Universidade Federal do Ceará
Programa de Pós-Graduação em Educação - Doutorado
Disciplina: Correntes Modernas da Filosofia da Ciência
Professor: André Haguette

"Cinco sentidos"
Andréa Havt

Você entraria em um site somente para se perder nele? Esta é a pergunta de abertura do nosso labirinto na internet. Trocando site por mundo, ou qualquer outro espaço, surge o convite para uma dança, não vista apenas nas tentativas de harmonia com um par, ou seguindo a cadência de uma música, mas também pelos desenhos que nossos pés traçam no chão enquanto inventam passos.

No Dicionário dos Mitos Literários, de onde retiro todas as citações para este texto, vê-se que, ao longo da história, a literatura atribuiu cinco sentidos mais gerais para este perder-se no labirinto. Eles são apresentados na forma de tensões fundamentais que permitem reflexões diversas sobre o conhecimento e a educação.

O uno e o múltiplo. "Pensar é entrar no labirinto". Conhecer é inventar percursos. É perambular por encontros com coisas e com pessoas. O caminho a percorrer é único para cada ser, mas se faz de escolhas entre vários rumos e não somente numa bifurcação entre certo e errado. Não é como uma praça com jardins em que as calçadas são colocadas para determinar os lugares por onde se pode andar, mas como jardins por onde o próprio andar desenha trilhas que viram calçadas, marcando os lugares por onde se preferiu andar. "O labirinto é labirinto em movimento, 'em ato'", em interminável construção.

O horizontal e o vertical. "Diz-se labirinto porque dentro é um sofrimento". Educação é a salvação. Atravessar o inferno como prova para chegar ao céu. O mundo já está perdido e não convém deixar para arrepender-se depois. Melhor não desviar do caminho: família, escola, trabalho. Mas que família, que escola, que trabalho? Por que família, escola e trabalho. Por que tem de ser inferno e céu? Por que dever ser e não realizar? Por que não descobrir e só copiar? Por que não água para fluir, fogo para experimentar, terra para saltar do alto de uma montanha e jogar-se ao ar para inspirar?

O exterior e o interior. "O labirinto é um local maravilhoso que permite a descoberta de uma verdade". Do sagrado passa-se ao profano. Ao exterior junta-se o subjetivo e o labirinto transforma-se em projeção do próprio ser. Conhecer é conhecer-se, é a possibilidade de ser revelado a partir do outro. O labirinto externo é representação das armadilhas que se usa para colocar as sombras, o que há de não domesticado no próprio ser. Educar pode ser ato de amor, no sentido de permitir a cada um descobrir-se. Ou, ao contrário, no sentido de transformar o outro em espelho.

A realidade e a aparência. "Basta cessarmos de crer, para que a realidade se torne muito problemática. Se nos retirarmos do círculo da crença, entramos na série infinita das perguntas". Aqui se põe a decisão do que fazer com o real; de como lidar com a complexidade do mundo que muda com o tempo e são mundos nos espaços. Simplificar é o contrário de argumentar? Argumentar é o mesmo que encarar essa complexidade? O que é ser didático? Como permitir as descobertas? O real se impõe? Ou se impõe um real? Conhecer é saber-se conhecendo, imaginando que o mundo é mundo. Educar é tornar outros mundos presentes, é dar vida a outras imaginações.

O finito e o infinito. "Esse gosto pela auto-análise, essa tentação do descaminho, marcam uma acentuação do individualismo e do egocentrismo, ao mesmo tempo que um apagar do princípio garantidor e organizador do mundo". O normal brinca com os possíveis e a busca de um sentido único do mundo vira miragem com que não se consegue deixar de sonhar. O revelado, o seguro, é aconchego e prisão; a liberdade permite a errância mas desorienta na imagem das grandes cidades. Briga-se com o poder sem deixar de esperar que ele dê respostas. Conhecer é arriscar, educar exige confiança e desprendimento. Trocar é maior que dar e receber. O labirinto permite experimentar "uma pluralidade vertiginosa de possíveis".

 

Fonte: http://www.patio.com.br/labirinto