserto. Gostaria
de saber o que sentiu naquele instante de vertigem em que o passado e o presente
se confundiram".
p. 187
"E agora procuro essa memória e a observo e penso que era falsa
e que por trás da despedida trivial estava a infinita separação."
p. 188
"Que títulos são esses para a lembrança? Eu vivo e
seguirei vivendo por muitos anos na memória das pessoas".
p. 189
"O favor da posteridade não vale mais do que o contemporâneo,
que não vale nada".
p. 194
"Fatos que povoam o espaço e que chegam ao fim quando alguém
morre podem maravilhar-nos, mas uma coisa, ou um número infinito de coisas,
morre em cada agonia, a não ser que exista uma memória do universo".
p. 195
"o sonho de um é parte da memória de todos."
p. 196
"não há na terra uma só coisa que o esquecimento não
apague ou que a memória não altere".
/
"ninguém sabe em que imagens o traduzirá o futuro."
p. 198
"Quem, ao andar pelo crepúsculo ou ao descrever uma época
de seu passado, não sentiu em algum momento que uma coisa infinita se
perdera?"
/
"Quem sabe não o veremos esta noite nos labirintos do sonho, sem
saber disso amanhã."
p. 199 a 200
[todo]
p. 206
"minha vida é uma fuga e tudo eu perco e tudo é do esquecimento".
p. 214
"Tudo acontece e na memória é perda".
p. 215
"E o prazer de perder-se no errante / Rio do tempo (rio e labirinto)".
p. 216
"Sem atrever-se a pisar este perplexo / Labirinto, observava, sorrateira,
/ As formas, o tumulto e a carreira".
p. 223
"E vencerá as bárbaras distâncias, / Farejará
no enleado labirinto / Dos olores o olor da alvorada".
p. 235
"De sonhos [...] / Que [...] / Urdiram a memória e o esquecimento".
p. 236
"Com a escória dos sonhos, indistinto / Limo que o Nilo dos sonhos
deixa, / Com eles foi tecida a madeixa / Desse resplandecente labirinto, / Desse
enorme diamante no qual um homem / Pode perder-se venturosamente / Por espaços
de música indolente, / Para além de sua carne e de seu nome."
p. 242
"Para além do acaso e da morte / Sobrevivem, e cada qual tem sua
história, / Mas tudo isso ocorre nessa sorte / De quarta dimensão,
que é a memória."
p. 254
"Um homem se propõe a tarefa de desenhar o mundo. Ao longo dos anos,
povoa um espaço com imagens de províncias, de reinos, de montanhas,
de baías, de naus, de ilhas, de peixes, de moradas, de instrumentos,
de astros, de cavalos e de pessoas. Pouco antes de morrer, descobre que esse
paciente labirinto de linhas traça a imagem de seu rosto."
p. 264
"Quando Roma for pó, na infinda noite, com asco / Gemerá,
no palácio fétido, o minotauro."
p. 266
"Não pesará odiado labirinto / de triplo ferro e fogo doloroso
/ sobre as almas atônitas dos réprobos."
p. 268 a 269
"A esta ruidosa tarde me levava / o labirinto múltiplo de passos
/ que meus dias teceram desde um dia / da infância."
p. 270
"E o tempo irreversível que nos foge e nos dói, / Água,
nada mais é do que uma de tuas metáforas. // Sob ventos destruidores,
tu foste o labirinto / Sem paredes, janelas, cujo caminho gris / Tão
longe desviou o idolatrado Ulisses, / A Morte inexorável e o Acaso indistinto."
p. 273
"o furioso labirinto dos exércitos".
p. 275
"trens que teciam labirintos de ferro".
/
"O sonho como um tesouro enterrado, o dadivoso acaso / E a memória,
que o homem não olha sem vertigem, / Tudo isso te foi dado".
p. 278
"Um ávido cristal que apreenderia / O quanto a noite encerra ou
abre o dia: / Dédalo, labirinto, enigma".
p. 280
"Uma há, dentre as memórias todas tuas, / Que se perdeu irreparavelmente".
p. 282
"Labirintos, antíteses, emblemas, / Trabalhosa e fria quinquilharia".
p. 283
"Sei outra conclusão. Dado a seus temas / Minúsculos, Gracián
não viu a glória / E segue resolvendo na memória / Labirintos,
antíteses e emblemas."
p. 286
"Não à maneira de outras que uma vaga / Sombra insinuam sobre
a vaga história, / Verde está ainda e viva a memória".
p. 290
"Num instante que emerge hoje isolado, / Sem antes nem depois, contra o
olvido, / E que tem o sabor do já perdido, / Do já perdido e do
recuperado."
p. 295
"Ah! Se aquele outro despertar, a morte, / Deparasse-me um tempo sem memória".
p. 302
"o místico alfabeto / Dos astros, que hoje ditam a meu cálamo
/ Nomes que o infatigável labirinto / Dos dias não arrasta".
p. 311
"No centro pontual do emaranhado / Há Deus, a Aranha, o outro aprisionado."
p. 317
"Nossa história, / Como as de Proteu, muda formas, signos. / Que
errante labirinto, que brancura / Cega de resplandor ser-me-á a sorte,
/ Ao entregar-me ao fim desta aventura / A experiência incógnita
da morte?"
