Universidade Federal do Ceará
Programa de Pós-Graduação em Educação - Doutorado
Disciplina: Correntes Modernas da Filosofia da Ciência
Professor: André Haguette
15.junho.2000

Princípios de ética universal - 1 a 5
Eduardo Loureiro Jr.

1. (Amar a Deus sobre todas as coisas.) Supõem os físicos contemporâneos que de tudo que constitui o universo apenas dez por cento é feito daquilo que chamamos matéria. Todo o restante é feito de algo que se define negativamente por antimatéria. O olho do homem serve de fotografia ao invisível, como o ouvido serve de eco ao silêncio (Machado de Assis). O mundo, e sua realidade, existe de fato, mas para vê-lo, e relacionarmo-nos com ele, é preciso imaginá-lo. O universo que habitamos é criado pelos nossos próprios desejos e ações (Dalai Lama). O essencial é invisível aos olhos (Antoine de Saint-Exupéry). Há mais coisas entre o céu e a terra do que supõe nossa vã filosofia (William Shakespeare). Isso é para aprendermos a amar o mistério (Eduardo Galeano). Dentro da luz, há escuridão, mas não tente entender essa escuridão (Shih-t'ou Hsi-ch'ien).

2. (Não pronunciar o nome de Deus em vão.) Estamos terminando o mapeamento do espaço terrestre. Nosso século, que levou adiante a globalização, proporcionou também o totalitarismo. Mas como ser total se o todo é antimatéria e mistério? Como saber o total se as verdades que vamos aprendendo, em nossa longa e talvez infindável iniciação, são, ainda que opostas, a mesma verdade, que desconhecemos? (Fernando Pessoa) Algumas pessoas, quando ouvem um eco, pensam que deram origem ao som (Ernest Hemingway). Como justificar a ação de um indivíduo, ou de um grupo, em oposição a outros indivíduos e outros grupos, se não temos o domínio sobre a conseqüência última de todas as ações? Os dois surgem por causa do um, mas também não se agarre ao um; as dez mil coisas ficam sem ofensa (Sent-ts'na). Como evocar o nome do todo em vãos, galerias e corredores estreitos de nossa vida e conhecimento?

3. (Santificar o sábado.) Existe o dia e a noite. As estações se alternam entre viço e decadência, sempre belas. Pense pela manhã, aja ao meio dia, coma à tarde, durma à noite (William Blake). A cada cinqüenta minutos de atividade e concentração, dizem os especialistas, devem se seguir outros dez minutos de repouso, descontração e relaxamento. Atividades contínuas, sem interrupção, tendem ao estresse. Lesões por esforços repetitivos parecem atingir não só as articulações dos ossos, mas articulações interpessoais, relações afetivas e sociais. Há duas maneiras de chegar ao alto de um carvalho: podemos subir nele ou sentar em cima de uma semente (Frank Brown). Cobra que não anda não engole sapo. O sábio não persegue objetivos, mas os tolos, por si mesmos, se metem no cativeiro.

4. (Honrar pai e mãe.) Recebemos de nossos pais, daqueles que nos geraram, não só uma herança genética, mas também um legado moral e onírico. A família é uma espécie de destino ao qual é impossível escapar (Luchino Visconti). No relacionamento entre pai e mãe, pode haver predomínio de um ou outro, anulação de um pelo outro, ou desenvolvimento e aperfeiçoamento dos dois. Um filho é uma expressão somática do ideal de perfeição dos pais. Quem sai aos seus não degenera. Voltando à raiz, obtém-se o significado (Sent-ts'an). Mas é preciso largar pai e mãe para se tornar pai-e-mãe. A verdade é que a gente não faz filhos, só faz o layout, eles mesmos fazem a arte-final (Luis Fernando Verissimo).

5. (Não matar.) Mata-se o que é vivo. Vivos são os animais e as plantas. Se a galinha é um ser vivo, por que é que a gente come? (João dos Santos). E as alfaces, cenouras, cebolas, beterrabas, macaxeiras, canas de açúcar, etc., as demais coisas, quer dizer, os demais seres vivos? Os seres vivos comem uns aos outros. Carnívoros, herbívoros, vegetarianos... Podemos nos alimentar só de coisas mortas? Necrófagos... A morte é como um viajante cansado voltando para casa; não é melhor para todos morrer seguindo a ordem natural? (Tsai Chih Chung) O que mais importa não é viver, mas viver bem (Platão). Se nada se perde, tudo se transforma (Lavoisier), quem mata não mata, mas transforma?

 

Fonte: http://www.patio.com.br/labirinto