/
"Quero beber seu cristalino Olvido, / Ser para sempre; mas jamais ter sido."
p. 318
"O presente está só. Só a memória / Erige o
tempo. Sucessão e engano / São a rotina do relógio. O ano
/ Menos vão não é do que a história."
p. 321
"Mas não basta, somente, ser valente / Para aprender a arte de esquecer."
p. 323
"este labirinto [ruas indefinidas] / de linhas retas, não de complexidade,
/ aonde o leva o tempo de um homem / cuja verdadeira vida está longe."
p. 328
"Só não há uma coisa. É o esquecer."
/
"E tudo é uma parte do diverso / Cristal dessa memória, o
universo; / Jamais têm fim seus árduos corredores / E a ti fecham-se
as portas com descaso".
p. 331
"As mãos e o espaço de jacinto / Que nas portas do Gueto
empalidece / Quase não há para o homem que assim tece / Quieto
os sonhos de um claro labirinto."
p. 332 a 333
"podemos esquecer-te / como esquecemos nosso próprio passado, /
porque inseparavelmente estás em nós, / nos íntimos hábitos".
p. 334
"ter errado pelo rubro e tranqüilo labirinto de Londres, / ter envelhecido
em tantos espelhos".
p. 336
"A cada instante de meu sono ou de minha vigília / corresponde outro
da cega moeda. / Às vezes senti remorso / e outras, inveja / de ti que
estás, como nós, no tempo e em seu labirinto / e que não
o sabes."
p. 337
"Quero dar graças ao divino / Labirinto dos efeitos e das causas
/ Pela diversidade das criaturas / Que formam este singular universo".
/
"Pela razão, que não cessará de sonhar / Com um plano
do labirinto".
p. 338
"Pela linguagem, que pode simular a sabedoria, / Pelo esquecimento, que
anula ou modifica o passado, / Pelo costume, / Que nos repete e nos confirma
como um espelho".
p. 349
"E a cidade, agora, é como um traçado / Dos fracassos e ofensas
que vivi; / Os ocasos desde essa porta eu vi / Ante esse mármore, em
vão, aguardados. / O incerto ontem aqui, e o hoje distinto / Aqui os
banais casos me deparam / De toda sorte humana; aqui armaram / Meus passos o
incontável labirinto."
p. 350
"Não sou eu, são os mortos quem te gera. / São meu
pai, o seu pai, os de outras eras / Traçando um longo dédalo de
amores".
p. 359
"Na memória / Dos tempos que ainda vêm / Cada qual de nós
será / Duro e audaz como ninguém. // Os vis serão generosos
/ E os fracos, bravos e altivos, / Não há nada como a morte /
Para melhorar os vivos."
p. 368
"O tempo que é esquecimento, / O tempo os levou embora."
p. 371
"O tempo / É esquecimento e memória."
p. 377
"Aos espelhos, labirintos e espadas que já prevê meu resignado
leitor acrescentaram-se dois temas novos: a velhice e a ética."
p. 379
"Conheci a memória, / essa moeda que não é nunca a
mesma. / Conheci a esperança e o temor, / esses dois rostos do incerto
futuro. / Conheci a vigília, o sono, os sonhos, / a ignorância,
a carne, / os torpes labirintos da razão, / a amizade dos homens, / a
misteriosa devoção dos cães."
p. 382
"quarta-feira, / o dia daquele deus dos labirintos / que no Norte foi Odin."
p. 383
"Não está no tempo sucessivo, / mas nos reinos espectrais
da memória. / Como nos sonhos, / atrás das altas portas não
há nada, / nem sequer o vazio. / Como nos sonhos, / atrás do rosto
que nos contempla não há ninguém. / Anverso sem reverso,
/ moeda de uma única efígie, as coisas. / Essas misérias
são os bens / que o precipitado tempo nos deixa. / Somos nossa memória,
/ somos esse quimérico museu de formas inconstantes, / essa pilha de
espelhos rotos."
p. 388
[tudo]
p. 389
[tudo]
p. 393
"Tece para baluarte de tua ilha / Redes de pesadelos. / Que por seus labirintos
de tempo / Errem sem fim os que odeiam. / Que sua noite se meça por centúrias,
por eras, por pirâmides, / Que as armas sejam pó, pó os
rostos, / Que nos salvem agora as indecifráveis arquiteturas / Que causaram
horror a teu sonho."
/
"Pai de sinuosos períodos que já são labirintos e
torres, / Pai das palavras que não se esquecem".
p. 398
"Quem me dirá se estás nos perdidos / Labirintos de rios
seculares / De meu sangue, Israel? Quem, os lugares / Por meu sangue e teu sangue
percorridos?"
p. 402
"o imaginado e o passado já são o mesmo".
p. 406
"Tu, enquanto forjavas / nas cidades do desterro, / naquele deserto que
foi / teu detestado e escolhido instrumento, / a arma de tua arte, / construías
teus árduos labirintos, / infinitesimais e infinitos, / admiravelmente
mesquinhos, / mais populosos que a história. / Morreremos sem ter divisado
/ a biforme fera ou a rosa / que são o centro do teu dédalo, /
mas a memória tem seus talismãs, / seus ecos de Virgílio,
/ e assim nas ruas da noite perduram / teus infernos esplêndidos".
p. 409
"Torpe e furtiva, essa obscena súcia / Cercou-o: o Demônio
de servis / Olhos, os labirínticos reptis / E o branco ancião
do relógio de areia."
p. 411
"É o dédalo crescente de luzes que divisamos do avião".
/
"passei dez dias e dez noites, imóvel, dias e noites que são
na memória um instante."
p. 413 a 414
[tudo]
p. 417
"Compreendeu que não podia lembrar-se das formas, dos sons e das
cores dos sonhos; não havia formas, cores nem sons, e não eram
sonhos. Eram sua realidade, uma realidade além do silêncio e da
visão e, por conseguinte, da memória."
p. 418
"o esquecimento / é uma das formas da memória, seu impreciso
porão, / o outro lado secreto da moeda."
p. 419
"Das gerações dos textos que há na terra / só
terei lido uns poucos, / os que continuo lendo na memória, / lendo e
transformando."
p. 423
"As últimas narrativas de Kipling não foram menos labirínticas
e angustiosas que as de Kafka ou as de James".
p. 427
"Dizem (o que é improvável) que a história foi contada
por Eduardo".
p. 444
"Fora o truco, cuja finalidade essencial é encher o tempo com diabruras
e versos, e os modestos labirintos da paciência, nunca gostei de baralho."
p. 456
"não desfrutara, que eu saiba, de prazeres intelectuais; restariam
a ela somente os que a memória e depois o esquecimento dão."
p. 462
"o exemplo que nos dão os tapetes, os caleidoscópios e as
gravatas".
p. 465
"o esquecimento e a lembrança são inventivos."
p. 485
"Não sei nem se conseguiriam enxergar uma cadeira. Uma casa com
vários quartos constituiria um labirinto para eles, mas talvez não
se perdessem, como tampouco um gato se perde, embora não possa imaginá-la."
p. 486
"A memória dos Yahoos é fraca ou quase não a têm;
falam dos estragos causados por uma invasão de leopardos, mas não
sabem se foram eles ou os seus pais que a viram ou se estão contando
um sonho. Os feiticeiros têm memória, embora em grau mínimo;
podem lembrar à tarde fatos que ocorreram pela manhã ou até
na tarde anterior".
/
"Filosoficamente, a memória não é menos prodigiosa
que a adivinhação do futuro; o dia de amanhã está
mais perto de nós que a travessia do mar Vermelho pelos hebreus, que,
no entanto, lembramos."
p. 503
"ASTÉRION. // O ano me tributa meu pasto de homens / E na cisterna
há água. / Em mim se estreitam os caminhos de pedra. / De que
posso queixar-me? / Nos entardeceres / Pesa-me um pouco a cabeça de touro."
/
"A meta é o esquecimento. / Eu cheguei antes."
p. 510
"A memória, essa forma de olvido / Que retém o formato, não
o sentido".
/
"O tempo minucioso, que na memória é breve".
p. 517
" A simétrica rosa momentânea / Que deu o acaso certa vez
aos vidros / Ocultos do infantil caleidoscópio."
/
"O inverso do prolixo mapa-múndi. / A tênue teia de aranha
na pirâmide."
p. 527
"O homem é excessivo. As gerações / Inúmeras
de aves e de insetos, / Do jaguar constelado e da serpente, / De galhos que
se tecem e entretecem, / Do café, da areia e das folhas / Oprimem as
manhãs e nos prodigam / Seu minucioso labirinto inútil."
p. 528
"Estou em uma cela circular e a infinita parede se estreita."
p. 544
"Não lembrarás este sonho, porque teu esquecimento é
necessidade para que se cumpram os fatos."
p. 545
[tudo]
p. 549
"à criança que fui e não morreu".
p. 552
"Os dias e as noites / estão entretecidos (interwoven) de memória
e de medo, / de medo, que é um modo da esperança, / de memória,
nome que damos às fendas do férreo esquecimento."
p. 554
"incansáveis papéis / Para os arquivos do pó / E dos
livros, que são simulacros da memória".